30 anos de Sol Propaganda: Thomé fala sobre a evolução da agência e da publicidade

Walter Thomé Junior relembra os bastidores da publicidade nos anos 90, a transformação do setor e os novos rumos da comunicação

  • A agência maringaense Sol Propaganda completou 30 anos de atuação no mercado publicitário em março deste ano. Fundada em 1995, a agência viveu momentos históricos da publicidade no Brasil, desde os meticulosos trabalhos em videotape, passando pela chegada dos primeiros computadores e da internet, até as aceleradas transformações do marketing digital.

    Quem personifica essa história é Walter Thomé Junior, diretor de criação e sócio-proprietário da Sol Propaganda.

    Publicitário desde 1975, Thomé iniciou a carreira em São Paulo e passou pela MPM, maior agência do país na época.

    Paulista de nascimento, ele relata como entrou no mercado publicitário em 1975:

    Bom, foi QI: quem indica. Na verdade, é o seguinte: meu pai foi publicitário, mas faleceu muito cedo. Eu tinha dois anos de idade, e ele, apenas 31. Ele trabalhou no departamento de propaganda da General Motors do Brasil, em São Caetano, nos anos 50. Era uma pessoa muito querida e inteligente. Foi enviado aos Estados Unidos para fazer cursos e, ao voltar, recebeu uma proposta para sair da General Motors e trabalhar em uma agência de propaganda, que hoje, depois de várias fusões, é a AlmapBBDO. Mas, na época, se chamava Interamericana. Anos depois, quando eu, jovem, estava em busca de um emprego, procurei antigos colegas do meu pai. Eles me receberam muito bem. Fiz alguns testes e comecei como revisor e redator júnior, em 1975. Tinha acabado de fazer 18 anos e ainda não tinha formação superior.”

    Ainda em São Paulo, Thomé recebeu um convite para trabalhar na MPM, a maior agência de publicidade do Brasil na época. Ele aceitou a oportunidade e mergulhou na cena efervescente da propaganda paulistana. “O ambiente era bastante estimulante. Tive muita sorte de trabalhar ao lado de algumas feras do mercado”, relembra.

    Foi lá que, pela primeira vez, surgiu a proposta para que viesse trabalhar em Maringá. 

    Num primeiro momento, ele preferiu seguir na MPM, afinal, fazia sentido apostar na carreira dentro da maior agência do Brasil. No entanto, anos depois, com a filha ainda pequena e a rotina paulistana cada vez mais desgastante, a proposta de Maringá voltou a surgir, e, dessa vez, ele decidiu aceitar.

    “Morava no meio da muvuca, com trânsito infernal. Pra levar minha filha na pracinha, precisava marcar na agenda. Pensei: ‘Quero dar uma infância melhor, menos tumultuada’. Foi quando a proposta de Maringá voltou a surgir, e, dessa vez, aceitei.”

    Chegando a Maringá, ele foi trabalhar na Gol Propaganda, uma agência local que já possuía certa trajetória no mercado. A Gol era reconhecida por suas campanhas publicitárias bem estruturadas e por um forte trabalho na produção de materiais para veiculação em TV e rádio. No entanto, com o passar do tempo, surgiu a necessidade de uma reestruturação interna.

    Em 1995, Walter Thomé Junior e sua esposa, Cidinha Coquemalla, assumiram a gestão da empresa. E, com isso, veio a necessidade de marcar essa transição. A mudança do nome foi um dos primeiros passos. “Queríamos mostrar que era uma nova fase, mas sem perder a essência. Por isso, mudamos só uma letra: de Gol para Sol. Achamos que ficou bacana, porque ‘Sol’ tem uma simbologia forte: representa iluminação, clareza, energia.”

    Com a chegada do terceiro sócio, Vanderlei Cirino, a Sol Propaganda nasceu da forma como se conhece hoje, carregando um novo posicionamento e uma abordagem voltada para acompanhar as transformações do mercado publicitário. Desde então, a agência acompanhou de perto algumas transições importantes, passando pela era dos VTs comerciais, pela chegada dos primeiros computadores e pela revolução digital.

    Registro de 2005 com os três sócios da Sol Propaganda: Walter Thomé Junior, Cidinha Coquemalla 
    e Vanderlei Cirino.

    A publicidade em Maringá nos anos 90

    Nos anos 90, fazer publicidade em Maringá era um desafio. Embora a cidade contasse com veículos completos — TV, rádio, gráficas, jornais, revistas e outdoor — havia grandes limitações. “Os outdoors, por exemplo, eram feitos com serigrafia — nada de fotos ou degradês, apenas cores chapadas. Fomos os primeiros a fazer um outdoor com fotografia colorida em Maringá, graças a uma técnica aprimorada de serigrafia em quatro cores”, relembra Thomé.

    A publicidade televisiva também tinha seus desafios, mas possibilitava criações memoráveis. A Sol Propaganda foi responsável por diversas campanhas da Dudony, tradicional loja paranaense de móveis e eletrodomésticos. Um dos momentos mais marcantes foi a série de comerciais estrelada por Nair Belo e Rogério Cardoso, já nos anos 2000. 

    “Os VTs da Dudony, com a dupla Nair Belo e Rogério Cardoso, eram um caso à parte. Eles vinham a Maringá gravar por dias seguidos, de manhã até a noite. Preparávamos roteiros para meses, prevendo datas como Carnaval e Páscoa, com espaços flexíveis para inserir ofertas específicas depois.”

    “Eles eram talentosíssimos. Rogério transformava até o texto mais simples em algo hilário com sua interpretação. Nair tinha aquela risada contagiante no meio das falas. […] Trabalhar com humor exige técnica, mas quando dá certo, é mágico. Inventávamos personagens absurdos, e eles elevavam tudo com um timing perfeito.”

    Transição para o digital

    A chegada dos computadores nas agências publicitárias representou um marco de transformação não só na publicidade, mas para todo o universo do trabalho. “Nós atendíamos um dos principais fornecedores de computadores e materiais de informática, e ele se tornou uma figura bastante disputada, com diversas empresas oferecendo permutas para conseguir equipamentos.”

    Naquela época, a presença de um computador em uma agência de publicidade ainda era algo raro. “Quando trabalhei na maior agência do Brasil, a MPM, eles montaram uma mini estação com um computador enorme. O diretor de arte sentava ao lado de uma operadora especializada e precisava descrever cada ação: ‘faça um retângulo ali’, ‘mude essa cor’. Era um trabalho minucioso e lento, porque o profissional de arte não entendia de computação e a operadora não entendia de arte.”

    A transição foi rápida. “Quando cheguei a Maringá, depois de dois anos, já não havia mais agências relevantes que não tivessem um computador. A mudança foi tão abrupta que alguns excelentes profissionais, verdadeiros artistas, não conseguiram se adaptar e deixaram o mercado. No início, a proporção era de um computador para cada oito pessoas. Hoje, é inimaginável trabalhar sem um.”

    A revolução seguinte veio com a internet. A revolução seguinte veio com a internet. “O primeiro provedor de internet de Maringá foi nosso cliente, e isso nos permitiu avançar rápido. A Sol Propaganda foi a segunda agência do Paraná a ter um site, a primeira do interior. Nosso site foi ao ar em 1997, o que, na época, era um grande diferencial. A pioneira, que era de Curitiba, já não existe mais, mas a Sol continua presente, mostrando o quanto essa transição foi determinante para a consolidação da nossa agência.”

    Na foto, os sócios da Sol Propaganda recebem homenagem da Associação Comercial e Empresarial de Maringá, entregue às empresas com mais tempo de associação.

    A virada para o marketing político e governamental

    A adaptação da Sol Propaganda ao mercado de comunicação governamental e política foi uma resposta natural às transformações no setor publicitário. Com a flexibilização dos repasses de mídia, muitas agências do interior perderam força de negociação. Frente a esse cenário, os contratos com o setor público surgiram como uma alternativa estratégica.

    A participação em licitações tornou-se uma nova frente de atuação para a Sol Propaganda, que passou a equilibrar clientes privados e públicos. Além disso, com a experiência adquirida na comunicação pública, a agência passou a atuar com campanhas eleitorais.

    Para Thomé, há também uma gratificação em cumprir uma função social dentro da comunicação política. Ele explica que, por mais que algumas pessoas pensem que tudo é propaganda para o partido no poder, não é bem assim. “As campanhas governamentais servem para conscientizar a população sobre temas sensíveis e importantes. Se tem uma epidemia de dengue, por exemplo, a prefeitura tem mais é que fazer uma campanha para ajudar a combater.” 

    Atualmente, a Sol desenvolve trabalhos em parceria com diversas prefeituras, principalmente no Paraná, além de coordenar campanhas eleitorais para candidatos de todo o estado.

    O futuro

    “O trabalho é permanente”, afirma Thomé, que acumula quase 50 anos de experiência na publicidade. Para ele, o mercado mudou completamente desde o início de sua trajetória, e o aprendizado é contínuo. A Sol Propaganda pretende crescer e se consolidar nos segmentos em que atua, ampliando sua capacidade de conectar empresas e governos às pessoas.

    Comentários estão fechados.