Nesta sexta-feira (19/6) tem o lançamento do Movimento Mais Mulheres no Poder em Maringá. O movimento suprapartidário é resultado da união de pré-candidatas a vereadora que estão criando uma rede de apoio,
A programação de lançamento segue até 7 de julho. Na quarta-feira (24/6) vai ter uma live para debater questões de assédio moral e ofensas contra a honra das candidatas nas eleições municipais de 2020. Veja mais detalhes no blog do Movimento.
A live vai ter a participação da professora de Direito e Ciências Sociais, Gisele Mendes de Carvalho, da presidente da subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Maringá e professora, Ana Cláudia Pirajá Bandeira, com mediação da professora do Departamento de Ciências Sociais e Coordenadora do Observatório das Metrópoles de Maringá, Ana Lúcia Rodrigues.
Na terça-feira (30/6) mais uma reunião está programada com as pré-candidatas a vereadora integrantes do Movimento Mais Mulheres no Poder. A discussão é “Entre Mulheres – Espaço de Debates”. O tema proposto é “O que falamos só entre Nós”.
Inicialmente, dentro do movimento, estão previstas três ações: a criação de uma comissão para receber e encaminhar juridicamente denúncias de assédio, fake news, ofensas, crimes contra a honra e etc. que as pré-candidatas venham a sofrer ao longo do processo eleitoral; a ampliação da visibilidade das pré-candidatas nas redes sociais por meio de debates, artigos, análises e a divulgação dos perfis, suas propostas e atividades realizadas e tornar Maringá território livre de candidaturas fictícias, as conhecidas candidaturas “laranjas”.
Como em 2020 vai ser realizada a primeira eleição municipal com financiamento público, o controle social deve ser redobrado, o que demanda a efetiva participação de todo cidadão e eleitor maringaense na denuncia de possíveis candidaturas fictícias.
O Movimento Mais Mulheres No Poder, agrega todas pré-candidatas a vereadora de Maringá, mulheres que estão colocando seus nomes para concorrer a uma vaga na Câmara, nas Eleições Municipais de 2020.
O trabalho surgiu com o objetivo de apoiar ações que visam a conquistar uma bancada feminina, por uma questão de justiça, pois não faz sentido Maringá ter 52% da população, composta por mulheres e 54% do eleitorado e não ter nenhuma representante no Poder Legislativo.
Nas eleições municipais de 2016, do total de 263 candidatos, 87 foram mulheres, representando 33% das candidaturas e Juntas, as 87 candidatas fizeram 15,22% dos votos, índice equivalente a votação dos 6 candidatos homens mais votados.
Para reconquistar vagas na Câmara, as candidatas mulheres precisam superar vários obstáculos, “então vamos juntas nesse desafio para conquistar uma Bancada Feminina na Câmara de Vereadores de Maringá”, convoca o movimento.
Veja abaixo uma entrevista com a professora Ana Lúcia Rodrigues, articuladora do Movimento Mais Mulheres no Poder
Como surgiu a ideia do Movimento Mais Mulheres No Poder?
R: Professora Ana Lucia – Eu fui candidata a vice-prefeita em 2016 e a reitora da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 2018. A partir das experiências que vivi na pele quis compartilhar várias questões com as demais pré-candidatas em forma de propostas e caminhos, que sei, podem ajudar em muito no momento em que uma mulher se lança nesse mundo da disputa eleitoral.
Sabemos que a política em geral e a partidária em específico é um campo predominantemente masculino, e quando nós mulheres entramos nesse campo precisamos trabalhar e atuar quatro, cinco vezes mais, rompendo barreiras e obstáculos muito maiores do que os homens para disputar e conquistar uma vaga para o legislativo ou o executivo. Deste esforço redobrado surgiu a ideia de um movimento suprapartidário que junte todas as pré-candidatas a vereadora de Maringá, porque precisamos de suporte para disputar em condições menos desiguais com os candidatos homens.
O Movimento tem formato de rede colaborativa, a fim de compartilhar as experiências, encontrar informações, entender e superar os dilemas que resultam da escolha que fizemos em disputar uma vaga na Câmara de Vereadores. Ou seja, um espaço a nos ajudar e permitir o aprendizado de umas com as outras, fazendo das eleições também um ambiente educativo/pedagógico que contribua com a redução das desigualdades entre homens e mulheres no campo da política.
E por que uma bancada feminina na Câmara?
R: Professora Ana Lucia – Porque a realidade escancarada à nossa frente nas eleições de 2016 foi reveladora. A Câmara de Maringá ficou sem a representação feminina nesse mandato que iniciou com as eleições de 2016 e termina agora no final do ano. O fato revelador é saber que a potência feminina para ocupar esse espaço é muito grande – e estou dizendo ocupar com qualidade e não apenas ter um “exemplar” feminino na Câmara. Isso não cabe mais. Não basta às mulheres ocupar espaço servindo apenas como “afago” para a sociedade dormir tranquila acreditando que a democracia representativa funciona. Não. É necessário e possível conquistarmos uma bancada e, digo e reafirmo, “conquistarmos”. Somos a maioria dos maringaenses. As mulheres compõem 52% da população da cidade, além de responder por 54,3% dos eleitores. Os dados são de agora, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O que estou propondo com o movimento é abrir o debate com as pré-candidatas a vereadora para compreendermos o tamanho do desafio e o que temos a conquistar nos próximos meses até as eleições. Em 2016 foram 87 candidatas a vereadora, representando 33% do total de candidatos. Sabe quantos votos fizeram todas elas? 15%, índice igual ao total de votos dos seis candidatos homens mais votados. Isso pode ser revertido e para tanto temos que eleger uma bancada de mulheres.
Quais são as perspectivas apontadas pelo Movimento?
R: Professora Ana Lucia – Que se firme o compromisso entre todas nós pré-candidatas de que as eleitas formem uma bancada em defesa de duas propostas que são o eixo do nosso Movimento: a defesa de que 50% dos cargos do primeiro e segundo escalão da gestão municipal, secretarias, diretorias e gerências seja ocupado por mulheres, cumprindo o artigo 5º da Constituição Federal. Isso tem uma dimensão democratizante e seria um grande gesto, talvez o mais promissor pela igualdade na ocupação do espaço público, mantido com dinheiro público.
E, efetivamente, colocar o combate à violência contra a mulher no orçamento municipal. Defendemos a alocação de 4% de tudo o que se arrecada na cidade para este enfrentamento. A efetivação das políticas municipais precisa de dinheiro. Não podemos ficar limitadas ao bom senso ou à boa vontade do gestor, cabe a nós exigirmos.
Qual o impacto que você imagina para a cidade com as mulheres ocupando 50% dos cargos na prefeitura, ou seja, metade das secretarias, diretorias e gerências?
R: Professora Ana Lucia – Será fantástico. Assegurar a representatividade igualitária em si já é muito importante. O impacto imediato no olhar sobre a gestão, com mulheres ocupando de forma igualitária os espaços institucionais de decisão na gestão pública será exemplar.
O cumprimento do artigo 5º da Constituição também vai ampliar a visão das próprias mulheres que hoje estão na gestão pública ocupando os espaços tradicionalmente “reservados” para nós, possibilitando a atuação em todas as áreas, além de impactar de forma significativa o futuro, abrindo os horizontes das mulheres mais jovens e das meninas que crescerão em Maringá sabendo que a política é lugar delas também. Tudo isso vai resultar em mais mulheres disputando e participando como candidatas nas próximas eleições.
Como o Movimento vai funcionar e como ele se constitui?
R: Professora Ana Lucia – Vai funcionar com três ações principais. A primeira é criar uma rede de apoio às pré-candidatas, em especial para ajudá-las nos encaminhamentos de denúncias de assédio, fake news, ofensas, crimes contra a honra etc. nas redes sociais. A segunda, atuando na visibilidade das pré-candidatas nas redes sociais do Movimento, promovendo debates de propostas, publicando artigos e análises sobre o processo eleitoral, divulgando o perfil de cada uma, suas propostas e notícias das atividades desenvolvidas por elas. A terceira é uma ação dirigida a todo cidadão e eleitor maringaense para denunciar possíveis candidaturas fictícias. Queremos que Maringá dê exemplo tornando-se território livre de candidaturas fictícias, as conhecidas candidaturas “laranjas.”
Quanto à constituição do Movimento, basicamente é a agregação das pré-candidatas a vereadora, mulheres filiadas a todos os partidos que vão concorrer às eleições de 2020 em torno do compromisso com as duas propostas do Movimento. Somam-se a elas algumas articuladoras que voluntariamente ajudarão a organizar as atividades e membros das comissões de apoio.
Fale um pouco mais sobre a terceira ação do Movimento, tornar Maringá território livre de candidaturas fictícias ou “candidaturas laranjas.”
R: Professora Ana Lucia – Essa é uma ação indutora. Imagino o envolvimento de setores da sociedade na fiscalização do processo eleitoral, afinal serão recursos públicos no financiamento das campanhas. Aqui também vale pensar as eleições para além das disputas por cargos, mas como um processo de aprofundamento e consolidação da democracia, que vive sob constante ameaça. Se de um lado há candidatos e candidatas que vão para a disputa enquadrados por uma legislação rigorosa, de outro há eleitores aos quais cabe o protagonismo, o papel de barrar e impedir possíveis irregularidades que venham a acontecer. Também cabe ao eleitor denunciar e isso é educativo.
Os partidos, os dirigentes partidários sabem disso, mas o cidadão pode ajudar num aspecto específico da lei eleitoral, o que trata da proporção de homens e mulheres na composição de uma chapa de vereadores. Um dos sexos tem o limite máximo de 70% das vagas e o mínimo de 30%. Que a realidade seja dita: às vezes colocam-se mulheres candidatas nas chapas só para cumprir a proporcionalidade exigida pela lei, o que não pode mais ser admitido pela sociedade e pelas mulheres. A lei é rigorosa e uma denúncia bem embasada, com provas, pode impedir o registro da chapa.
Uma palavra final sobre o Movimento mais Mulheres No Poder.
R: Professora Ana Lucia – Nós mulheres pré-candidatas temos nesse momento a oportunidade de fazer política com “P” maiúsculo. Se temos que falar quatro ou cinco vezes mais para ser ouvidas no campo da política partidária e na disputa eleitoral, falaremos unidas e de forma solidária. Compreendemos que a vida de todos está mudando, imersos nas incertezas trazidas por uma pandemia, exigindo de todos muita cooperação e ajuda mútua. Nosso movimento é um gesto, um aceno nessa direção, e se o conhecimento e as ideias surgem elas precisam ser compartilhadas. É o que faço, mostrando que as mulheres maringaenses podem cumprir um papel importante e determinante nessas eleições.
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