Três dos principais tenistas em cadeira de rodas do Brasil – Daniel Rodrigues, Gustavo Carneiro e Ymanitu Silva – já retomaram a preparação visando aos Jogos Paralímpicos de Tóquio (Japão), adiados para o ano que vem. Eles estão reunidos, desde o último dia 13, em Itajaí (SC), para um período de treinamentos.
Na verdade, Ymanitu já faz parte da equipe da ADK de Itajaí, desde abril. Por isso não foi tão afetado pela pandemia do novo coronavírus (covid-19). “Já estava aqui quando os [os tenistas] chegaram. E, em Santa Catarina, até agora, a gente não foi tão afetado aqui no clube. Fiquei parado, sem treinar apenas uns 15 dias”, revela o atleta durante entrevista à Agência Brasil.
Em relação à experiência de treinar ao lado dos demais tenistas, Ymanitu (da classe Quad, para atletas com deficiência em três ou mais extremidades do corpo) considera algo positivo. “Como eu sou o único da Quad, e os demais são da Open [diagnosticados com alguma deficiência nos membros inferiores], até o peso da bola é outro. Estou usando tudo isso para aprimorar meu jogo. Sem falar que considero o Daniel Rodrigues um irmão que o circuito mundial me trouxe”, afirma o catarinense, de 37 anos, que aos 24 sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégico.
Enquanto Ymanitu Silva ficou pouco mais de duas semanas fora das quadras, o mineiro Daniel Rodrigues sofreu bem mais com a quarentena. “Desde março não pegava na raquete. Todos estamos ganhando com essa retomada. Pelo circuito mundial estar parado, esse é o momento de trabalharmos forte para corrigir erros e melhorar o jogo”, avalia o atleta, de 33 anos, que amputou a perna direita, devido à má-formação congênita.
Além da pandemia, outro fator complicou os treinos do tenista Gustavo também em fase de treinamento em Santa Catarina. “Já tinha ficado um mês parado no início da pandemia. Depois consegui uma quadra ao ar livre e treinei por um mês e meio. Mas tive um acidente doméstico, uma queda, que me afastou do esporte por mais dois meses. Tênis já é um esporte muito solitário. E essa pandemia nos deixou ainda mais solitários. Então, essa chance de treinar com os colegas está sendo muito boa. A volta é essencial pela questão emocional, pela volta a desempenhar a nossa profissão e por treinarmos por um objetivo, que é a Paralimpíada de Tóquio”, explicou o tenista, de 47 anos, que passou por um câncer em 2013 e precisou amputar a perna esquerda quatro anos depois.
Jogos Paralímpicos
A pandemia também provocou o “congelamento” da posições da edição de março do ranking mundial. A listagem deixa o trio brasileiro praticamente garantido nos Jogos de Tóquio. Ymanitu Silva, por exemplo, ocupa a décima posição na classe Quad, sendo que os 12 primeiros têm a classificação garantida. “Estou quase dentro. Falta bem pouco. Por isso que decidi vir aqui para a ADK em Itajaí. Quero conquistar a vaga e depois brigar pela tão sonhada medalha em 2021”, deseja o atleta.
Já na classe Open, para não depender de outros critérios, os atletas precisam estar entre os 40 melhores do mundo. Por estar em 11º, Daniel Rodrigues já pode ser considerado como classificado para os Jogos. “Esse “congelamento” do ranking e a incerteza em relação ao retorno do circuito praticamente me colocam já na Paralimpíada”, comemorou o tenista. O outro mineiro, Gustavo Carneiro, ocupa a 37ª posição. “Posso dizer que estou 90% garantido. Mas ainda preciso de pontos nas próximas etapas do Circuito, assim que ele retomar. Vou me preparar para isso”, comentou.
Segundo os atletas, a Federação Internacional da modalidade (ITF) estuda o retorno do circuito mundial a partir de setembro deste ano, mas ainda sem uma definição oficial. A data limite para a definição dos classificados aos Jogos Paralímpicos é 7 de julho do ano que vem.
Os treinos em Itajaí são uma iniciativa do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Eles devem seguir até o próximo dia 7 de agosto. E todas as atividades seguem as recomendações dos protocolos das autoridades sanitárias para o retorno seguro à prática do tênis da CBT, e demais atividades esportivas. “Cuidado maior no clube é em relação às máscaras. Usamos sempre. A academia tem uma restrição grande em relação ao número de pessoas que podem frequentá-la ao mesmo tempo. Devemos respeitar o distanciamento também em relação aos nossos técnicos. E, depois dos treinos, todos devem deixar as quadras”, destacou Gustavo Carneiro.
(Texto: Juliano Justo/Agência Brasil. Foto: Ale Cabral/CPB)
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