A Federação Internacional de Esportes para Cegos (Ibsa, na sigla em inglês) desenvolveu um aplicativo para auxiliar atletas com baixa visão ou cegos a terem acesso a informações sobre substâncias e métodos proibidos em competições, entre outros registros. O acessório, de nome Ibsa Antidoping App, foi idealizado pela brasileira Juliana Soares, que é gerente de Educação antidopagem na entidade.
O lançamento do aplicativo ocorreu na última quinta-feira (25), durante o Grand Prix de Futebol de Cegos, realizado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. O acessório para celular pode ser baixado gratuitamente nos sistemas iOS (Apple Store) e Android (Google Play).
“Hoje em dia há diversas informações sobre antidoping em muitos lugares da internet, não só em aplicativos. A diferença é que este é o único 100% acessível a pessoas com deficiências visuais. Coletamos o máximo de informações pertinentes sobre o assunto, de forma concisa, em uma plataforma acessível, na qual se pode usar o áudio do celular ou em grandes fontes, ferramenta que as pessoas com baixa visão normalmente têm para enxergar melhor o que está escrito”, explicou Juliana à Agência Brasil.
A educadora física, que já trabalhou no departamento antidopagem do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), foi contratada pela Ibsa no ano passado. Segundo ela, o contato com os atletas, principalmente nas competições, evidenciou algum desconhecimento deles sobre o assunto.
“Nas palestras e ações que estávamos desenvolvendo, as dúvidas [sobre o que era doping ou não] persistiam. A gente dizia que [a informação] tem no site da Wada [sigla, em inglês, para Agência Mundial Antidoping] e aí a pergunta era se conseguiriam acessar o site, porque sabem que a maioria não é acessível [a pessoas com deficiência visual]. Precisávamos sanar o problema não apenas com ações educativas pontuais, mas alcançar mais pessoas”, contou Juliana.
O app também é voltado a quem trabalha com o esporte de pessoas com deficiência visual e tem informações sobre as substâncias vetadas (e as consequências do doping), risco do uso de suplementos, procedimentos de teste e adaptações necessárias aos atletas cegos e com baixa visão, direitos e deveres, entre outros tópicos. Há, ainda, links para o site da Wada e para a plataforma Global Dro, na qual a pessoa insere o nome do remédio para saber se o medicamento tem alguma proibição.
Na opção de escolha da modalidade, logo que o aplicativo é iniciado, estão os nove esportes dos quais a Ibsa é a federação internacional, três deles integrantes das Paralimpíadas: futebol de cegos, judô e goalball (única modalidade do movimento paralímpico que não é uma adaptação). A entidade tem mais de mil atletas cadastrados, sendo a maior parte de judocas. A meta é que, no primeiro ano, o app chegue, pelo menos, a metade deles.
“Se conseguirmos atingir principalmente o judô, vamos cobrir nossa modalidade de maior risco [de doping, segundo os critérios da Ibsa e da Wada]. De acordo com nossos contratos, a gente só poderia inserir as modalidades da Ibsa como opção de escolha. É muito importante pensarmos que a acessibilidade, infelizmente, não alcançou outras federações, mas é legal abrir portas para outras federações também adaptarem seus conteúdos e plataformas”, concluiu a educadora física.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde e divulgada em 2021, 3,4% da população brasileira acima dos dois anos (quase sete milhões) declarou ter dificuldade ou não conseguir enxergar de modo algum. Também em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou, em estudo, que 2,2 bilhões de pessoas vivem com deficiência visual ou falta de visão no mundo.
(Texto: Lincoln Chaves;Agência Brasil. Foto: Taba Benedicto/CBDV)