Um assessor do deputado estadual Marcio Nunes (PSD), de Campo Mourão, foi preso em flagrante por corrupção passiva nesta quinta-feira (19), na frente da churrascaria BR-3 de Maringá. Ele cobrava propina para “ajudar” as prefeituras a conseguir doações da Receita Federal.
O flagrante se deu por volta das 13 horas, quando Vanderley Borgert saia do restaurante com um envelope contendo R$ 1,5 mil em dinheiro e um cheque. Ele não chegou a almoçar no local e nem mesmo a abrir o envelope para conferir os ganhos.
Simplesmente estacionou, entrou, pegou o envelope, saiu e foi preso. A entrega do dinheiro também foi filmada pela Polícia Civil.
Os delegados Alysson Tinoco, de Loanda, e Dimitri Toster Monteiro, de Nova Londrina, e um investigador de polícia almoçavam no local, enquanto aguardavam o suspeito. Pensavam que Borgert também fosse degustar uma costela assada na brasa antes de ser preso.
Amizades com parlamentares e filho de ex-vereador
Borgert transitava no meio político paranaense com desenvoltura e chegou a representar o deputado federal Luiz Nishimori (PR), de Maringá, em pelo menos uma solenidade oficial da Prefeitura de Pitanga, conforme notícia divulgada no site do município.
Seu pai foi vereador em Nova Tebas, cidade próxima a Campo Mourão – daí sua ligação com o deputado Marcio Nunes, que é produtor rural, foi vice-prefeito e secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, de 1996 a 2000.
O Gabinete do deputado maringaense em Brasília e o escritório de representação dele em Maringá disseram que não conhecem Borgert e que ele nunca trabalhou para Nishimori.
Já a relação de Borgert com o deputado de Campo Mourão foi selada em 1 de outubro de 2015, quando foi nomeado como assessor parlamentar de Nunes. Seu último salário, de setembro, foi R$ 1,89 mil.
Como funcionava o sistema de arrecadação do assessor
A negociação entre o assessor parlamentar e o gestor que colaborou com a polícia – o nome não foi revelado -, para o repasse de um veículo, previa o pagamento de R$ 10 mil, em parcelas.
A primeira incluía R$ 1,5 mil em dinheiro (feito com cédulas marcadas) e um cheque de R$ 3,5 mil, que não foi apreendido – o denunciante ficou com a ordem de pagamento, que era assinada por ele mesmo.
As investigações tiveram início nos primeiros dias de setembro, quando um gestor de um município da comarca de Loanda procurou o delegado para denunciar que estava sendo extorquido pelo assessor.
O esquema funcionava mais ou menos assim: o suspeito tinha acesso a um sistema restrito da Receita Federal, ficava sabendo quais as prefeituras que receberiam as doações e passava a oferecer seus serviços aos prefeitos – segundo contou o delegado em concorrida entrevista coletiva na tarde de hoje.
“Depois que a Receita já havia deferido as doações, o assessor procurava as prefeituras, que ainda não sabiam que ganhariam os bens, e cobrava uma determinada quantia para garantir a entrega”, disse Tinoco.
Segundo o delegado, a Receita também está investigando Borgert. Uma das dúvidas que paira a respeito do esquema é como o assessor parlamentar obteve a senha restrita para acessar o sistema do fisco.
Os bens doados a municípios, entidades assistenciais e outros órgãos públicos são frutos de apreensões, principalmente em contrabandos e tráfico internacional, como veículos, aviões e aparelhos eletrônicos.
A polícia também investiga outros gestores da região que teriam usado “dos serviços” do assessor parlamentar. “Não sabemos se esses gestores foram vítimas ou se serão indicados por corrupção passiva ou ativa”.
Tinoco não descarta o envolvimento de outras autoridades na cobrança de propina. A reportagem tentou contato com o deputado Márcio Nunes. E-mail foi enviado, sem resposta até o momento e a Assembleia Legislativa estava sem energia esta tarde.
Defesa aguarda informações para tomar providências
O advogado de Borgert, o vereador maringaense Do Carmo, disse que está aguardando ter acesso ao inquérito para tomar as providências legais cabíveis.
“Como as investigações iniciaram em Loanda, o delegado não tinha o inquérito em mãos. Estou aguardando a sua publicação no sistema da polícia para ver que medida tomar”, explicou.
Colaboraram o editor Murilo Gatti e a repórter Amanda Watanabe.
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