Aos poucos as portas foram se fechando, primeiro as empresas, depois o comércio e por fim as nossas casas. Conforme as recomendações das autoridades de saúde e para a segurança de todos, no dia 17 de março os parques nacionais também foram fechados e, na sequência, outras áreas naturais protegidas, como parques municipais, reservas particulares e até mesmo as praias.
Parques Nacionais protegem áreas naturais com atrativos turísticos importantes, como as Cataratas do Iguaçu, o Cristo Redentor e as praias de Jericoacoara. A procura desses ambientes por visitantes gera renda para inúmeros pequenos negócios e comunidades. De acordo com o ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, em 2017 os visitantes gastaram cerca de R$ 2 bilhões, foram gerados aproximadamente 80 mil empregos diretos e R$ 2,2 bilhões em renda. Com o fechamento dos parques todos esses empregos e receita foram drasticamente reduzidos, afetando famílias que dependem destes recursos para sobreviver.
Criatividade, solidariedade e coletividade estão sendo fundamentais para encontrar alternativas que buscam minimizar a difícil situação de tantos trabalhadores. Algumas comunidades afetadas se organizaram. Na Área de Proteção Ambiental da Ilha do Combu (PA), por exemplo, onde a população local passou a vender seus produtos via internet e criou vouchers promocionais para visitas futuras. Contudo, como nem todos têm essa opção, a alternativa foi contar com o movimento de esforços coletivos. Para atender as comunidades diretamente impactadas no entorno dos parques onde atua, o Grupo Cataratas, lançou uma campanha de arrecadação onde os doadores são contemplados com ingressos para as Cataratas do Iguaçu, o BioParque do Rio, o Cristo Redentor e o AquaRio. Com o valor arrecadado estão sendo distribuídas cestas básicas para as comunidades e equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde que estão na linha de frente dos hospitais do Rio de Janeiro.
Na região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), a AVE – Associação de Amigos dos Parque Nacional dos Veadeiros estima que 3.000 pessoas estão em situação de vulnerabilidade devido o fechamento do parque e ao encerramento das atividades de turismo. Uma campanha solidária foi criada para segurança alimentar dos afetados enquanto a região se prepara para o retorno dos turistas.
Estar ao ar livre nunca foi tão desejado. Estar na natureza sempre significou saúde. E somente a Vitamina N (N de natureza), como afirma o escritor e pesquisador Richard Louv, nos traz restauração e qualidade de vida, entre muitos outros benefícios. Não precisa ser no meio de uma floresta ou em uma praia paradisíaca, basta abrir a janela de casa que ela está ali convidando para uma experiência por meio do céu, das nuvens, ou até mesmo daquele vasinho de flores que exige o seu cuidado. O importante é procurar o que mais te agrada, te deixa confortável e se conectar.
Enquanto isso, podemos aproveitar para planejar onde e como vai ser a próxima dose de saúde em uma área natural. A natureza nos mostra o quanto cada ser precisa estar conectado e em cooperação para que tudo esteja em equilíbrio. É com essa lição que comunidades, empresas e instituições estão conectadas, se preparando para receber a todos de forma segura, no tempo certo e contando, é claro, com a cooperação dos visitantes para que tudo volte ao equilíbrio. Seja para cochilar na sombra ou tomar um banho de sol para repor as vitaminas; seja em trilhas para diversão ou para se exercitar. Meditar, orar, brincar, ou apenas observar. Quando puder, tome sua dose de vitamina N! Os parques e as áreas naturais oferecem saúde e esperam a todos com o cenário perfeito para as selfies.
* Ginessa Corrêa Lemos é Administradora da Reserva Natural Salto Morato na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
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