Licitação de R$ 150 milhões foi direcionada para a TCCC vencer, diz delator à Justiça

Licitação foi feita em 2010 pela Prefeitura de Maringá e é válida por 20 anos. O advogado Sacha Reck foi preso em 2016 por fraude em licitações em vários municípios brasileiros
cidades brasileiras. O Jornalismo da Rede Paranaense de Televisão (RPC) teve acesso à delação

  • O advogado Sacha Reck disse à Justiça em delação premiada que houve direcionamento no edital da licitação do transporte coletivo de Maringá, em 2010, para beneficiar a Transporte Coletivo Cidade Canção (TCCC).

    O contrato é de R$ 150 milhões, válido por 20 anos e prorrogável por igual período.

    O Jornalismo da RPC (Rede Paranaense de Comunicação) teve aceso à delação premiada do advogado, conforme mostra reportagem de Fernando Tupan, veiculada nesta manhã de quinta-feira (28) no Bem Paraná.

    Leia a transcrição da reportagem na íntegra:

    “Nós tivemos acesso a delação do advogado Sasha Reck, investigado na Operação Riquixá, que denunciou fraudes em licitações do transporte público em várias cidades do Estado.

    Em depoimento liberado pela Justiça, o advogado afirmou que diretores da empresa de transporte coletivo de Maringá participaram da elaboração de edital de licitação na cidade.

    A denuncia foi feita pelo advogado Sacha Reck da empresa Lurge Trânsito, contratada pela Prefeitura de Maringá para fazer o Plano de Mobilidade Urbana.

    O plano era uma exigência do município para o novo contrato de licitação do transporte coletivo.

    No depoimento Sacha Reck diz que desde o início do estudo, em 2010, a intenção era direcionar o resultado da licitação.

    O processo teria sido fraudado para favorecer a TCCC – Transporte Coletivo Cidade Canção, que já prestava serviço no município.

    A empresa pertence à família Constantino, que atua no segmento de transporte em várias cidades do país.

    Na delação Sacha Reck cita o nome de Antônio Sebastião Alberto Crepaldi, que aparece no processo de licitação do transporte coletivo de Maringá como representante da TCCC.

    Procurador pergunta a Reck: ‘Essas reuniões começaram antes da publicação do edital?’

    Reck responde: ‘Claro, claro, claro, bem antes. O edital só foi publicado depois. Na verdade a empresa tava participando da formulação do edital através do Antônio Sebastião Alberto Crepaldi, fazendo essa interlocução comigo’.

    Sacha Reck cita um dos sócios da Logitrans, Antônio Carlos Marqueset, como um dos negociadores do contrato de licitação do transporte coletivo em Maringá com os donos da TCCC.

    Quando o promotor do Gaeco pergunta para Sacha Reck se a Logitrans deveria aceitar o que os donos da TCCC sugeriram para o edital ele diz que sim:

    ‘Foi estabelecido esse contato e que era pra ser conversado com os membros dos Constantino ali também, para discutir o edital, porque é o seguinte: a verdade, pelo que se percebeu, é que não saia esse edital sem eles estarem de acordo’.

    Depois que o edital de licitação ficou pronto, Sasha Reck disse ter encaminhado para a procuradoria do município.

    Segundo ele, o procurador teria apontado algumas dificuldades para autorizar o andamento do processo.

    Ainda segundo Reck, a questão foi relatada a um dos diretores da TCCC, Roberto Jacomelli, que prometeu tomar providências

    ‘Aí eu relatei – diz Reck – ao Beto (Jacomelli) que havia esse problema e que possivelmente não teria solução. Ele ia demorar pra ver o processo. Enfim, colocou várias questões em discussão. Falei olha, eu não quis discutir porque ele que é o procurador do município, não entrei no mérito’.

    Daí o Beto (Roberto Jacomelli) me disse o seguinte: ‘Não, tudo bem, deixa que eu vou resolver esse assunto’.

    Na delação, o advogado diz ainda que o diretor da secretaria de transportes na época, Mauro Menegasso, sabia da interferência da empresa no processo de licitação

    Quando houve divergências de opinião, até do próprio Mauro, o próprio Armando Roberto, o Beto Jacomelli dizia: ‘Não, vai ser assim, vai ter que ser e ponto. Aí vinha de goela abaixo pra cima do Mauro lá o posicionamento’.

    A suposta prática de crimes contra administração pública no processo de licitação do transporte coletivo de Maringá está sendo investigada desde 2016, após a realização da Operação Riquixá do Gaeco.

    A delação do advogado Sacha Reck foi homologada pelo Tribunal de Justiça do Paraná durante os depoimentos.

    Ele contou que mesmo depois de desconfiança, a licitação foi feita pela prefeitura.

    O edital foi publicado pelo município em 2011 e apresentava uma série de requisitos técnicos e financeiros como exigências para a participação das empresas interessadas, mas uma ação popular proposta em março do mesmo ano pediu a suspensão do processo alegando que a TCCC estaria sendo beneficiado pelo edital.

    Uma liminar garante uma interrupção do processo licitatório. Com a ajuda de Sacha Reck a prefeitura derrubou a liminar e o processo de licitação teve sequência.

    Ele impede considerações a respeito do conteúdo dessas informações.

    Silvio Barros, prefeito de Maringá na gestão de 2005 a 2012, afirmou em nota que não soube e não participou de qualquer irregularidade na licitação.

    Segundo ele, o conteúdo da delação mostra claramente que o próprio Sacha Reck isenta o ex-prefeito de qualquer participação nas fraudes e diz ainda que tratou com Sacha Reck sempre sobre questões técnicas da licitação.

    Mauro Menegazzo não atendeu às nossas ligações.

    Antônio Carlos Marques, um dos sócios da Logitrans está em viagem e também não retornou nossos contatos.

    A defesa de Sacha Reck não se manifestou sobre o caso.

    O grupo Constantino não retornou nosso contato.”

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