O doleiro londrinense Alberto Youssef, que ganhou notoriedade no Paraná com o escândalo do Banestado em 2002 e ficou famoso no Brasil ao ser preso na Operação Lava Jato em março de 2014, acaba de ser condenado novamente, desta vez a 5 anos, 1 mês e 20 dias de reclusão pelo juiz da 3ª Vara Criminal de Maringá, Joaquim Pereira Alves.
Muito antes de ser descoberto como um dos administradores das contas CC5 do Banestado, por meio das quais foram enviados irregularmente mais de US$ 30 bilhões ao exterior, e se tornar o principal operador das propinas no bilionário esquema de corrupção na Petrobras, Youssef já dava seus primeiros passos no glamoroso mundo do crime de colarinho branco em Londrina, sua terra natal, e em Maringá.
A ação criminal que agora o levou a mais uma condenação tramita na 3ª Vara Criminal de Maringá desde o dia 2 de abril de 2003. As sentenças dos cinco condenados foram assinadas por Pereira Alves no dia 31 de agosto deste ano. Mas os desfalques milionários na Prefeitura de Maringá, que motivaram a ação penal movida pelo Ministério Público, começaram muito antes, mais precisamente no início de 1993.
Os desvios apurados por promotores e auditores fiscais ocorreram de 1993 a 1996, durante a segunda gestão do prefeito Said Felício Ferreira. Na época, a Prefeitura de Maringá tinha como diretor de Contabilidade e Finanças – que depois virou Secretaria Municipal da Fazenda – o igualmente famoso criminoso financeiro Luis Antônio Paolicchi. Por já terem falecido, Said e Paolicchi foram excluídos da ação penal.
Foram desviados 21% do orçamento de Maringá
A Comissão de Auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, presidida por Jaime Aguiar Costa, concluiu que, nos quatro anos, foram desviados dos cofres municipais a importância de R$ 15,4 milhões. Para se ter uma ideia do tamanho do rombo, os mesmos peritos fiscais afirmam que “os desfalques ao erário consumiram uma média anual de 21% da arrecadação do município”.
Para ocultar os desfalques, os fraudadores do erário público apresentavam as conhecidas notas frias e recibos de pagamentos inexistentes ou em duplicidade. Usaram a Copel, o Instituto Nacional de Seguridade Social e até a Caixa Econômica Federal. No caso do banco, os desvios foram realizados por meio da emissão de cheques, sacados da conta corrente do município de Maringá, em nome da própria Caixa.
A tramoia funcionava assim: os cheques, que deveriam ser nominais ao fornecedor ou depositados direto em conta corrente, eram emitidos em nome da própria Caixa, onde o município tinha conta. Em seguida, eram endossados por Paolicchi e pela então chefe de Divisão de Finanças, Rosimeire Castelhano Barbosa, e assim se tornavam cheques ao portador.
Um detalhe curioso é que no dorso dos cheques endossados por Paolicchi e Rosimeire já constavam as instruções, escritas à caneta, para quem a Caixa deveria emitir outros cheques administrativos, ordens de pagamento ou depósitos bancários, a maioria em contas de laranjas, obviamente, indicadas por Paolicchi.
Alguns desses valores foram depositados para Olga Youssef, irmã do doleiro, que também foi condenada pelo juiz maringaense. Outros foram depositados para uma cunhada de Alberto Youssef, Cristina (já falecida), que possuía retardo mental. Aproveitando das debilidades intelectuais da mulher, o doleiro conseguiu uma procuração para movimentar as contas dela.
Rosimeire e outros sete acusados foram absolvidos pelo juiz Joaquim Pereira Alves. No caso da ex-chefe da Divisão de Finanças, o magistrado entendeu que a sua participação se limitou ao preenchimento e endosso dos cheques, “apenas obedecia ordens do seu superior”. Já Olga foi condenada a 2 anos e 4 meses de reclusão, embora o irmão tenha tentando inocentá-la, dizendo que ela não sabia do que se tratavam os volumosos depósitos.
Recorrentes delações premiadas do doleiro
Descobertas as falcatruas, Alberto Youssef passou para a tática de redução de danos e fez um acordo de delação premiada com os promotores locais, que posteriormente foi rescindido com os reiterados delitos do doleiro na Operação Lava Jato. Também pesou na rescisão da delação o fato do doleiro não ter fornecido “contribuições efetivas ao processo”, escreveu o juiz Pereira Alves.
Mais recentemente, Youssef fez uma delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, no qual disse que movimentou R$ 250 milhões em apenas um ano. Os seus advogados até tentaram incluir esse acordo no processo sobre os desvios financeiros na Prefeitura de Maringá, o que não foi aceito pelo magistrado local.
Junto com Youssef, foram condenados mais quatro réus, que deverão cumprir pena em regime aberto, incluindo a irmã do doleiro, Olga Youssef. A Justiça também concedeu o regime semiaberto a Alberto Youssef. E os condenados ainda têm o direito a recorrer às instâncias superiores, embora os crimes tratados no processo da 3ª Vara Criminal de Maringá tenham sido cometidos há mais de 20 anos.
Depois de quase três anos preso pelos crimes descobertos pela Lava Jato, atualmente Youssef cumpre pena em regime aberto em São Paulo, onde está escrevendo um livro de memórias. Recentemente, em agosto, ele quis passar uns dias em Londrina, para juntar material à sua nova carreira, a de escritor, mas o juiz federal Sérgio Moro não permitiu.
Talvez o filho de libaneses escreva que, quando pequeno, vendia salgados nas ruas de Londrina e que na juventude trazia muamba do Paraguai para o Norte do Paraná. Foi naquele país, inclusive, que começou a mexer com dólares e, com a ajuda do falecido deputado federal de Londrina, José Janene (PP), se tornou um capacitado e experiente profissional em lavagem de dinheiro desviado de cofres públicos.
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