Mais de 100 páginas de conversas no WhatsApp entre o prefeito Ulisses Maia e o jornalista Angelo Rigon são publicadas por hacker. Blog é tirado do ar

Há 50 dias, o Iphone do jornalista foi roubado durante confusão na sessão da Câmara de Maringá que aprovou a instalação da Comissão Processante, que pode levar à cassação do vereador Homero Marchese (PV). O blogueiro acusa parentes do vereador pelas agressões. Os dois se tornaram adversários declarados, conforme mostra, por exemplo, o bate-boca durante uma reunião da CP.

  • Por volta das 4h30 da manhã desta segunda-feira (20/11/2017) meu celular tocou. Atendi. Era o jornalista e blogueiro Angelo Rigon:

    “Desculpe ligar neste horário, mas estou apavorado, aqui no aeroporto (Maringá), embarcando para o Rio (de Janeiro) e vi agora… Os bandidos que roubaram meu Iphone invadiram meu blog e meu Facebook e postaram conversas minhas no WhatsApp. Preciso que o blog seja retirado do ar o mais rápido possível”.

    O celular do Rigon foi roubado durante uma confusão na sessão da Câmara de Maringá, dia 5 de outubro, que aprovou a criação de uma Comissão Processante (CP) que pode levar à cassação do vereador Homero Marchese (PV).

    O jornalista também foi agredido fisicamente durante o tumulto e, em Boletim de Ocorrência (B.O.) registrado na 9ª SDP, ele afirma que as agressões foram feitas por quatro familiares e outros partidários do vereador. Imagens da sessão mostram as agressões.

    Rigon e Marchese, que até as eleições de 2016 se consideravam e se tratavam como bons amigos, este ano se tornaram adversários declarados. A troca de agressões verbais entre eles no depoimento de Rigon na CP deixou a inimizade evidente.

    O arquivo de WhatsApp que foi postado no blog do Rigon sob o título “Todo fim tem um começo” – com uma ilustração da famosa máscara do filme “V de Vingança”, dirigido por James Miteigue – tem 112 páginas e trata de trocas de mensagens entre o jornalista e o prefeito Ulisses Maia.

    O hacker postou o material no blog hospedado no portal do Maringá Post às 2h35 desta madrugada.

    A primeira troca de mensagens entre Maia e Rigon, registrada no arquivo publicado no blog e na página do jornalista no Facebook, é das 19h06 do dia 25 de junho de 2014 e a última é das 8h38 do dia 19 de fevereiro deste ano.

    Como a última mensagem é de fevereiro deste ano, é de se supor que pode ocorrer novos vazamentos. As constantes trocas de mensagens mostram uma relação de amizade e confiança entre o prefeito e o blogueiro, que se  conhecem desde a adolencência.

    Um pouco mais tarde, quando o voo do jornalista, ainda em trânsito, estava na escala de São Paulo, às 6h08, ele voltou a entrar em contato:

    “O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) já está trabalhando para pegar esses bandidos, que também invadiram minha conta no Gmail. Agora estou verificando a conta bancária e o cartão de crédito”.

    Ao desembarcar no Rio de Janeiro, Rigon lembrou que “hoje faz 50 dias que a Comissão Processante foi instalada e meu Iphone foi roubado”. Segundo ele, no domingo (19/11) percebeu que um computador Macintosh, de Curitiba, estava acessando seu inbox há dois dias.

    “Salvo muita coisa no inbox. Meu advogado, o doutor Paulo Vidigal, está na delegacia neste momento pedindo providências, pois o B.O. foi registrado há exatos 50 dias”, afirmou Rigon.

    Vidal, que se encontrava na 9ª SDP às 9 horas desta manhã, disse que estava “aguardando o delegado responsável pelo inquérito para ver o que pode ser feito” e que falaria com o Maringá Post durante à tarde.

    Marchese diz que blogueiro faz acusações levianas

    O vereador Homero Marchese nesta manhã, procurado pela reportagem, depois de algumas palavras nada elogiosas em relação a Rigon, disse que “agora tudo de ruim que acontece na vida dele é culpa minha”.

    “Agora vem mais essa… Meus familiares já estão processando criminalmente o blogueiro por fazer acusações levianas e irresponsáveis”, afirmou.

    Depois demonstrou curiosidade sobre as mensagens de WhatsApp. “Do que trata essas trocas de mensagens? Agora fiquei curioso e gostaria de saber. Pode me mandar uma cópia?”.

    Ulisses Maia ressalta que vazamento é crime

    Por meio do secretário-chefe de Gabinete, Domingos Trevizan, o prefeito Ulisses Maia destacou que “o vazamento é um crime” e que já está sendo investigado pela polícia, por isso, por enquanto, não será tomada nenhuma providência nesse sentido.

    “O vazamento de nossa comunicação pública e privada não nos preocupa, porque sempre mantemos a mesma lisura. O que nos causa alguma preocupação são as possíveis edições que venham a ser feitas”, afirmou Trevizan depois de conversar com o prefeito por telefone, que na manhã desta segunda-feira não estava em Maringá.

    O Maringá Post, atendo ao pedido de Angelo Rigon, retirou o site do blogueiro do ar o mais rápido que pode. E, por motivos éticos e legais, não vai divulgar, de nenhuma forma, o conteúdo das mensagens, obtido por meio de crime e que, segundo o jornalista, teriam sido editadas.

    Oitiva de suspeito de roubo é antecipada pela polícia

    A oitiva policial do principal suspeito de ter roubado o celular de Rigon durante a confusão na Câmara, Luiz Henrique Rodrigues Alves, foi antecipada do dia 30 de novembro para a próxima quinta-feira (23/11), às 9h30.

    A alteração, segundo o advogado do jornalista, Paulo Vidigal, foi motivada pela divulgação de informações pessoais de Rigon. O advogado disse que as providências já tomadas enquadram Rodrigues Alves em dois artigos do Código Penal.

    O artigo 153 dispõe sobre violação de segredo de correspondência, com pena de 1 a seis meses de reclusão. E o artigo 154 sobre violação de dispositivos telefônicos, com pena de detenção de 3 meses a um ano.

    “Estamos aguardando que as autoridades policiais e judiciárias tomem as medidas cabíveis, para assegurar o direito de privacidade, que foi violado”, afirmou Vidigal, para quem “é difícil dizer que a ação do hacker não esteja ligada à Comissão Processante”.

    Lembrou que seu cliente fez uma denúncia no Ministério Público contra o vereador Homero Marchese, por ter nomeado como assessor de Gabinete uma pessoa condenada por órgão judicial colegiado, contrariando uma lei municipal, que resultou na formação da CP.

    • Primeira atualização feita nesta segunda-feira (20/11/2017), às 12h05, com a inclusão da manifestação da Prefeitura de Maringá.
    • Segunda atualização feita nesta quarta-feira (20/11/2017), às 16h45, com a inclusão das informações dadas pelo advogado Paulo Vidigal.

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