Octacampeão amazonense de futebol feminino, entre 2011 e 2018, o Iranduba passa por sérios problemas financeiros e busca alternativas para se reestruturar até o retorno da Série A do Campeonato Brasileiro, ainda sem data definida. Antes da paralisação devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), o time havia jogado cinco vezes, e ocupava o 12ª lugar na tabela – três derrotas e duas vitórias – ficando a apenas uma posição de entrar na zona de rebaixamento. (MAIS..)
Em entrevista à Agência Brasil, o diretor do Iranduba, Lauro Tentartini, atribuiu a atual crise do clube à empresa Vegan Nation, que não teria cumprido o contrato de patrocínio, firmado em 2018. Com sede em Londres (Reino Unido), a Vegan Nation é dirigida pelo empresário israelense Isaac Thomas.
“Em dezembro de 2018, com a equipe no auge, tendo sido terceira colocada na Copa Libertadores, fui procurado pelo pessoal da empresa. Na época, eles me falaram que fariam o lançamento de uma moeda virtual, a ‘VeganCoin’. A ideia era fazer uma campanha de marketing sobre a importância da preservação da Amazônia. Eles estavam fechando também contratos com o Remo, Paysandu, Nacional. E que o Iranduba era o ‘escolhido’ no futebol feminino. O pagamento do acordo seria através dessa moeda virtual”, relatou o dirigente à Agência Brasil.
Tentartini afirmou ainda que “em maio do ano passado, a moeda já deveria estar no mercado e, desde então, poderíamos trocar por dinheiro”. De acordo com o dirigente, isso havia sido acordado no início da negociação. “Mas depois, já não conseguimos mais contato com o primeiro interlocutor do contrato. Apareceu outra pessoa, o brasileiro Roberto Rosemberg, dizendo que a negociação a partir daquele momento deveria ser com ele. E o Rosemberg acusou os antigos interlocutores de estarem mentindo sobre o prazo de maio. Ele falou que todos sabiam que a moeda só estaria no mercado neste ano”.
Na sequência, segundo o dirigente, foi feito um aditivo no contrato, estabelecendo o dia 30 de março de 2020 como nova data limite para a moeda virtual estar no mercado. “Naquele mesmo dia, 30 de março, recebemos uma carta da própria Vegan Nation dizendo que, devido aos problemas da covid-19, eles não poderiam lançar a moeda no mercado. E que não tinham uma nova previsão. E assim, ficamos sem alternativas. A questão é que no próprio aditivo consta uma indenização a ser paga pela Vegan Nation pelo não cumprimento do prazo inicial. Mas tudo isso não foi respeitado”, argumenta o dirigente.
No início do ano passado, com a previsão da entrada no caixa do Iranduba dos valores previstos no contrato de patrocínio, o clube investiu pesado na contratação de jogadoras de destaque, como Andressinha, da seleção brasileira, e a colombiana Yoreli Rincon, campeã da Libertadores. “Assinamos o contrato em fevereiro, com a previsão de começar a receber em maio. Avisamos as jogadoras que poderíamos ter alguns problemas nos primeiros meses. Montamos uma equipe bem forte. E queríamos ser campeões. Mas, é claro que, com esses problemas todos, não conseguimos manter o plantel. Sete jogadoras já deixaram o clube. A nossa situação é caótica”, desabafa o diretor do Iranduba.
Procurado pela Agência Brasil, Roberto Rosemberg disse que estava apenas auxiliando nas tratativas entre a Vegan Nation e o Iranduba e que o contrato não havia sido formalizado por ele. O diretor-executivo da empresa, Isaac Thomas, afirmou à Agência Brasil que “a empresa se esforçou para cumprir todas as obrigações do contrato e que não deve mais nada ao clube”.
O dirigente do clube amazonense, no entanto, contesta o empresário. “Eles argumentam que passaram as criptomoedas. Mas isso é mentira. Passaram apenas a metade. Mas elas também não foram lançadas no mercado, ou seja, elas têm o mesmo valor de um cheque sem fundo”. Questionado sobre os problemas causados pela covid-19, o empresário Isaac Thomas acrescentou que “todo mundo está sofrendo, e que a falta de patrocinadores é um problema, mas todo o possível para ajudar foi feito”.
Financiamento coletivo
Com uma meta de R$ 900 mil, a equipe feminina do Iranduba lançou na internet, na semana passada, uma campanha de financiamento coletivo para quitar valores atrasados com ex-atletas, comissão técnica, elenco atual, alimentação, moradia e treinos. O valor mínimo da ajuda é de R$ 25. “Até agora só conseguimos R$ 2.175,00. Tem mais um valor aproximadamente de R$ 450 em boletos que estão aguardando compensação. Recebemos também o valor de R$ 120 mil da CBF [ajuda em circunstância da paralisação do futebol brasileiro devido à pandemia de covid-19]. Eu sabia desde o início que a meta era audaciosa. Mas, assim que fechamos o valor de uma folha mensal, já repassamos as jogadoras. E seguimos em frente”, finaliza Lauro Tentartini.
(Texto: Juliano Justo/Agência Brasil. Foto: Iranduba)
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