Falando em Maringá para investidores financeiros, analista Richard Back aponta três candidatos a presidente com chances de ir para o segundo turno e as reações do mercado

  • Traduzir o cenário político eleitoral brasileiro e mensurar os prováveis impactos na economia para investidores financeiros foi o desafio de Richard Back, analista político da XP Investimentos, que esteve na Associação Comercial e Empresarial de Maringá (Acim) na manhã desta segunda-feira (3/9) para conversar com clientes da SVN Investimentos.

    Back, que mora em Brasília há dez anos e acompanha de perto a política nacional, apontou três possíveis resultados nessas eleições: Jair Bolsonaro (PSL), um candidato do PT – possivelmente Fernando Haddad – e Geraldo Alckmin (PSDB), pelo tempo de propaganda eleitoral no rádio e na TV, que conseguiu com as alianças do chamado “Centrão”.

    O método utilizado para chegar às três opções, ele próprio classificou de “futurologia”, mas ressaltou estar pautado nas pesquisas eleitorais realizadas semanalmente pela XP para consumo interno. Para o Maringá Post, Richard Back analisou qual seria a reação do mercado com a possível vitória de cada um dos três candidatos no segundo turno.

    Na visão do analista, a possibilidade de Alckmin ganhar a eleição é a mais agradável para o cenário econômico. “Alckmin teria mais capacidade de melhorar o mercado. Com ele, o dólar estaria mais baixo e a bolsa para cima”, afirmou. Com os outros dois candidatos, ocorreriam cenários semelhantes.

    “Com Bolsonaro, o mercado terá uma expectativa melhor e piora no ano que vem, porque ele não vai conseguir realizar tudo o que disse. No caso do PT, o mercado dá uma piorada, o dólar pode subir, mas depois as coisas melhoram”, disse Back, que trabalhou no Congresso Nacional de 2010 a 2015.

    Segundo ele, o processo é inverso com o candidato do PT porque o partido tem poder político e já iniciaria o mandato com algumas medidas.”Eleito no dia 28 [data do segundo turno], no dia 29 o PT já deverá começar a ventilar prováveis nomes de economistas que tenham peso no mercado para compor o governo”, disse.

    Segundo Back, o primeiro passo do próximo presidente para retomar a capacidade de investimento do país e colocar as contas em ordem deve ser dado logo após o resultado das eleições. “Antes de assumir, tem que indicar uma equipe econômica de confiança, durante a transição de governo e colocar quem sabe o que está fazendo”, acrescentou.

    Qual é a análise para cada candidato?

    Baseado nas pesquisas da XP Investimentos, Richard Back disse que a tese, mesmo antes da campanha eleitoral ter início, era de que não haveria um outsider nas eleições, “uma pessoa de fora da política tradicional como Luciano Huck”. Outra certeza era de que “o PT chegaria forte, o que se confirmou”.

    Nas pesquisa internas, “com Lula fora do cenário e Fernando Haddad como candidato apoiado pelo ex-presidente, 21% declaram voto em Bolsonaro e 13% em Fernando Haddad. Quando Lula está no páreo, o ex-presidente tem 33% das intenções de voto, contra 21% de Bolsonaro”.

    A sondagem eleitoral, disse Back, foi feita por telefone entre os dias 27 e 29 de agosto, com mil entrevistados em todo o país e registrada no TSE sob o número BR-07252/2018. O intervalo de confiança é de 95,4% e a margem de erro de 3,2 pontos porcentuais, para cima e para baixo.

    “Mesmo o Lula preso, sem falar, a intenção de voto sobe e a rejeição cai. É uma das campanhas mais baratas”, afirmou Back. Para o analista, se Lula estivesse solto e pudesse concorrer nas eleições, ele ganharia o pleito: “A dúvida é se ele já seria seria eleito presidente no primeiro ou no segundo”.

    Na visão de Richard Back, a rejeição de Lula cai nas pesquisas porque o PT conseguiu trabalhar a vitimização do ex-presidente. Lula agiu meio como o Neymar, levou um pontapé e ficou rolando no chão e “ele tem torcida, diferente do Neymar”, comparou.

    No cenário com o ex-presidente Lula, número de votos brancos ou nulos é menor (Imagem/Reprodução)
    No cenário em que Haddad é posto como candidato apoiado por Lula, ele alcança a segunda posição (Imagem/Reprodução)

    Para Back, Bolsonaro representa muito fortemente a visão do político não corrupto. Porém, de acordo com as pesquisas, o candidato empata com Alckmin no segundo turno e perde para Ciro Gomes (PDT), Lula e Marina Silva (REDE). Contra Haddad, Bolsonaro ainda leva a melhor, o que na visão do analista deve mudar nas próximas pesquisas.

    “Bolsonaro, na área de segurança pública, por exemplo, não vai melhor que os outros candidatos. Quando ele fala o que vai fazer, ninguém acredita. Com o discurso dele, o candidato do PSL agrada muita gente e desagrada muita gente também”, disse Richard Back.

    De acordo com ele, “nunca se acreditou em Marina e Ciro. Marina reúne várias características para ser uma grande líder: é evangélica, negra, ambientalista, mas tem dificuldade de colocar o discurso em prática. Ela não vai muito longe. O eleitor dela é do tipo que decide mais no final, influenciado pela TV, mas ela como tem não tempo”.

    Em outra condição, está Geraldo Alckmim, que tem tempo de TV, mas para o analista, “ele só chega no segundo turno se conseguir passar uma mensagem efetiva pelos meios que dispõe, tarefa difícil em uma disputa tão polarizada. Ciro, Marina e Alckmim não conseguem apresentar uma mensagem porque Lula e Bolsonaro polarizam a discussão”.

    Rejeição de Lula cai enquanto a de Bolsonaro aumenta (Imagem/Reprodução)

    “Congresso não deve mudar e isso não é ruim”

    De acordo com o analista, a influência da internet não resolverá a eleição no Brasil como ocorreu nos Estados Unidos.”Um levantamento mostrou que o eleitor do Lula tem celular de até R$ 300, ou seja quase nem tem WhatsApp. Com um eleitor muito pobre, como imaginar que a internet pode resolver? Ajuda, mas não resolve”, afirmou.

    Em mais um método de “futurologia” pautado nas pesquisas de um cenário incerto, Richard Back cravou que, “dificilmente o Congresso Nacional deve ser renovado nessas eleições”, o que para ele “não é tão negativo. Tem um lado ruim de não ter renovação, mas não é necessariamente ruim reeleger quem está lá”.

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