Já passava das 18h quando definimos a pauta de cobertura da festa de lançamento da Expoingá 2018. O mote: dar um um viés político à matéria, mais especificamente sobre a sucessão do governo do Paraná.
A informação que tínhamos até então era que logo mais estariam sob o mesmo teto o governador Beto Richa, a vice Cida Borghetti e o deputado Ratinho Júnior – os dois pré-candidatos do grupo vitorioso em 2014 -, sem contar o ministro Ricardo Barros e outros políticos de peso.
Enquanto o editor-chefe ligava para a assessoria da Sociedade Rural para informar o nome do repórter à lista de imprensa, corri pra casa. Uma ducha rápida, um lustre na botina e a melhor camisa, que não é lá grande coisa. Papel e caneta no bolso, fui.
Cheguei no parque Francisco Feio Ribeiro na hora marcada, às 20h. O Pavilhão Azul virou estacionamento coberto e foi tomado por exemplares esportivos e sedãs da BMW, Audi, Mercedes, Land Rover, SUVs e camionetes encorpadas. O evento reuniu um PIB de tirar o chapéu.
Estava estacionando o Gol ao lado de uma Hilux quando um dos rapazes uniformizados que orientavam os motoristas me abordou:
– Senhor, por favor, estaciona lá no fundo, ao lado daquele Corsinha cinza.
– Ok, respondi.
Enquanto manobrava na vaga indicada, pensei, bem humorado: está apartando o gado, PO e POI pra cá, pé-duro pra lá.
Os cerca de mil convidados chegavam em grupos. Os homens de ternos escuros e gravatas coloridas. As mulheres, bem vestidas, produzidas e saltos altos. Todos perfumados.
Respirei aliviado ao chegar na recepção à imprensa e ver que meu nome e RG estavam no pé da lista impressa, escritos à mão, em cima do laço. Ufa! Não fiquei na porteira.
Entrei e já no hall do grande salão de festas, estavam a postos dezenas de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos, alguns velhos amigos que há tempos não via. É bom conversar com a galera, mas ali não conseguiria nada exclusivo.
Supus onde seria a área que as autoridades que mais me interessavam desembarcariam, saí para o gramado e aguardei. Pimba, argola na guampa!
O problema é que chegaram praticamente juntos. Desceram o ministro e a vice-governadora de um carro e, na sequência, de outro sedã escuro, o governador.
Tive que optar por um deles, rápido, e segui em direção a Beto Richa. Nos cumprimentamos e passei a caminhar ao seu lado:
– Governador, estamos com um site novo na cidade, buscando audiência e gostaria de uma boa declaração política do senhor, que ainda não tenha saído na imprensa.
Ele deve ter achado engraçado a petulância e sorriu. Interpretei, como me convinha, sendo um sim e perguntei:
– Pelo que parece, o senhor está com um problemão para manter o seu grupo político unido, né?
Ficou em silêncio, meio pensativo, e tive a sensação que reduziu o ritmo dos passos. Não para me ceder mais tempo de papo, mas sim a fim de evitar chegar ao pelotão de repórteres, a uns 50 metros à frente, ao mesmo tempo que o ministro e a vice-governadora.
Se chegassem juntos, isso faria o pessoal ter que escolher, para entrevistas, ou um ou outro.
Continuei:
– O grupo tem dois candidatos, a Cida e o Ratinho Júnior. Com quem o senhor vai?
– Sinceramente, não decidi.
– Sério, mesmo?
– É.
– Se o senhor fosse um técnico de futebol até seria um problema bom, ter duas boas opções à disposição. Mas o senhor ainda acredita na possibilidade de um acordo para manter a unidade do grupo?
– Já fiz tudo que podia. Está difícil, muito difícil.
– Onde está o maior problema, aqui em Maringá?
– Dos dois lados. É uma pena, porque divide um grupo muito forte. Divide os deputados, os prefeitos nem tanto, eles estão firmes, mas divide o tempo de televisão. E, nesse caso, dividir é subtrair.
– E então, o senhor vai permanecer no governo ou sai para o Senado?
– Vou decidir em duas semanas.
– Duas semanas é novidade, né?
– É
A confirmação me animou, mas aí começaram os disparos de flashes, luzes de TV e entrevistas coletivas. O ministro já tinha entrado no salão, mas a vice-governadora ainda atendia alguns repórteres ali no hall, onde, por sinal, serviam chope Brahma.
Circulei um pouco em torno das gravações que estavam sendo feitas com a Cida, para ver se surgia alguma pergunta sobre sucessão estadual, mas as pautas dos colegas eram outras.
Na primeira oportunidade, me aproximei e perguntei se ela poderia conceder uma entrevista política exclusiva. Concordou e sugeriu para a gente se afastar um pouco do pessoal, para fugir do barulho.
Comecei mais ou menos pelas mesmas perguntas anteriormente feitas ao governador. Cida lembrou que o seu partido, o PP, já havia sinalizado o lançamento da sua candidatura à governadora, mas que não considerava a pré-candidatura de Ratinho um sinal de divisão do grupo, que estava unido desde 2014.
– Considero legítimo buscar espaços. Trabalhamos juntos na Assembleia e ele estava conosco no governo até há poucos meses. Mas temos a possibilidade de ter um candidato do grupo político durante o exercício do cargo, o que é muito bom.
– A senhora ainda vê alguma possibilidade de evitar a divisão? O governador me disse agora pouco que acha muito difícil e que vai decidir em duas semanas.
A reação de surpresa da vice-governadora me fez crer que o prazo, tinha algo mais do que ser apenas uma novidade:
– Ele disse isso? Agora?
– Disse sim.
Ela sorriu e a conversa acabou, pois já estava sendo chamada pelo cerimonial e pela sua assessoria para tirar as tradicionais fotos com convidados e dirigentes da Rural à frente do painel com a marca da Expoingá.
Nessa altura, as porções individuais de bacalhau ao molho branco, bobó de camarão, risoto de palmito e outras delícias estavam sendo amplamente servidas pelos garçons com luvas brancas. Dentro do salão, nada de álcool, apenas água e refrigerantes. Aliás, durante a cerimônia, mesmo no hall, parou-se de servir chope.
Também havia confirmado com a assessoria da Rural que Ratinho Júnior (PSD) não marcaria presença, por motivos, há de se deduzir, politicamente óbvios. Restava, então, o ministro da Saúde, que circulava por entre as mesas cobertas por toalhas e guardanapos de tecido branco, castiçais de cristal e jogo de taças.
E lá ia ele. Uma mesa aqui, outra ali, cumprimentando os convidados, trocando abraços com os mais próximos e se deixando fotografar com quem quisesse. Pensei, não vai ser fácil um pé de ouvido particular, mas feito perdigueiro continuei seguindo seus passos.
Ricardo Barros deu uma chance e cheguei, indo direto ao ponto:
– Ministro, quer dizer então que o grupo vai se dividir?
– Não, o grupo seguirá unido, se não no primeiro turno, no segundo.
Não contive o riso, um pouco exagerado – confesso – e ele tampouco.
– No primeiro turno faremos uma campanha amistosa. É isso.
– Andei lendo em blogs nacionais que há a possibilidade do senhor permanecer no ministério a pedido do presidente Temer.
– Não há essa possibilidade. Já estou dando minha missão por cumprida e vamos seguir o que foi planejado: Maria Victória será candidata à reeleição na Assembleia, eu serei candidato à reeleição na Câmara e a Cida Borghetti será candidata à governadora.
Papo encerrado, com convidados se aproximando e o ministro seguindo o périplo de cumprimentos. Logo todos se sentaram e o arcebispo dom Anuar Batisti deu início à cerimônia. Em nome das religiões cristãs fez uma prece.
Como manda o cerimonial, a presidente da Rural, Maria Iraclézia, foi a primeira a discursar. Muito à vontade, afinal estava em casa, ela deu as boas vindas a todos e o tom aos outros sete discursos seguintes: a força e a importância do agronegócio para a economia paranaense e nacional.
Pela Câmara de Vereadores, em nome do presidente Mário Hossokawa, que se recupera de um cateterismo, falou Alex Chaves, e pelos deputados estaduais presentes, Maria Victória (PP). No momento, me surgiu uma dúvida: se Ratinho Júnior estivesse presente, qual dos dois falaria?
O Hospital da Criança, cuja ordem de serviço fora assinada horas antes da cerimônia na Rural, ocupou o maior tempo do seu discurso. Também foi exaltado por outros oradores.
Na sequência, em nome dos deputados federais, falou Sérgio Souza (MDB), presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Depois, a vice-governadora Cida Borgehtti saudou a festa e os presentes. Ela foi sucedida pelo prefeito de Maringá, Ulisses Maia (PDT).
Ricardo Barros ocupou o microfone em seguida e disse publicamente que vai deixar o ministério no final deste mês e que, por isso, estava ampliando sua agenda para além das questões de saúde. Chegou a citar alguns projetos para o Paraná.
Por último, discursou o governador Beto Richa, que enumerou alguns feitos pelo agronegócio, destacou as condições favoráveis das finanças do governo do Paraná e de destaque do Estado nas áreas de infraestrutura portuária, saneamento e energia.
O tom de balanço de governo no discurso e das entrevistas de Beto Richa, somado à promessa de que estará presente à Expoingá em maio. Além de dizer que vai decidir sobre sua permanência no governo em duas semanas, me levam a arriscar um palpite:
– O grupo político que venceu em 2014 terá dois candidatos ao governo, Cida Borghetti (PP) e Ratinho Júnior (PSD). E Beto Richa (PSDB) vai ocupar uma das duas vagas ao Senado.
Ah! Uma ressalva: como ensinou o conde Maurício de Nassau, que comandou a colônia holandesa no nordeste brasileiro, “em política, até boi voa”.
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