Perícia de linguagem lança suspeita sobre Jean Marques, líder do prefeito na Câmara de Maringá, ser coautor do pedido de cassação de Marchese

  • O laudo da perícia sobre linguagem e estilo de texto, solicitada pelo vereador Homero Marchese (PV), encontrou uma série de indícios que sugerem que o autor da peça da denúncia com pedido de cassação do seu mandato seja o líder do prefeito Ulisses Maia (PDT) na Câmara de Maringá, vereador e advogado Jean Marques (PV).

    Marques, surpreendido com a informação recebida nesta segunda-feira (13), negou ter redigido o documento, desqualificou a perícia por ter usado apenas um texto seu para fazer a comparação e afirmou que é “mais uma tentativa do denunciado tumultuar o processo e fazer com que os trabalhos da comissão não sejam concluídos no prazo de 90 dias”.

    O laudo, considerado “informal” pelo vereador denunciado, será apresentado à Comissão Processante nesta segunda-feira (13) junto com um pedido de investigação sobre a suspeita e a contratação de uma perícia oficial. O depoimento de Marchese, o último previsto pela CP, está agendado para as 15h desta segunda-feira (13).

    O estudo de linguagem foi feito a partir da comparação de dois textos. Um é o do pedido de cassação protocolado na Câmara e o outro é o de uma ação de ressarcimento no valor de R$ 1 mil contra a Azul Linhas Áreas, assinada pelo advogado Jean Marques, impetrada no Juizado Especial Cível de Maringá no dia 18 de dezembro de 2015.

    O pedido de cassação protocolado na Câmara por deliberação da Executiva do Partido Verde, ao qual o vereador denunciado é filiado, foi assinado pelo presidente da agremiação, Ederlei Alkamin, atual secretário municipal de Meio Ambiente, mas nenhum dos depoentes na CP disse quem redigiu a peça.

    Erros comuns apontados por laudo pericial

    Depois de comparar os textos dos dois documentos – o nome do perito não foi informado -,  a conclusão a que chega o autor do laudo informal diz que “ante todo o exposto, denota-se o mesmo estilo de escrita, mostrando um hábito do produtor de texto”, entre os quais erros de sintaxe e o mau emprego do conectivo cujo.

    São indicados quatro tipos de erros de sintaxe comuns aos dois textos comparados: concordância verbal, ausência de crase obrigatória, concordância nominal e problemas de regência nominal.

    No caso de concordância verbal, são citadas duas expressões: “arrola-se a seguir três motivos”, quando o correto seria “arrolam-se” – a impropriedade está na denúncia. Já na ação de indenização, a incorreção ocorre ao flexibilizar o verbo: “haviam (havia) outros vôos”.

    A falta de crase é observada nas frases “referente a compra dos bilhetes de passagens aéreas” (ressarcimento) e “questionamento intimamente ligado a ameaça” (denúncia). Sobre concordância nominal, os exemplos são “transcorrido(s) mais de dois anos” (ressarcimento) e “quando inexistente(s) os motivos ou realizados com desvio de finalidade” (denúncia).

    Quanto ao problema de regência nominal, as frases pinçadas no laudo são “não resta dúvida (de que) que o reclamado”… (ressarcimento). E “o vereador denunciado tomou conhecimento (de que) que o filiado Lucas Vinícius” … (denúncia).

    Em relação ao mau emprego do relativo indicativo de posse “cujo”, onde não é necessário. Os exemplos citados são “”em decorrência do cancelamento do vôo a companhia aérea tinha ao dever de reacomodação em vôo próprio ou de terceiro para o mesmo destino, cujo reclamando não ofertou”.

    No pedido de abertura da CP, o pronome aparece inadequadamente na expressão “Não se nega que parlamentar tenha como prerrogativa o direito de requerer informações ao Poder Executivo, todavia, quando a informação requerida não se trata de informação pública relevante, refere-se a sujeito certo e determinado e cujo parlamentar acabou de ameaçar…”

    Na conclusão, o perito desconhecido afirma que “a mim não resta dúvida que o Jean foi um dos autores de ambos os documentos, o estilo dele transparece nas situações acima relatadas. Como não dúvida de que há coautoria no documento da denúncia”.

    Além das coincidências gramaticais e da repetição de expressões como “Dos pedidos e requerimentos”, “Ante todo o exposto, pede-se a Vossa Excelência…” e “Em face de…”, o perito que colocou como condição para a realização do trabalho “o anonimato”, observa também estilos similares no tamanho os espaços de parágrafos e na numeração de argumentos, anexados no final deste texto.

    “Vereador, o senhor assegura que não foi o senhor mesmo que fez essa análise junto com outros profissionais”, insistiu a reportagem. “Asseguro sim, mas não vou dizer o nome”, respondeu Marchese.

    Jean Marques se defende: estratégia é de postergação

    O vereador Jean Marques, que o colega de Câmara e de partido suspeita ter sido o redator do pedido de cassação, afirmou que “uma perícia séria deveria comparar de cinco a dez textos, e não apenas um, como foi feito”. Disse que “fica fácil, entre as centenas de ações que fiz, encontrar uma com as mesmas características do texto da denúncia”.

    O vereador disse que “pedir uma perícia depois de quase 60 dias de trabalhos da Comissão Processante deixa claro que a estratégia do vereador denunciado é tentar impedir que o prazo de 90 dias seja cumprido”. No caso dos trabalhos não serem concluídos e votados dentro do prazo estabelecido pelo Regimento Interno, o processo é sumariamente arquivado.

    Jean Marques disse que desde o início do processo, Marchese atuou para evitar a sua participação na CP. “Ele pediu para retirar meu nome do sorteio para compor a Comissão e não conseguiu. Depois me arrolou como testemunha, o que é um absurdo, pois como vereador vou votar o relatório final da Comissão em plenário”.

    Segundo ele, Marchese tentou impedir a sua participação na CP porque “sabia que uma atuação mais técnica não deixaria acontecer o circo que virou”. O pedido de Marchese para que a Comissão contrate uma perícia oficial deverá ser formalizado na tarde desta segunda-feira, conforme ele anunciou nesta manhã no Faceboock e havia anunciado na sexta-feira (10).

    Veja outra expressão comum aos dois documentos

    Espaços de parágrafos e numeração nos dois textos

    • Primeira atualização da reportagem, com exclusão de dados pessoais do vereador Jean Marques e inclusão de documentos, foi feita às 12h10 desta segunda-feira (13/11/2017).

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