Em entrevista ao Maringá Post, o deputado estadual falou sobre a trajetória política. Ele admite que quase desistiu da vida pública após perder o mandato, em 2021, mas destacou a ‘volta por cima’ e o bom diálogo que construiu com as lideranças locais pensando em 2024.
Por Victor Ramalho
De vereador em primeiro mandato a deputado estadual e, depois disso, de uma perda de mandato a reeleição como o parlamentar mais votado de Maringá. A trajetória política do ex-policial militar Paulo Rogério do Carmo, embora curta, já é cheia de reviravoltas, momentos de frustração e, por fim, a volta por cima.
Há 5 anos, o maringaense adotou Curitiba como sua nova casa, por conta das atividades na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Mesmo assim, ele não se afasta da Cidade Canção, onde tem família, amigos e um escritório político, para atender as demandas da população. De 2022 para cá, também estreitou os laços com municípios da região, se tornando uma figura demandada pelos prefeitos.
Em entrevista ao Maringá Post, Do Carmo (União Brasil) falou sobre a vida como parlamentar, o ingresso na vida pública, comentou o período em que ficou afastado da Assembleia e também deu pistas sobre 2024, uma vez que é apontado como pré-candidato a prefeito.
Do Carmo conta que virar político nunca foi algo que passou por sua cabeça. A mãe, funcionária pública de carreira, sempre tentou encorajá-lo nesse sentido, por conta da proximidade que tinha com figuras políticas da cidade. O start veio em 2016, após um convite do Partido da República (PR), atual Partido Liberal (PL), para integrar a chapa de candidatos a vereadores.
“A minha mãe é funcionária pública concursada, hoje aposentada e ela sempre teve uma afinidade muito grande com a política, embora nunca tenha exercido cargos políticos. Ela dizia para a gente que a política era a única forma de mudar o mundo. Eu, particularmente, era um pouco distante desse mundo, fiz carreira na Polícia Militar e, por meio da minha mãe, tive a oportunidade de conhecer alguns personagens da política local, o que me fez acompanhar mais de perto”, disse.
Do convite inesperado, surgiu o 4º vereador mais votado de Maringá em 2016, com 4.180 votos. “Foi um daqueles convites que as pessoas fazem e não temos como recusar, por conta da proximidade, da amizade. Assim começou a nossa trajetória política”, conta.
Em 2018, o então vereador viria a se juntar ao Partido Social Liberal (PSL), à época legenda do candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Como candidato a deputado estadual naquele ano, Do Carmo foi eleito com pouco mais de 17 mil votos. O PSL, na época, conseguiu formar a maior bancada da Assembleia Legislativa. Mesmo assim, a desconfiança por parte dos colegas de Alep existia.
“Chegamos em Curitiba com uma desconfiança muito grande, pois as pessoas não têm dimensão que você está ali porque 17 mil pessoas te elegeram, te escolheram, apenas atribuem que você foi puxado pela legenda. Conseguimos rodar o Paraná, acabei virando líder do Partido na Alep, que na época era o maior partido do Brasil, participamos das mesas de negociação para a formação da base do governo Ratinho Junior. No meio disso, também concorri a vice-presidência da Assembleia, foi um fato inédito um negro e em primeiro mandato participar da mesa diretiva”, relembra o deputado.
A perda de mandato e a quase desistência da Política
Enquanto buscava espaço em Curitiba e já com avanços significativos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia marcado o julgamento, em 2021, do colega de partido de Do Carmo, Fernando Francischini (União Brasil). Em 2020, durante as eleições municipais, o ex-secretário de Segurança Pública do Paraná foi acusado pela corte de propagar informações falsas sobre as urnas eletrônicas nas redes sociais. Francischini foi pré-candidato a prefeito de Curitiba naquele ano.
Em 28 de outubro, o TSE determinou a cassação de mandato de Fernando, que havia sido eleito para a Alep em 2018 com mais de 428 mil votos. No entanto, uma outra decisão do tribunal – a de anular os votos recebidos pelo delegado -, atingiu diretamente Do Carmo, pois fez o PSL perder 4 cadeiras em Curitiba, entre elas a do maringaense.
“Eu estava em Curitiba, Francischini seria julgado, mas eu me lembro que estávamos bem tranquilos, apesar de preocupados com o amigo. Estávamos tranquilos pois a legislação nos respaldava no sentido de, mesmo com a perda de mandato, os votos permaneceriam na legenda. Mas, sabemos que foi um julgamento estreitamente político e o que importava era dizer que foi cassado um deputado bolsonarista com quase meio milhão de votos”, relata Do Carmo.
Durante a entrevista, o deputado maringaense confessou que, naquele momento, pensou em desistir da política. “Foi um baque, confesso que voltei para Maringá pensando em encerrar (a trejetória política). Na minha cabeça, Deus já havia me dado mais do que eu merecia, tive a chance de ser vereador da 3ª maior cidade do Paraná, virar deputado estadual e eu estava satisfeito com a minha caminhada. Se parasse por ali, não lamentaria. Mas, no sábado seguinte que tomei essa decisão (de encerrar a carreira política), eu estava me preparando para comunicar as bases aliadas, eu recebo uma ligação de meu escritório. Eram cerca de mil pessoas, entre apoiadores, servidores públicos, pessoas que colaboraram na campanha dizendo que eu deveria continuar e que eles me apoiariam novamente. Aquilo me deu combustível para continuar”, disse.
A decisão do TSE foi revista pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2022, devolvendo a cadeira ao parlamentar que, meses depois, seria reeleito para o segundo mandato com mais de 56 mil votos, quase o triplo do registrado em 2018, o que fizeram de Do Carmo o deputado estadual mais votado de Maringá.
“Era óbvio que a desconfiança iria voltar, com toda a questão da cassação do Francischini, eu teria que explicar para as pessoas que eu não tinha nada haver com aquilo e que, formalmente, nem cassado eu fui. Mas graças a Deus, pela forma com que trabalhamos, nós tivemos êxito em retornar para Curitiba, fazendo essa votação expressiva em 2022”, conta.
“Estamos escutando o chamado por algo novo em Maringá”
Bastante especulado nos bastidores como pré-candidato a Prefeito de Maringá em 2024, Do Carmo falou sobre o assunto abertamente. Segundo ele, hoje o diálogo é muito bom com todas as lideranças da cidade, mas ele destaca a parceria com o colega de Alep, Delegado Jacovós (PL).
De acordo com o deputado, ele não descarta uma candidatura ao Paço Municipal, se isso for um desejo das pessoas e também do partido. Ele avalia que as pessoas buscam por algo novo na política. “Tenho uma relação muito próxima com o Delegado Jacovós, meu amigo de bancada e presidente municipal do PL. O PL é o maior partido do Brasil hoje, enquanto o União Brasil é o terceiro. Nós estamos escutando um chamado do povo de Maringá por algo novo na política. Respeito todos os prefeitos que já passaram por Maringá, cada um teve contribuições valiosas. Silvio Barros, por exemplo, foi fundamental na questão da infraestrutura da cidade, enquanto o Ulisses tem esse olhar mais social. Mas, acho que chegou a hora de algo que possa unir essas duas coisas, cuidar da cidade e cuidar das pessoas”, diz.
Confira outros trecho da entrevista com o deputado estadual Do Carmo (União Brasil) na íntegra:
- Para as pessoas te conhecerem melhor: o que te motivou a entrar na vida pública?
R: “A minha mãe é funcionária pública concursada, hoje aposentada e ela sempre teve uma afinidade muito grande com a política, embora nunca tenha exercido cargos políticos. Ela dizia para a gente que a política era a única forma de mudar o mundo. Eu, particularmente, era um pouco distante desse mundo, fiz carreira na Polícia Militar e, por meio da minha mãe, tive a oportunidade de conhecer alguns personagens da política local, o que me fez acompanhar mais de perto. Em 2016, o PR (Partido da República) precisava completar uma chapa, fui convidado para concorrer e, logo de cara, fui eleito com o 4º vereador mais votado de Maringá, com 4.180 votos, assim começamos a nossa trajetória. Foi um daqueles convites que as pessoas fazem e não temos como recusar, por conta da proximidade, da amizade.”
- Houve o episódio da perda da vaga, ainda no mandato passado, por toda a questão envolvendo o Delegado Francischini. Você não teve envolvimento, mas foi atingido. Como foi para você aquele momento? Pensou em desistir da vida pública?
R: “Foi um baque, confesso que voltei para Maringá pensando em encerrar (a trejetória política). Na minha cabeça, Deus já havia me dado mais do que eu merecia, tive a chance de ser vereador da 3ª maior cidade do Paraná, virar deputado estadual e eu estava satisfeito com a minha caminhada. Se parasse por ali, não lamentaria. Mas, no sábado seguinte que tomei essa decisão (de encerrar a carreira política), eu estava me preparando para comunicar as bases aliadas, eu recebo uma ligação de meu escritório. Eram cerca de mil pessoas, entre apoiadores, servidores públicos, pessoas que colaboraram na campanha dizendo que eu deveria continuar e que eles me apoiariam novamente. Aquilo me deu combustível para continuar. Era óbvio que a desconfiança iria voltar, com toda a questão da cassação do Francischini, eu teria que explicar para as pessoas que eu não tinha nada haver com aquilo e que, formalmente, nem cassado eu fui. Mas graças a Deus, pela forma com que trabalhamos, nós tivemos êxito em retornar para Curitiba, fazendo essa votação expressiva em 2022”.
- Nesses anos de atuação na Alep, qual projeto você se orgulha mais de ter realizado?
R: “Quando eu faço um projeto, me coloco na situação de esse projeto vai ser usual ou não para a população. Temos muitos projetos simples que vão de encontro com a cidade. Tivemos, por exemplo, um projeto que ajudou a combater a importunação sexual de mulheres dentro do transporte público intermunicipal. Graças a ele, hoje as mulheres precisam ser avisadas sobre as pessoas que irão ao seu lado na viagem. Temos mais de 30 projetos de lei sugeridos, como por exemplo o das hortas comunitárias, que em Maringá funciona muito bem e queremos expandir, pois sabemos de cidades com espaços ociosos.”
- Tem algo que você ainda não fez e gostaria de fazer enquanto deputado estadual?
R: “Na minha atuação como vereador, fiquei muito próximo das mães e tocado pela pauta do autismo. Claro que existem outros parlamentares que já têm uma atuação prévia nessa área, mas queremos nos somar a isso. Gostaria também de ter uma atuação mais próxima na questão dos planos de saúde particulares, pois recebemos reclamações de pessoas que pagam por anos e, na hora de usar, têm seus direitos neglicenciados. Queremos usar isso para resguardar os direitos das mães de crianças autistas.”
- Como você classifica seu diálogo com as demais lideranças maringaenses e quais os planos para 2024? Será candidato a prefeito de Maringá?
R: “Nós temos bom trânsito com todos os políticos e respeitamos muito a vontade do povo. Claro que existem os posicionamentos diferentes, mas todos buscamos o mesmo objetivo, que é o bem comum. Tenho uma relação muito próxima com o Delegado Jacovós, meu amigo de bancada e presidente municipal do PL. O PL é o maior partido do Brasil hoje, enquanto o União Brasil é o terceiro. Nós estamos escutando um chamado do povo de Maringá por algo novo na política. Respeito todos os prefeitos que já passaram por Maringá, cada um teve contribuições valiosas. Silvio Barros, por exemplo, foi fundamental na questão da infraestrutura da cidade, enquanto o Ulisses tem esse olhar mais social. Mas, acho que chegou a hora de algo que possa unir essas duas coisas, cuidar da cidade e cuidar das pessoas. Tenho um mandato a ser cumprido, tenho um compromisso com os municípios, mas não posso me furtar desse dever, caso seja um desejo do meu partido, uma posição do povo de Maringá. Não é a gente que se coloca candidato, são as pessoas que nos convocam. Se essa voz ecoar, estaremos sempre prontos. Nasci aqui, amo essa cidade, não posso me privar desse chamado de Deus para cuidar do povo de Maringá”.
Foto: Orlando Kissner/Alep
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