Ele começou como vendedor de loja, venceu Hollywood e hoje expande negócios em Maringá

A história do empresário paranaense Rocky Silva parece sair de um filme, mas tem o pé vermelho

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    No famoso filme de boxe dos anos 70, Rocky Balboa é um cobrador de dívidas quando termina por nocautear o então campeão mundial dos pesos pesados. Mas não é preciso ir longe para encontrar histórias com ares hollywoodianos, como a protagonizada por Sylvester Stallone: Maringá tem o seu próprio Rocky. E sua história é tão boa quanto.

    Talvez você tenha ouvido falar do empresário paranaense que venceu um processo contra a gigante Hollywood. O caso aconteceu em janeiro de 2022 e ganhou destaque em portais de notícias de todo o Brasil.

    Na época, Rocky, que tem de fato o nome Rocky, foi envolvido em uma ação judicial que contestava o nome dado à sua empresa, a Rocky Hunters. Especializada em headhunting, consultoria de RH e assessoria, a empresa se orgulha por “ajudar a potencializar recursos humanos e profissionais a expandir a sua empregabilidade”.

    Com o processo finalizado e vencido por Rocky, o recado foi dado para Hollywood. Mas a história vai além. 

    De vendedor de loja a multiempresário

    Filho de pai bancário e nascido em Ponta Grossa (PR), Rocky deu os primeiros passos como vendedor em uma loja varejista na capital paranaense. Logo depois, mudou-se para Blumenau (SC), onde deu aulas de jiu-jitsu e chegou a ser modelo para importantes marcas nacionais de vestuário.

    Nessa época, tinha o sonho de me dedicar ao jiu-jitsu, mas acabei voltando pra Curitiba, segui estudando e voltei a trabalhar no setor corporativo— relembra.

    Da paixão pelo tatame, surgem outras histórias interessantes, como a de Rocky ser o responsável pelo apelido do campeão mundial de UFC, Maurício Shogun. O lutador explica: 

    De volta à capital, Rocky ingressou na faculdade de Administração e começou a atuar como representante comercial de um plano de saúde. Ali, as coisas começaram a tomar um rumo diferente.

    Em pouco tempo, virou campeão de vendas. A performance o levou a novos cargos: supervisor, gerente, e depois diretor de empresas maiores. Com isso, também vieram as mudanças de cidade.

    Passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Natal, entre outras.

    No Nordeste, a história foi chacoalhada. Em Natal, sua esposa Rafaela — advogada que conhecera em Porto Alegre — ficou grávida. O casal decidiu que era hora de voltar para o Sul.

    Entendemos que seria difícil ter um filho só nós dois, sem família por perto. A família dela é do Rio Grande do Sul, a minha do Paraná. Voltei para assumir uma diretoria em Curitiba. Minha filha nasceu lá. Mas, em Curitiba, eu pensei: “Poxa, minha infância foi numa cidade do interior. A da minha esposa também. Eu precisava proporcionar isso pra ela, não é? Uma base mais parecida com a nossa”.

    Com essa ideia em mente, começou a enviar currículos para diversas cidades do interior: Joinville, Ponta Grossa, Maringá…

    Até que o telefone tocou. Era DDD 44.

    O legado em Maringá

    Rocky havia enviado currículos para empresas de várias cidades do Brasil. Quando o convite de uma delas chegou, ele e Rafaela decidiram encarar mais uma mudança: era hora de fazer as malas rumo a Maringá.

    Nos três anos seguintes, Rocky alcançou resultados expressivos dentro da empresa. Apesar das propostas de grandes players em cidades como São Paulo e Porto Alegre, ele optou por permanecer. Rafaela, à época, já ocupava cargos importantes no meio jurídico da cidade, e a família começava a fincar raízes na terra vermelha do interior paranaense.

    Mesmo com o rápido sucesso em Maringá, ele ambicionava crescer ainda mais e decidiu empreender.

    Montou uma empresa de vendas e passou a representar bandeiras de cartões de benefícios. Mas, como nos filmes, o protagonista precisa enfrentar desafios, e a empresa passou por algumas dificuldades. 

    Em uma das visitas comerciais, um cliente recusou a proposta de troca de cartão — mas fez uma pergunta decisiva:

    — Como você fez pra melhorar o resultado daquela empresa que trabalhou?

    Um tanto atordoado pela repentina mudança de assunto, Rocky falou sobre diagnóstico, treinamento e otimização de processos. A conversa acabou virando um convite para prestar uma consultoria pontual. Nascia ali o embrião da Rocky Hunters.

    O boca a boca fez o resto.

    Com a demanda crescendo, Rocky chamou um amigo para um café — Fernando, o “mago das franquias”, brinca. Foi numa padaria da cidade que surgiu a ideia do nome.

    — Teu nome é legal, Rocky. Mas o sobrenome não ajuda muito. Você sempre trabalhou com vendas, com busca de profissionais. Isso é hunter. Rocky Hunters! 

    O domínio estava disponível. Na mesma hora, Rocky registrou o site.

    O logotipo veio logo depois. Inspirado no gesto ancestral de vitória — de atletas da Grécia Antiga a comemorações como a de Pelé —, ele pediu para a esposa tirar uma foto sua de braços erguidos, contra a parede branca do apartamento. Editou no Paint e criou uma versão monocromática. Estava ali o símbolo da superação que desejava carregar na marca.

    Hoje, a Rocky Hunters é referência em headhunting, recrutamento e consultoria em recursos humanos. A empresa atua na busca de profissionais qualificados em todo o país, além de oferecer suporte para transição de carreira, recolocação de líderes e treinamentos voltados à gestão de pessoas.

    Além da Hunters, Rocky também comanda a R2 Soluções Empresariais, voltada à intermediação de produtos e serviços para empresas. O portfólio inclui benefícios corporativos, soluções para imobiliárias e sistemas de gestão empresarial.

    E ainda participa da rotina do escritório de advocacia da esposa, Rafaela Noble. Natural de Bagé (RS), ela é advogada há 16 anos, especialista em Direito de Família e Patrimonial, com mestrado pela UEL e trajetória sólida como professora universitária e conselheira da OAB.

    Rafaela Noble é advogada formada pela URCAMP, na Campanha Gaúcha, com especialização em Mediação e Arbitragem. Nesta área, teve notável contribuição na implementação de comissões de mediação em diferentes localidades e atuou como conselheira da OAB. Também foi professora em instituições como a PUC, UNICV e ESA-OAB.

    Depois de rodar o Brasil em cargos no mundo corporativo, viver momentos decisivos com a família, é em Maringá que essa história tem chão para seguir caminho. Colocando em perspectiva, Rocky relembra: 

    “Eu lembro de andar de ônibus lotado em Curitiba, vendo os carros passarem mais rápido, com gente sozinha, com conforto. Pensava: ‘o que eu tenho que fazer pra estar ali?’. A resposta era estudar mais, crescer na carreira. Um dia, construíram um prédio lindo na cidade, estilo gótico, e eu sonhava em trabalhar lá. Seis meses depois, virei gestor de uma operação dentro daquele prédio. Tudo foi consequência de uma coisa levando à outra. Quando decidi empreender, achei que sabia muito por ter sido executivo, mas descobri que o empresário precisa saber muito mais. Cada passo foi duro. Nunca foi fácil.”

    A história é essa: com direito a drama de roteiro — mas que foi muito além de Hollywood.

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