Atual secretário da Saúde de Maringá, Clóvis Augusto Melo visitou a Redação do Maringá Post e contou a sua trajetória profissional. Sobre ser prefeito de Maringá, ele diz não bastar querer, é preciso construir a candidatura.
Por Wilame Prado
Os obstáculos e a eficiência fazem a trajetória profissional de Clóvis Augusto Melo (PSD), de 53 anos, um tanto curiosa. Atual secretário de Saúde de Maringá, radicado na cidade há quase 20 anos, é jornalista de formação, mas passou por várias áreas do conhecimento, além da Comunicação e Gestão Pública. Mas o seu sonho de infância era a área militar, que a miopia impediu.
“Tá vendo esse broche aqui? É da Associação de ex-Alunos do Colégio Militar. Eu entrei no colégio aos 10 anos, e escrevia no meu caderninho desde garoto todas as etapas que eu venceria na carreira militar, desde as promoções até os cursos que faria – Montanha, Paraquedismo, Forças Especiais… Mas o problema com a miopia impediu. E, então, por sempre gostar de ler e escrever desde muito pequeno, fui para o Jornalismo. Mas o que eu queria mesmo naquela época era ser o Rambo (risos)”, contou o secretário municipal durante entrevista exclusiva, em visita ao Maringá Post na manhã de sexta-feira (4).
Sobre os “obstáculos”, muitos perguntam como um jornalista de formação e atuação de décadas em redações de jornais veio a se tornar secretário de Saúde no terceiro maior município do Paraná. Outro broche fixado no paletó talvez possa explicar que, na verdade, nada é por acaso: o botton do Zé Gotinha na lapela do gestor público demonstra uma de suas características, que é a de vestir e suar a camisa da empresa onde está trabalhando.
A “empresa” da vez é a Prefeitura de Maringá. E Clóvis (eu o chamo pelo primeiro nome porque o conheço há décadas, já que foi meu chefe no extinto jornal O Diário do Norte do Norte do Paraná) encarou como uma guerra o desafio da gestão pública.
Ao lado do prefeito Ulisses Maia, ele já passou por seis secretarias no Executivo – Comunicação, Gestão, RH, AMR, Gabinete e Saúde, seguindo firme como um soldado fiel ao comandante e usando como armas o diálogo, a humildade, a conscientização e o respeito. “No momento, a maior das batalhas realmente é na Saúde”, afirma.
Se missão dada é missão cumprida, Clóvis reconhece a complexidade que é resolver as questões envolvendo a pasta da Saúde de um município. Mas as dificuldades não reduzem a sua coragem de enfrentar e resolver problemas.
Há um ano e meio como secretário, ele não chegou a enfrentar as maiores crises da pandemia de covid-19, mas tem, nos últimos 18 meses, lutado contra a fila das consultas e cirurgias eletivas (uma das heranças da pandemia) e sente na pele o clamor da população, que pede a inauguração do já anunciado e postergado Hospital da Criança de Maringá.
No bate-papo na Redação do Maringá Post, que contou com a participação dos amigos do secretário de outros tempos – com Ronaldo Nezo, com quem dividiu a Redação da Band, e o diretor comercial João Rafael Garcia, que esteve com ele no jornal O Diário -, Clóvis comentou sobre algumas batalhas cujas vitórias foram alcançadas.
“Diminuímos a fila de espera nas UPAs, que chegava a até 12 horas em alguns dias, para 2 horas, em média, inclusive na ala pediátrica. Tem dias da semana que atendemos em 15 minutos”.
Em relação à dengue, “tivemos um dos melhores resultados em todo o estado neste ano epidemiológico, graças a um grande trabalho em equipe e a colaboração dos maringaenses”, relata.
“Fizemos vários mutirões, um deles com mais de 700 servidores, além de um trabalho intenso de conscientização e mobilização da população, já que pelo menos 50% dos criadouros do mosquito estão no lixo doméstico. Infelizmente tivemos um óbito por dengue no ciclo epidemiológico, fechado agora em julho. É muito triste para um secretário de Saúde ter que relatar uma morte que seja, ainda mais quando acontece por causas evitáveis”, lamenta Clóvis.
MARINGÁ POST – Pretende voltar para o jornalismo ou quer ser prefeito de Maringá?
CLÓVIS AUGUSTO MELO – Não basta querer ser prefeito, é preciso construir uma situação de viabilidade de candidatura, na verdade de pré-candidatura. É fundamental observar o cenário e construir, avaliar se será o momento para isso, porque o desafio que tenho na Saúde é imenso. No início, fiquei surpreso quando comentaram comigo dessa possibilidade. Mas logo depois, me senti muito honrado, pois percebo isso como uma forma de reconhecimento.
E ser secretário de Saúde, esperava por isso?
Não esperava. Assumi como interino, fiquei três meses e fui surpreendido com o anúncio do prefeito me efetivando como secretário de Saúde. É o maior desafio da minha vida até agora. Também percebi que não se trata de ser médico, engenheiro ou jornalista: é preciso saber de gestão e de gerenciamento de equipes, e isso eu pude praticar muito em meus trabalhos anteriores e na Administração, principalmente como Secretário de Gestão e de RH e no período em que substituí o Domingos Trevizan como Chefe de Gabinete. É fundamental ter humildade, aprendo sempre com o nosso time da Saúde, fazemos a tomada de decisões em conjunto. E Maringá é privilegiada por ter servidoras e servidores de altíssimo nível. Sem o apoio, o conhecimento e o comprometimento deles, nada disso seria possível.
Uma aspiração do jornalismo é mudar o mundo. Atuar como secretário de Saúde é poder mudar na prática a vida das pessoas. Como você se sente com isso?
É gratificante, com uma responsabilidade gigantesca. A fila por consultas, exames e cirurgias eletivas é algo que angustia, um problema agravado na pandemia e que afetou todo o País, tanto na esfera pública quanto privada. É importante dizer que a fila nunca zera, sempre haverá pessoas necessitando, por exemplo, de cirurgias eletivas, que são aquelas que podem ser agendadas, que não são urgentes. Hoje reduzimos de 12 mil para 10 mil o número desta fila. Entretanto, preocupa o índice de 20% de absenteísmo em consultas e exames eletivos – as pessoas são contactadas, confirmam e no dia marcado não comparecem. Isso prejudica as pessoas que aguardam na fila e o nosso cronograma de atendimento.
Você acredita ser possível inaugurar o Hospital da Criança ainda este ano?Uma coisa que eu aprendi na gestão pública é não propor prazos fechados, mas trabalhar com estimativas, pois muita coisa pode acontecer, várias delas independendo da ação ou vontade do poder público. De qualquer forma, o Município garantiu sua contrapartida, e o Estado também. A tratativa com a União precisou recomeçar com a mudança de governo.
O hospital está em Maringá, mas não é só de responsabilidade do município, pois o SUS é tripartite – União, Estado e município trabalham juntos. Mas estamos otimistas, tivemos boas reuniões em Brasília. Trata-se de uma obra de grande complexidade e que tornará Maringá uma referência nacional no tratamento de câncer e de doenças raras. Teremos pacientes de diversos Estados recebendo tratamento em nosso município, e isso vai contribuir para mantermos um hospital de referência, o que beneficiará toda nossa população. No que depender da nossa equipe, posso garantir que estamos trabalhando com afinco para colocá-lo para funcionar o quanto antes.
E o Rambo, como fica nessa história?
Na época, lá em meados da década de 1980, era só um sonho de criança. É normal buscar inspiração em um herói e, para um aluno do colégio militar, era a escolha mais óbvia, um guerreiro invencível.
A maturidade veio e percebi que o que eu admirava naquele personagem e que é a matéria-prima da formação de quase todo herói é o foco, a resiliência, a defesa de um ideal e a coragem para enfrentar desafios. E, claro, o comprometimento.
Veja, no primeiro ano do Colégio Militar, os alunos fazem um juramento que envolve, entre outras coisas, o compromisso com a honestidade e os valores morais. Quando saímos, fazemos outro, nos comprometendo a sermos cidadãos dignos e honrados e conservarmos sempre a fé nos destinos do Brasil. O sonho de ser o Rambo ficou lá nos anos 80. Mas os compromissos que assumi naquele tempo continuam valendo.
Fotos: Marquinhos Oliveira (CMM), Maringá Post e Arquivo pessoal
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