Grupos antivacina estão disseminando nas redes que uma proteína usada na confecção dos imunizantes é tóxica e provoca sérios danos ao organismo. É uma notícia mentirosa, uma fake news divulgada com o objetivo de prejudicar as campanhas de imunização, como explicam especialistas ouvidos pelas agências de checagem de notícias
Uma das mensagens que tentam incutir medo da vacina nas pessoas diz que as proteínas spike das vacinas mRNA entram na corrente sanguínea, se espalham por todo o corpo e, dependendo do estado clínico da pessoa, provocam coágulos sanguíneos, doenças cardíacas, problemas de fertilidade ou reprodução e danos cerebrais. O texto falso também diz que a proteína spike é patogênica, quase inteiramente responsável por danos ao coração e aos vasos sanguíneos, bem como por se acumular em vários órgãos e tecidos, como fígado, rins, baço, medula óssea e glândulas suprarrenais, deixando concentrações muito altas nos ovários.
As agências de checagem de notícias, que estão prestando um serviço de esclarecimento de grande importâncias nesse período de pandemia, quando as mentiras se espalham com a mesma rapidez do vírus morta,, ouviram especialistas, que são unânimes em dizer que as alegações são completamente falsas.
“Essas vacinas aprovadas hoje não têm nada que sugira que possam ser tóxicas ou letais ao ser humano. Pelo contrário”, diz o virologista Rômulo Neris, doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“A gente já tem os dados de segurança dessas vacinas, que são fundamentais para avançar para etapas seguintes, publicadas, disponíveis há quase um ano agora. Os primeiros dados da vacina da Pfizer, da Moderna, vacinas que usam vetor viral como da AstraZeneca, já estão disponíveis desde julho, setembro do ano passado. E o acompanhamento desses voluntários que fizeram parte dos testes até agora não mostrou nenhum tipo de sequela, nenhum tipo de reação adversa grave, associada à vacinação. É exatamente por isso que elas são consideradas apropriadas para uso humano. Foram aprovadas não só no Brasil, mas por várias outras agências de saúde rigorosas, confiáveis, como a FDA, por exemplo”, diz.
Neris destaca que as vacinas que são citadas na mensagem falsa são compostas basicamente de RNA mensageiro envolto em gordura. “A quantidade de RNA mensageiro que essas vacinas contêm é irrisória perto da quantidade de RNAs mensageiros que o nosso corpo produz todos os dias. Esse material genético não tem como fazer mal pra gente só por estar dentro do nosso corpo”, diz. Ele destaca que esse material genético não é completo, ou seja, ele não é capaz de produzir um vírus infeccioso, não é capaz de causar uma replicação ativa do vírus. Por consequência, não tem como fazer uma pessoa ficar doente.
Quanto à abundância da proteína spike no organismo, Neris lembra que indivíduos infectados ficam doentes e têm complicações não só por causa do aumento da presença dessa proteína, que é uma proteína do vírus que ele produz para se multiplicar.
“Basicamente o que acontece é que um vírus, o selvagem, o coronavírus, quando infecta alguém, ele se multiplica extensivamente no trato respiratório e, como consequência dessa infecção, as células infectadas morrem. Isso não acontece em indivíduos que são vacinados. Então, não é simplesmente a proteína do vírus que é responsável por causar dano e, por exemplo, matar as pessoas. A gente tem alguns poucos relatos de reações adversas graves à vacina, mas esses relatos são extremamente raros, isso não é frequente na vacinação e exatamente por isso não foi considerado um obstáculo à aprovação de uso delas. São reações adversas graves que acontecem na mesma medida que acontecem também reações adversas graves pra outros medicamentos importantes pra saúde humana e nem por isso a gente deixa de usá-los.”
Veja mais sobre esse assunto na checagem do Fato ou Fake
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