De perfil técnico, mas com atuação em várias frentes: Sidnei Telles faz avaliação do mandato e diz que ‘seria uma honra’ ser prefeito de Maringá

No segundo mandato no legislativo, o parlamentar se destacou pela atuação em comissões importantes, como a CCJ. Em entrevista ao Maringá Post, ele falou sobre a vida pública e fez sua avaliação dos governos Municipal, Estadual e Federal.

  • No segundo mandato no legislativo, o parlamentar se destacou pela atuação em comissões importantes, como a CCJ. Em entrevista ao Maringá Post, ele falou sobre a vida pública e fez sua avaliação dos governos Municipal, Estadual e Federal.

    Por Victor Ramalho

    Ele não faz o perfil ‘midiático’ e, até o primeiro mandato, pelo menos, aparecia pouco nas redes sociais e não dava entrevistas com a mesma frequência que outros personagens que despontaram na política estadual e nacional nos últimos anos. No entanto, faz o que os analistas políticos chamariam de “lição de casa” dentro de um poder legislativo, envolvido na parte técnica da tramitação dos projetos.

    Estamos falando de Sidnei Telles (Avante), vereador em segundo mandato e atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara de Maringá. Engenheiro Civil de formação, ele têm atuado principalmente nas pautas e discussões que envolvem o setor da Construção Civil e do Planejamento Urbano da cidade. Na terça-feira (27), por exemplo, irá promover uma audiência pública para discutir as mudanças no zoneamento de algumas regiões de Maringá, discussão que estará presente na revisão do Plano Diretor no 2º semestre.

    Apesar disso, ele evita se rotular como ‘vereador da causa X ou Y’. Até existem os assuntos que o parlamentar tem mais familiaridade, mas como ele mesmo se descreve, gosta de estar envolvido em todas as discussões possíveis. “É assim que tenho pautado minha atuação política, muito mais preocupado em participar de todos os projetos do que propriamente em ter um único projeto para dizer “esse aqui é o meu”. Uma coisa que eu me orgulho é de ter trazido esse olhar para o urbanismo”, disse.

    Telles é o primeiro convidado do Maringá Post para uma série de entrevistas com os vereadores da Cidade Canção. Cada domingo, um personagem diferente será entrevistado pela nossa equipe. A ordem das entrevistas é definida de acordo com a disponibilidade de cada parlamentar.

    Na conversa, ele falou sobre seu começo na vida pública, fez uma avaliação do mandato – das realizações que se orgulha e também do que ainda pretende fazer -, além de dar sua visão sobre os governos municipal, estadual e federal.

    De acordo com Sidnei Telles, o que ele mais se orgulha de ter feito enquanto vereador foi ter dado luz para a importância do planejamento urbano e também da busca pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU).

    “Meu slogan no primeiro mandato era “cidade boa é cidade que se planeja”. Foi com isso que levamos o prefeito a tornar o Ipplam uma realidade, e depois minha decisão de investir mais no meio ambiente, também fez com que os projetos que a Prefeitura enviou, que eram de iniciativa do Executivo, mas tinham o nosso olhar sobre a cidade, puderam fazer de Maringá essa cidade que é muito premiada, tanto na área do planejamento quanto do meio ambiente. Essa luta pelas ODSs não se resumem a um projeto e sim a vários. Soma-se a isso meus projetos de cunho social, uma vez que venho historicamente da base das Organizações não governamentais, aquelas que lutam pelos menos favorecidos, a partir de uma militância dentro da Igreja Católica”, disse.

    Na metade do segundo mandato, ele lamenta ainda não ter conseguido trazer para o plenário outras discussões que considera importantes, principalmente no setor da educação. Atualmente, Sidnei é o presidente da Comissão Extraordinária da Educação da Câmara de Maringá. Ele reforça, no entanto, que são medidas que ainda podem ser debatidas.

    “O que mais sinto falta ainda é uma atuação na educação, podendo proporcionar escolas integrais para todas as nossas crianças, com transporte público gratuito para todas as crianças, pegando em casa, um sistema que deu muito certo em outros países e que continua dando certo ainda, cuidando muito bem dessas crianças que irão se tornar maringaenses e que poderão fazer uma cidade ainda melhor do que ela já é”, afirmou.

    Telles classifica o diálogo entre a Câmara e o poder Executivo como produtivo e, inclusive, fez elogios ao prefeito Ulisses Maia (PSD) sobre o tema. Ele afirma que a relação respeitosa permite que o legislativo se una, de forma quase unânime, na maioria dos projetos encaminhados pela Prefeitura.

    “A relação da Câmara com o Executivo é muito boa. Vale lembrar que o prefeito anterior sequer foi alguma vez na Câmara, enquanto o atual tem um respeito muito grande pelo serviço prestado pela Câmara de Vereadores, isso traz uma relação muito positiva, não só com a sua base, mas também a favor dos projetos que são bons para todos. Veja que grande parte dos projetos tem apoio unânime, ainda que alguns vereadores fazem críticas ásperas ao prefeito”, relata.

    Sobre o futuro, o parlamentar disse que pauta sua atuação política da mesma forma que planeja a vida profissional. Sem confirmar se será candidato no ano que vem, ele diz que seria uma ‘honra’ um dia ser prefeito de Maringá. “Eu olho para o futuro dentro da minha visão de construção. Quero estar sempre com um grupo que pensa a cidade e planeja a cidade. Se neste grupo tivermos um candidato que possa colocar esse projeto em construção e, caso esse candidato seja eu, me sentirei muito honrado e em poder exercer essa função. Claro que, para poder fazer a gestão de uma cidade como prefeito, precisaria ter uma estrutura partidária e financeira. Todo planejamento exige passar por esses aspectos. Certamente, gostaria muito de poder cuidar dessa cidade, ser prefeito dessa cidade que eu amo tanto”, declarou.

    Veja abaixo a entrevista completa com o vereador Sidnei Telles (Avante):

    • O que motivou o senhor a se candidatar a vereador pela primeira vez, lá em 2016?

    R: “Estive envolvido na luta por um mundo melhor desde muito jovem e essa luta nos levou até a Política. E depois de participar de muitas eleições para deputado, vice-prefeito, o nosso grupo considerou importante fazermos uma intervenção municipal e iluminar a política com nossos valores, principalmente porque era um momento de mudança e que exigia pessoas que se comprometessem com o município. Foi nesse intuito que me candidatei e obtivemos uma eleição com uma votação expressiva, sendo o mais votado do partido e elegendo dois vereadores”.

    • Passados dois mandatos e meio, que avaliação faz do próprio trabalho? Tem algum projeto do qual se orgulha mais?

    R: “Eu sou um vereador muito dedicado e que procura estar muito próximo da população, para ouvir as necessidades e anseios, mas também com um olhar muito técnico, ciente de que muitas transformações demoram para chegar na vida das pessoas, mas que elas precisam ser realizadas, mesmo que seja a custa de não ser o mais popular. Então, em meu mandato eu tenho uma preocupação muito grande em discutir as questões da cidade, a participar de todas as áreas, estudar e ter um envolvimento profundo com todas as causas. É assim que tenho pautado minha atuação política, muito mais preocupado em participar de todos os projetos do que propriamente em ter um único projeto para dizer “esse aqui é o meu”. Uma coisa que eu me orgulho é de ter trazido esse olhar para o urbanismo. Meu slogan no primeiro mandato era “cidade boa é cidade que se planeja”. Foi com isso que levamos o prefeito a tornar o Ipplam uma realidade, e depois minha decisão de investir mais no meio ambiente, também fez com que os projetos que a Prefeitura enviou, que eram de iniciativa do Executivo, mas tinham o nosso olhar sobre a cidade, puderam fazer de Maringá essa cidade que é muito premiada, tanto na área do planejamento quanto do meio ambiente. Essa luta pelas ODSs não se resumem a um projeto e sim a vários. Soma-se a isso meus projetos de cunho social, uma vez que venho historicamente da base das Organizações não governamentais, aquelas que lutam pelos menos favorecidos, a partir de uma militância dentro da Igreja Católica”.

    • Tem algo que o senhor gostaria de ter feito enquanto vereador e ainda não teve a oportunidade? Ou alguma pauta que tentou colocar em discussão e, por algum motivo, não caminhou?

    R: “Certamente tem várias ações que eu gostaria de ter tido a oportunidade de realizar e ainda não realizei, principalmente no que diz respeito ao foco do investimento em questões que estão envolvidas ao ser humano, como ter professores de educação física em nossos centro esportivos, cuidando de nossas crianças, atividades para a terceira idade, mas de forma ampla e inclusiva, tornando nossa cidade viva e pulsante. Mas também definir melhor os investimentos, procurando trazer Saúde a partir da base. O que mais sinto falta ainda é uma atuação na educação, podendo proporcionar escolas integrais para todas as nossas crianças, com transporte público gratuito para todas as crianças, pegando em casa, um sistema que deu muito certo em outros países e que continua dando certo ainda, cuidando muito bem dessas crianças que irão se tornar maringaenses e que poderão fazer uma cidade ainda melhor do que ela já é”.

    • Como o senhor classifica a relação da Câmara com o Executivo? E a sua em particular com a Prefeitura?

    R: “A relação da Câmara com o Executivo é muito boa. Vale lembrar que o prefeito anterior sequer foi alguma vez na Câmara, enquanto o atual tem um respeito muito grande pelo serviço prestado pela Câmara de Vereadores, isso traz uma relação muito positiva, não só com a sua base, mas também a favor dos projetos que são bons para todos. Veja que grande parte dos projetos tem apoio unânime, ainda que alguns vereadores fazem críticas ásperas ao prefeito. Eu evito levar a questão para o pessoal. Nós precisamos olhar para a cidade e para o aspecto institucional, então minha relação é bastante institucional com a Prefeitura e assim tenho esse reconhecimento e também o cuidado que a Prefeitura tem com minhas críticas ou posicionamento em alguns pontos contrários, pois ela reconhece que minha atuação é buscando o bem para todos”.

    • E a relação do senhor com demais organizações da sociedade civil (Acim, Codem, SRM e similares). É um diálogo produtivo para a cidade?

    R: “Eu sou um vereador, costumo dizer, classista, que gosta da participação das categorias. Por isso, estou sempre ligado aos sindicatos, seja dos trabalhadores ou empresários, Conselho de Desenvolvimento, Associação Comercial e também as academias, como a Universidade Estadual de Maringá, ao qual sou membro do conselho. Então minha participação com a Sociedade Civil Organizada é muito grande. Acredito que só ouvindo a sociedade poderemos fazer uma cidade próspera para todos. É só preciso tomar sempre o cuidado que não podemos estar ligados somente ao setor produtivo, mas ouvindo também aquele que está na base, trabalhando e gerando riqueza ao município”.

    • O senhor está sempre envolvido com os trabalhos mais técnicos da casa, presidindo comissões, vendo a questão jurídica da coisa, digamos assim. No entanto, sua formação primária é da Engenharia e não do Direito. De onde veio essa “habilidade”?

    R: “Realmente minha participação é bastante técnica. Participo de todas as comissões possíveis, presido a Comissão da Educação na Câmara, a CCJ, já presidi a Comissão de Orçamento, participei do Conselho de Direitos Humanos, tudo isso a gente faz com muita dedicação. Minha formação como engenheiro e na área de Planejamento, que é a que escolhi para atuar profissionalmente, me faz observar como fazer a gestão das coisas e, nesse ponto, me ajuda muito a poder participar, pois conseguimos ter uma dimensão de orçamento, de logística e de infraestrutura e de saber que não conseguimos chegar ao final de uma construção, por exemplo, sem ter um bom planejamento. Com isso, consigo suprir às vezes aquilo que me falta do conhecimento jurídico. Assim, consigo refazer a partir de uma boa assessoria e muita pesquisa. Certamente, também minha formação superior a universidade me ajudou nisso, fazendo as pós-graduações que trouxeram um conhecimento maior da questão legal, que acaba regendo as nossas ações”.

    • Para o futuro, quais são os seus planos políticos? Tem algum outro cargo ou função que gostaria de exercer?

    R: “Eu olho para o futuro dentro da minha visão de construção. Quero estar sempre com um grupo que pensa a cidade e planeja a cidade. Se neste grupo tivermos um candidato que possa colocar esse projeto em construção e, caso esse candidato seja eu, me sentirei muito honrado e em poder exercer essa função. Claro que, para poder fazer a gestão de uma cidade como prefeito, precisaria ter uma estrutura partidária e financeira. Todo planejamento exige passar por esses aspectos. Certamente, gostaria muito de poder cuidar dessa cidade, ser prefeito dessa cidade que eu amo tanto. Mas, fui candidato a deputado federal duas vezes, fiquei de suplente e conheço as exigências de nosso país e exerceria essa função com muito amor e carinho também”.

    • Qual avaliação o senhor faz da administração municipal em Maringá?

    R: “Maringá teve administrações, na minha opinião, muito boas. Mesmo aquelas duas que foram mais difíceis, como a do prefeito Jairo Gianoto, porque esteve envolvido em atos gravíssimos de corrupção e fraude com dinheiro público e, posteriormente, com o prefeito que precisou reconstruir tudo isso, sem certidões e em uma situação muito difícil e que, infelizmente, acabou morrendo antes de conseguir concluir o mandato, todas essas administrações fizeram Maringá avançar muito. Todas fizeram a diferença no que diz respeito a qualidade de vida e crescimento da cidade. A atual não foi diferente, avançou mais para o lado humano, o prefeito Ulisses Maia conseguiu levar os benefícios que a cidade sempre fez crescer para o maior número de pessoas da comunidade, levar o município para mais perto do povo. As praças melhoraram em todos os bairros, a coleta seletiva melhorou em todos os bairros, a educação foi para todos os bairros, então tivemos um avanço muito grande no que diz respeito a compartilhar a cidade com todos. Certamente faltaram grandes obras. Agora, no segundo mandato, cabe ao prefeito se dedicar com mais afinco. Sempre temos um risco de que no segundo mandato exista um relaxamento. Por isso, sempre defendi mandatos mais longos, mas sem reeleição, pois na eleição a tendência natural é esse relaxamento. Mas, estamos procurando ficar próximos do prefeito para que isso não venha a acontecer e a cidade possa cumprir a sua missão. No entanto, certamente um segundo mandato sempre nos traz mais preocupação”.

    • E avaliação dos Governos Estadual e Federal? Visto que tivemos troca de presidente recentemente.

    R: “Com relação ao Governo Estadual, eu apoiei muito o governador Ratinho Júnior, sua sensibilidade, seu cuidado no primeiro mandato, mas hoje me sinto profundamente decepcionado. Vejo que a educação do Estado é uma educação que se distancia da educação municipal. A grande maioria dos municípios tem uma educação de muita qualidade, a nossa aqui é excelente, mas quando chegamos na educação estadual, percebemos o impacto disso, o impacto para os nossos jovens, para o crescimento, falta segurança, então para mim é uma decepção muito grande. A Segurança do Estado foi delegada aos municípios, através das Guardas Municipais, adquiridas por prefeitos, ou seja, o Governo Estadual também não se faz presente nisso, não formou gerações de policiais que possam estar presentes e na ativa. Então, apesar do Estado ter crescido economicamente, não é um Estado que tem contribuído para a população viver melhor. Acho que o Governador precisa rever seus passos, suas equipes e, Maringá, particularmente, é uma cidade que o Governador pouco apreço parece ter, uma vez que as obras prometidas nunca chegam ou chegam tardiamente. Tenho uma visão crítica disso e também crítica de nossos representantes, pois não os vejo lutar pela nossa cidade e penso que eles deveriam ter uma decisão mais profunda em defesa de nossa região, de nosso povo, mesmo que isso não trouxesse benefícios para seus mandatos. Sobre o Governo Federal, penso que tivemos bons representantes como deputados, tivemos participações intensas e positivas em todos os Governos, seja de esquerda ou direita. Infelizmente, tivemos em Governos de esquerda problemas com corrupção, que levaram a população a escolher representantes de extrema direita, algo que não mudou o ramo, teve uma má conduta na pandemia, não soube manter as conquistas sociais que haviam ocorrido, perdeu a maioria delas e acabou se envolvendo em corrupção também. Penso que o novo Governo que foi eleito segue na mesma dimensão, do um contra o outro, e estamos perdendo o equilíbrio que é fundamental para reconstruirmos o nosso país. No entanto, como esse Governo ainda está muito no início e foi um Governo de coalizão, tenho a esperança de que ele seja um Governo equilibrado e de centro, como é preciso para o Brasil, na minha opinião.”

    Foto: Marquinhos Oliveira/CMM

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