Elas no comando: os bares de Maringá que têm mulheres à frente e muito a dizer

Em meio à disputa do Comida di Buteco, elas mostram que ser dona de bar é também um ato de coragem, criatividade e transformação social.

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    Por trás de copos gelados, receitas autorais e encontros que atravessam gerações, há mulheres que transformaram os bares de Maringá em espaços de resistência, acolhimento e reinvenção. Em um universo historicamente dominado por homens, elas assumem os balcões, comandam as cozinhas, fazem a gestão dos negócios e imprimem suas marcas em ambientes onde hospitalidade e afeto são ingredientes principais. Nesta edição do Comida di Buteco, dos 23 bares participantes, ao menos dez bares da cidade têm mulheres no comando.

    Os bares Atari, Bar Apenas bar, Mercearia Paraná, Mott Oficina Café e Doce Caos são alguns dos exemplos dessa virada de chave no setor. Todos estão participando do concurso e trazem não só propostas criativas como narrativas potentes de empreendedorismo, luta e pertencimento. Entre os estabelecimentos que também contam com mulheres à frente estão: Armônico, Bar do Ponce, Chapa Quente, Severina e Venda du Carmo.

    Segundo levantamento do Comida di Buteco 2024, 42% dos bares no Brasil já são geridos por mulheres, e 55% do público que frequenta botecos também é feminino. Essa presença se reflete de forma contundente em Maringá, onde elas estão redefinindo o que significa ser “dona de bar”.

    Atari: o boteco que nasceu para ser diverso – e abriu caminho para muitos outros

    Há 15 anos, o Atari Bar foi pioneiro em Maringá ao abrir as portas para o empoderamento feminino. Fundado por Tatiana Vieira e Gimena Dipp, o bar foi o primeiro a quebrar os estigmas de gênero dentro dos bares da cidade, mostrando que as mulheres poderiam não só frequentar, mas também liderar e inovar no setor. “Na época, os bares eram lugares onde a mulher estava restrita à cozinha. Nós queríamos quebrar isso”, relembra Tatiane Vieira Leite, sócia do Atari. Com esse propósito, o Atari Bar abriu portas para muitas outras mulheres e se consolidou como referência em inclusão e inovação.

    “Sempre foi difícil. Até hoje em dia, de vez em quando, rola preconceito. Mas não damos muita bola, quando se é mulher e está na comunidade LGBTQIA+, lutar tem que estar no nosso DNA”, finaliza Tatiane, com a firmeza que é marca registrada do Atari.

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    Tatiana Vieira e Gimena Dipp, sócias-proprietárias do Atari Bar

    Mercearia Paraná: o “Bar da Tia” que conquistou a Zona 7

    Outro exemplo marcante de liderança feminina é a Mercearia Paraná, um espaço que começou como uma simples mercearia e hoje é um ponto de encontro tradicional, especialmente para os universitários de Maringá. Sob o comando de Angelita, a Mercearia se transformou em um lugar acolhedor, conhecido carinhosamente como “Bar da Tia”.

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    Angelita Mattos, proprietária da Mercearia Paraná

    Ela lembra com carinho o início da trajetória: “Eu e meu ex-marido compramos a mercearia e tocamos por 20 anos. Era só uma merceariazinha mesmo”. Após a separação, Angelita enfrentou desafios, mas com determinação e coragem, transformou a Mercearia em um dos bares mais queridos da cidade. “Hoje, é a minha segunda casa”, diz ela, que permanece firme à frente do negócio, recebendo seus clientes com simpatia e o clássico “Aqui é casa!”

    Mott Oficina Café: oficina também é lugar de mulher

    O Mott Oficina Café, fundado por Aurélia Motti e Aline Motti, é outro exemplo de como as mulheres vêm inovando no setor de bares em Maringá. O bar funciona em um espaço inusitado, onde o café e a mecânica se encontram. Enquanto Eduardo Motti cuida da oficina, Aurélia e Aline tocam o café e o bar com uma proposta única, promovendo até workshops para ensinar mecânica básica para mulheres. “Era um sonho de uma década, e finalmente, depois de muito trabalho e dedicação, conseguimos transformar o Mott Oficina Café em um lugar que representa nossa paixão pelo que fazemos”, conta Aurélia. O bar, que oferece pratos criativos e um ambiente acolhedor, tem conquistado muitos admiradores.

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    Doce Caos: entre o afeto e o extravaso

    O nome pode parecer contraditório à primeira vista, mas é justamente dessa ambiguidade que nasce a alma do Doce Caos. Criado por duas amigas de infância, ainda na casa dos vinte e poucos anos, o bar surgiu entre conversas de boteco e ideias mirabolantes, movidas pelo desejo de criar um espaço onde elas mesmas gostariam de estar — um lugar que fosse aconchegante como uma casa e, ao mesmo tempo, vibrante como uma festa. “A gente queria algo que tivesse conforto, mas também aquele caos bom, de extravasar depois do trabalho, de relaxar. Daí veio o nome: Doce Caos”, explica Luana Franco do Canto, uma das sócias fundadoras.

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    Luana Franco e Janaína, sócias-proprietárias do Doce Caos

    Instalado em uma casa antiga na Zona 7, nos arredores da UEM, o bar acolhe como lar. Luana e Janaína, amigas há mais de uma década, estão à frente de tudo. Desde a pintura das paredes até o cardápio e os drinks, cada detalhe é pensado para proporcionar uma experiência agradável, inclusiva e cheia de afeto.

    “A gente tenta fazer com que todo mundo se sinta bem no nosso espaço, do jeito que a gente gostaria de se sentir em qualquer outro lugar.” Com quase dois anos de funcionamento, o Doce Caos já se firmou como um dos bares mais autênticos da cena universitária maringaense.

    Bar Apenas Bar: mães também são boêmias

    Dri Marganha não cresceu cercada por exemplos de mulheres empreendedoras ou cozinheiras, mas encontrou na própria história um ponto de partida para transformar a cena boêmia de Maringá. Filha de uma costureira e formada em moda, sempre foi apaixonada por mesa de bar, música brasileira e encontros — mesmo sem se sentir plenamente acolhida nesses espaços. “Quase nunca me via representada como mulher, e muito menos como mãe. Faltava um lugar onde eu pudesse existir por inteiro”, conta.

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    Dri Marganha, à frente do Bar Apenas Bar

    Foi dessa inquietação que nasceu o Bar Apenas Bar: um boteco com cara de Brasil, onde mulheres, mães e pessoas da comunidade LGBTQIA+ possam se sentir bem-vindas, livres e leves — e celebrar sua boemia sem culpa. O Apenas é, ao mesmo tempo, um boteco raiz e um espaço de acolhimento, onde a brasilidade pulsa forte, com trilha sonora afetiva, ambientes descontraídos e uma clientela diversa que se reconhece no propósito do lugar. “Por ser comandado por uma mulher, acho que já rola uma identificação natural. É um espaço onde todo mundo se sente à vontade — especialmente quem nem sempre se sente bem-vindo em bares mais tradicionais”, afirma Dri.

    De maneiras diferentes, essas mulheres fizeram mais do que abrir bares: elas fincaram território em um cenário que por muito tempo foi dominado pelos homens. Criaram espaços de afeto, de acolhimento, de resistência e, claro, de bons drinks e boas conversas. Seja com a força de quem reergueu um balcão quase sozinha, como Tia Angelita; com a coragem de ocupar um espaço inóspito e torná-lo seguro para outras mulheres, como Tatiane e Gimena; ou com a criatividade de reinventar um negócio a partir de um sonho antigo, como Aurélia e Aline, todas elas têm algo em comum: fizeram do boteco uma extensão da própria história.

    E entre copos, gargalhadas e batalhas diárias, seguem transformando Maringá em uma cidade mais diversa, inclusiva e plural — uma mesa por vez.

    Roteiro de sabores em Maringá

    Em 2025, o Comida di Buteco transforma Maringá em um verdadeiro circuito gastronômico, reunindo bares da cidade em uma disputa saborosa e democrática. Até o dia 4 de maio, moradores e visitantes podem percorrer os estabelecimentos participantes, provar os petiscos criados especialmente para o concurso e votar nos seus preferidos. O público é parte essencial da competição: além dos jurados oficiais, é você quem ajuda a eleger o melhor buteco da cidade. A lista de participantes e horários de funcionamento está disponível em: www.comidadibuteco.com.br.

    Uma história de tradição e sabor

    Criado há 25 anos em Belo Horizonte (MG), o Comida di Buteco nasceu com o propósito de valorizar os butecos tradicionais e a culinária de raiz. Ao longo dos anos, o concurso cresceu e hoje reúne cerca de 1.200 bares em todo o Brasil. Desde 2016, a competição acontece em duas fases: após a escolha dos vencedores locais, um novo corpo de jurados visita os campeões regionais para eleger o Melhor Buteco do Brasil — um título nacional anunciado em julho, durante evento em São Paulo (SP).

    Patrocinadores e apoiadores

    O Comida di Buteco 2025 conta com o apoio de importantes marcas e instituições:
    Cerveja oficial: Eisenbahn

    Apresentador: McCain

    Patrocínio: Santander/Getnet, Copa Energia, FYS, Sebrae
    Promoção: RPC TV

    Apoio: Chandon, Germer, Rádio Mundo Livre, Visite Maringá, Fecomércio Sesc, Abrasel, Viaje Paraná, Apostou, Aracalce, NEOOH, Piraquê, Weber Acabamentos, Dom Novilho

    Comida di Buteco Produções Gastronômicas LTDA
    Instagram: @_comidadibuteco
    Site: www.comidadibuteco.com.br

    *Conteúdo produzido pela Assessoria de Imprensa.

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