O adiamento da Paralimpíada de Tóquio para o ano que vem não foi o único impacto da pandemia do novo coronavírus (covid-19) no planejamento de Aline Rocha. A maratonista paralímpica da classe T54 (cadeirantes) também compete no esqui cross country (uma espécie de maratona na neve), modalidade da Paralimpíada de Inverno que será disputada em Pequim (China), cerca de seis meses após os Jogos na capital japonesa. Com o calendário mais apertado e a indefinição quanto às disputas qualificatórias para 2021, ela e o técnico Fernando Orso optaram por priorizar a disputa por medalhas na neve, em 2022.
“Os eventos de inverno se tornarão prioridade nesse momento, principalmente pelo fato de eles ainda estarem confirmados no calendário. Os eventos de verão [para Tóquio] foram todos cancelados e ainda não temos eventos marcados para 2021. Por isso, a mudança na prioridade do trabalho”, explica Orso à Agência Brasil.
Apesar de treinos e competições na temporada de neve sul-americana não poderem ser realizados, o calendário da Copa do Mundo de esqui cross country paralímpico está assegurado até agora, com início em Östersund (Suécia), em dezembro. Outras três etapas estão marcadas entre janeiro e março de 2021. “O retorno gradual das atividades, a partir de agosto, permitirá uma boa preparação para esses eventos”, garante o técnico de Aline, que é tetracampeã de cadeirantes na Corrida de São Silvestre e competiu na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. “Porém, não sabemos como será o protocolo de saúde nos países onde os eventos acontecerão”, afirma.
Aline e Orso (que também é marido da atleta) moram na região metropolitana de São Paulo, onde há uma flexibilização maior para atividades externas, em meio à quarentena, que em outras partes do território paulista. Mesmo assim, o trabalho dos últimos meses foi concentrado em casa, por segurança.
“Ela ficou 120 dias dentro do apartamento fazendo treinos com materiais adaptados. É um pouco mais difícil de fazer um trabalho de treinos aeróbios dentro de casa, pois necessitamos de um equipamento chamado skierg [uma espécie de esqui ergométrico, usado em academias de crossfit], com custo relativamente elevado. No caso da Aline, que treina e compete pelo atletismo, os treinos dessa outra modalidade permitiram a manutenção da condição física”, explica o técnico.
“Nesse momento, começamos a fazer alguns treinos em asfalto no bairro onde moramos para, posteriormente, quando autorizados, podermos treinar no Centro Paralímpico”, completa Orso. Por enquanto, no atletismo, só medalhistas em Paralimpíada ou no Mundial do ano passado foram liberados a utilizar o CT, segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Aline, que sofreu um acidente de carro aos 15 anos e ficou paraplégica, foi a primeira brasileira a disputar uma Paralimpíada de Inverno, há dois anos, em Pyeongchang (Coreia do Sul). Na ocasião, o melhor resultado da paranaense foi o 12º lugar entre as 22 atletas que concluíram a prova de cinco quilômetros. De lá para cá, a brasileira de 29 anos alcançou quatro top-10 na Copa do Mundo em provas diferentes, incluindo um terceiro lugar em 2018, na etapa de Vuokatti (Finlândia).
“O adiamento dos Jogos de Tóquio dificulta a preparação para participação nos dois eventos. Por essa razão, aumentaremos nossa dedicação aos eventos de inverno, com a meta de brigarmos pela conquista de uma medalha paralímpica já em Pequim, em 2022”, conclui Orso.
(Texto: Lincoln Chaves/Agência Brasil. Foto: Márcio Rodrigues/MPIX/CPB)
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