Neste sábado, 1° de agosto, a seleção brasileira de judô completa duas semanas de Missão Europa, projeto idealizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) em parceria com as Confederações Brasileiras Olímpicas. Gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e chefe da delegação em Portugal, Ney Wilson Pereira detalha abaixo como foram as primeiras impressões, os cuidados tomados e a evolução dos atletas na retomada aos treinos nos dojôs de Rio Maior e Coimbra.
Reencontros
A grande motivação de todos quando chegaram a Rio Maior era botar o quimono. Porém, um pouquinho antes disso, acho que a grande alegria foi um ver o outro, ao vivo e a cores. Acho que esse foi o ambiente que vivenciamos em toda a viagem: no aeroporto, no avião e no desembarque.
1ª parada: Rio Maior Sports Centre
Em Rio Maior, tivemos que ficar 24h presos em um quarto. Não saímos para nada, nem para comer. Isso gerou certa ansiedade nos atletas, que estavam doidos para treinar, mas o primeiro resultado dos testes que saiu foi o do judô. Assim que tivemos o resultado, em meia hora estava todo mundo pronto, com seu quimono, para ir ao dojô. E aí conseguimos ver aquele brilho nos olhos que estava faltando nos atletas. Acho que isso marcou a primeira semana.
Direção Coimbra: lutar judô
Depois, tivemos o encontro com a equipe de Portugal. A expectativa também era grande. Chegamos na terça-feira (21 de julho), porém este primeiro treino foi só entre nós. Na quarta, treinamos, finalmente, com Portugal. E aí o que percebemos é que os atletas estão muito fora de ritmo, faltando muito judô, muito presos. Estavam muito duros, receosos de colocar golpes, levar golpes e até de cair.
Acredito que até o final desta semana atinjamos o estado ideal para o treinamento, sem correr riscos de lesões. Acredito que na terceira semana os atletas realmente vão aproveitar bastante o treinamento. Por enquanto eles estão, vamos dizer, voltando a serem atletas, adquirindo a especificidade da nossa modalidade, que é de uma complexidade motora muito grande e necessita algum tempo de adaptação. A comissão técnica tem sido incansável na atenção aos atletas, nos detalhes que os atletas precisam. O trabalho tem sido de excelente qualidade.
Seleção portuguesa
A equipe de Portugal está em ascensão: crescimento técnico, mesclada, com atletas experientes e outros bem jovens. Nos dá uma qualidade de treino muito boa, em algumas categorias mais do que outras. Mas o que encontramos é que o fato deles estarem um pouco mais avançados é bem producente para a gente, porque eles também estão com atletas da equipe sub-21, sub-23 e, no feminino, tem até atletas da sub-18. Como eles estão avançados no treinamento, oferecem um treinamento bom.
França e Espanha
Tivemos a chegada do francês Loic Pietri, que já foi campeão mundial. Na próxima semana, chega um clube forte da Espanha. E é importante que o treino vai ficando mais forte gradativamente. A equipe da Espanha acaba trazendo mais qualidade para dentro do treinamento, e nossa equipe estará em um nível melhor para poder suportar esse treinamento.
Objetivo final
Vou fazer uma comparação: vivemos um momento como o dos bombeiros. Estamos no estado de alerta. Não sabemos quando o calendário internacional voltará. Então temos que estar com nossos atletas preparados para qualquer situação. Acredito que a Federação Internacional vá manter a mesma linha, fará um comunicado dois meses antes de começar. Mas, obviamente, quem começou antes, quem teve a oportunidade de trabalhar antes desses dois meses, com certeza tem uma possibilidade de chegar melhor nessas competições.
O que buscamos é colocar os nossos atletas em um padrão bom de Judô. Não dá para fazer uma periodização, porque não sabemos se volta em outubro, novembro, dezembro ou ano que vem. Nossos atletas precisam ficar em prontidão, não dá para ficar em casa esperando o que vai acontecer. Acredito que nossos atletas sairão daqui, após 45 dias, já em um nível técnico e físico muito mais evoluído do que chegaram.
Pós-Missão
Estamos organizando, trabalhando, orçando e vendo todas as possibilidades de dar continuidade, porque, no momento, os clubes estão com dificuldade de realizar seus treinamentos. Então, estamos programando uma continuidade quando retornarmos ao Brasil. E manter esse estado de prontidão em nossos atletas, para quando houver a sinalização da FIJ de que retornaremos. Aí sim focamos na competição e fazemos um trabalho individual de refinamento. Mas agora é tentar nivelar a seleção, colocar todo mundo em um mesmo patamar. Acredito que, após 45 dias aqui, esses atletas estarão neste estado de prontidão: prontos para qualquer direção que seja tomada, continuidade do treinamento ou competição daqui a dois meses.
Apoio do COB
Sem a iniciativa do COB, não teríamos condições de estar aqui. Foi um nível de exigência de documentos para poder entrar aqui que o COB teve a parceria com o Comitê Olímpico Português, com o governo português, solucionando esse problema burocrático para a nossa entrada. O COB foi bastante cuidadoso em todas suas medidas protocolares para que chegássemos com segurança. O centro de treinamento de Rio Maior é realmente espetacular.
(Foto: Alexandre Castello Branco/COB)
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