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A Sociedade Médica de Maringá completa 75 anos de fundação em 2024. Criada em 1949, apenas dois anos após a instalação oficial da cidade, a entidade se consolidou como um dos pilares da saúde regional. Além de representar a classe médica, a instituição atua em frentes sociais, culturais e científicas, contribuindo diretamente para o desenvolvimento de Maringá.
Em entrevista ao podcast Ponto a Ponto, do Maringá Post, o presidente da Sociedade Médica, Dr. Luiz Eduardo Bersani Amado, destacou os principais desafios atuais da profissão, o papel histórico da entidade e as perspectivas para o futuro da medicina.
Um marco na história da cidade
A fundação da Sociedade Médica está intimamente ligada à própria história de Maringá. Criada pelo médico Lafayette em 1949, a entidade nasceu como espaço de convivência e atualização científica para os primeiros profissionais da saúde da região.
“É impossível falar da trajetória da medicina em Maringá sem mencionar a Sociedade Médica. Ela cresceu junto com a cidade e se tornou referência em ações sociais, culturais e de integração da classe médica”, explica o Dr. Luiz Eduardo.
A pandemia e a força da entidade
Se por muitos anos a entidade era vista como um espaço de convivência e ciência, a pandemia da Covid-19 trouxe à tona seu papel estratégico. O presidente relembra a reunião em que o então prefeito Ulisses Maia convocou lideranças médicas para decidir sobre o fechamento da cidade.
“Foi um momento marcante. A caneta estava na mão do prefeito e a decisão sobre fechar ou não fechar dependia do parecer dos médicos. Ali ficou clara a relevância da Sociedade Médica para orientar decisões que impactam toda a população”, lembra.
Engajamento dos jovens médicos: um desafio atual
Um dos desafios enfrentados pela entidade é aproximar os novos profissionais. Se antes todos os encontros científicos aconteciam na Sociedade Médica, hoje esse cenário está pulverizado em universidades e plataformas digitais.
Segundo o presidente, é fundamental mostrar aos jovens a importância de participar da entidade. “Mais do que um espaço social, a Sociedade Médica é um ambiente de networking, aprendizado e troca de experiências entre gerações. Muitos estágios e oportunidades surgem desse convívio.”
Formação médica em debate: excesso de escolas e risco de queda na qualidade
O Dr. Luiz Eduardo também fez críticas à abertura indiscriminada de novos cursos de medicina no país. Segundo ele, a expansão não tem sido acompanhada da infraestrutura necessária, o que pode comprometer a qualidade da formação.
“Há escolas sem hospitais de ensino, sem corpo docente adequado, abertas por interesses comerciais e políticos. O resultado é a saturação do mercado em polos como Maringá, enquanto cidades do interior continuam sem profissionais”, avalia.
Ele alerta ainda para os riscos de um futuro em que médicos recém-formados tenham dificuldade de conseguir plantões ou oportunidades sem especialização.
Inteligência artificial: ameaça ou aliada?
Outro tema em destaque foi o avanço da tecnologia. O presidente da Sociedade Médica vê a inteligência artificial como uma ferramenta que pode revolucionar a área.
“Assim como aconteceu com o estetoscópio, que demorou dez anos para ser aceito, a inteligência artificial veio para ficar. Hoje já existem diagnósticos com mais de 80% de acerto feitos por IA. O bom médico será aquele que souber usar essas ferramentas a favor do paciente”, afirma.
Além do uso em diagnósticos, ele cita aplicações em marketing médico, organização de ações da entidade e até apoio na interpretação de exames.
A virada para a medicina preventiva
Com experiência em nefrologia, o Dr. Luiz Eduardo destaca que as doenças crônicas não transmissíveis — como hipertensão, diabetes e obesidade — são os maiores desafios para o futuro do sistema de saúde brasileiro.
“É insustentável um país pobre e envelhecido manter tantos pacientes crônicos. Precisamos investir em prevenção, estimular hábitos saudáveis e atuar antes que a doença se instale. Esse é o caminho para uma medicina de qualidade”, afirma.
Inspirado pela Medicina do Estilo de Vida, abordagem que chegou ao Brasil a partir de Harvard, ele fundou a clínica MedInfuse, voltada para a promoção de saúde e prevenção.
Cultura e integração: o Plantão Musical
Nem só de ciência e debates vive a Sociedade Médica. Entre os projetos culturais, o destaque é o Plantão Musical, grupo de médicos que se reúne semanalmente para ensaiar e realizar apresentações públicas. O evento ocorreu nessa última semana, nos dias 21 e 22, quinta e sexta-feira.
“É um espaço de convivência, de leveza, que aproxima os médicos e os conecta também com a sociedade”, conta o presidente.
Maringá como polo de saúde
Reconhecida como polo médico no Paraná, Maringá tem se destacado não apenas na oferta de serviços hospitalares, mas também no chamado “turismo médico”. Pacientes de várias regiões procuram a cidade tanto para tratamentos de alta complexidade quanto para procedimentos estéticos.
Segundo o presidente, o futuro passa por iniciativas como o Hub de Saúde, criado em parceria entre a Sociedade Médica, Sebrae, Codem e entidades públicas. O objetivo é integrar profissionais, startups e empresas de saúde, fomentando inovação e negócios no setor.
Olhar para o futuro
Com 75 anos de história, a Sociedade Médica de Maringá mantém sua relevância e busca se reinventar diante dos novos tempos. Entre os desafios, estão a formação médica de qualidade, a integração dos jovens profissionais, a adoção de novas tecnologias e o fortalecimento da medicina preventiva.
“Se o médico se especializar e trabalhar com dedicação, sempre haverá espaço. Maringá e a região têm grande potencial para crescer como referência em saúde”, conclui o Dr. Luiz Eduardo Bersani Amado.
A entrevista completa com o presidente da Sociedade Médica de Maringá está disponível no canal do Maringá Post no YouTube, no podcast Ponto a Ponto.
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