O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou o deputado estadual Ricardo Arruda (PL) por lavagem de dinheiro e rachadinha – prática na qual o político exige parte dos salários dos funcionários do gabinete.
A “rachadinha” é considerada um crime de extorsão, e segundo a denúncia, foi cometida por Arruda pelo menos 62 vezes entre dezembro de 2015 e setembro de 2023.
A lavagem de dinheiro, conforme as investigações, foi praticada ao menos 50 vezes no período para esconder os recursos supostamente recebidos de forma criminosa.
A defesa do deputado afirmou em nota que ainda não tinha conhecimento da denúncia, e expressou surpresa e estranheza no fato de a imprensa ter conhecido a acusação antes. A defesa ainda disse tratar-se de uma “infundada perseguição ideológica realizada por ativista de esquerda infiltrado na honrada instituição do Ministério Público do Paraná“.
A denúncia foi encaminhada ao desembargador Jorge de Oliveira Vargas, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná. O caso tramita em segredo de justiça.
Como funcionava o esquema
Os promotores descrevem que o esquema de rachadinha – operado, inclusive, dentro da assembleia – funcionava de oito formas diferentes:
- pela habilitação de vias adicionais dos cartões de crédito dos assessores parlamentares em nome do deputado e da esposa dele. Os débitos eram divididos entre os assessores, conforme a denúncia;
- por meio da aquisição de bens e serviços na via principal do cartão de crédito de assessores parlamentares;
- mediante quitação de dívidas particulares do deputado, como amortização do financiamento habitacional do parlamentar com recursos dos assessores, nesse caso mais de R$ 184,7 mil;
- por meio de saques fracionados de valores em espécie, seguidos da entrega a algum assessor específico que centralizar o dinheiro e pagava boletos do deputado;
- mediante transferências bancárias e pagamento de dívidas de parentes do denunciado, como o pagamento do plano de saúde da sogra de Arruda;
- mediante obtenção de empréstimos consignados.
- por meio da ocultação e dissimulação da propriedade de bens oriundos da concussão;
- por repasses de valores elevados a uma empresa, cuja conta bancária era usada para fins pessoais do deputado.
O Ministério Público cita que, em delação premiada, ex-chefe de gabinete de Arruda detalhou o esquema de rachadinha supostamente capitaneado pelo deputado.
Em depoimento, conforme a denúncia, o ex-funcionário admitiu que compartilhava parte do salário e que, assim como outros assessores, disponibilizava uma via adicional do cartão de crédito dele para uso pessoal de Arruda.
Dinheiro da rachadinha bancava luxos no exterior
Uma das testemunhas ouvidas pelos promotores confirmou que as despesas dos cartões adicionais emitidos em nome do deputado foram mesmo feitas por ele, entre essas despesas estão gastos em viagens internacionais.
O roteiro inclui cassinos de Las Vegas, estações de esqui em Aspen, nos EUA, e lojas de luxo em Dubai.
A denúncia detalha dezenas de despesas que aparecem nos cartões. Os gastos vão de barbearia, sorveteria e restaurantes até pagamentos de passagens aéreas e em hotéis no exterior, além de compras em lojas badaladas no Brasil e em outros países.
Segundo os documentos analisados nas investigações, em uma loja de artigos esportivos nos Estados Unidos a conta passou de R$ 1,4 mil; com aluguel de carro foram mais R$ 3,5 mil e R$ 1 mil em um hotel. A fatura desse cartão sob suspeita passou dos R$ 28 mil em janeiro de 2016.
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