Ele entregava café em uma cooperativa em Minas Gerais, nunca havia trabalhado em uma instituição financeira, mas o destino o trouxe a Maringá e a presidência da Sicredi União PR/SP, a 4ª maior cooperativa de crédito do Brasil e a maior do sistema Sicredi. Em entrevista ao Maringá Post, Wellington Ferreira, o Empresário do Ano de 2019 em Maringá, fala sobre as dificuldades da década de 1990, o momento de expansão e o futuro.
“Antes de vir para Maringá, eu entregava café em uma cooperativa. Quando vim para Maringá e fui trabalhar com lavoura, fui procurar a Cocamar e comecei até a entender um pouquinho mais de cooperativismo”, lembra Ferreira. Tempo depois, o cooperado foi convidado a participar do Conselho Fiscal da Cocamar.
“Tive dois mandatos. Aí me convidaram para participar da cooperativa de crédito. Era a Credimar na época, que funcionava dentro da Cocamar. Fiquei um mandato no Conselho Fiscal, quase um mandato no Conselho de Administração e, numa dificuldade que a cooperativa atravessava, fui convidado pela central para assumir a presidência da cooperativa de crédito. Nunca tinha tido contato, contato com instituição financeira, banco, nada”, conta.
A falta de experiência não foi o único desafio ao assumir a presidência. A cooperativa de crédito era pequena e só podia atender a produtores rurais. “A gente vinha de uma crise do algodão, muita dificuldade, patrimônio negativo. Já vinha uma situação difícil do Plano Sarney e Plano Collor, que foram um desastre, e ainda deu crise na agricultura.”
Em julho de 1997, Wellington Ferreira assumiu interinamente a presidência. “Assumi mais como interino, só para tocar até a eleição do novo presidente.” Ferreira foi convencido a permanecer no cargo e, em março de 1998, foi eleito presidente da Credimar. A principal estratégia foi procurar todos que pudessem ajudar.
“Neste período na Cocamar tive contato com muita gente. E quando foi para assumir a cooperativa, fui atrás de todos. Falei a eles: eu vou assumir a cooperativa, mas vocês precisam me ajudar. Sozinho eu não consigo recuperar a cooperativa, mas se todo mundo ajudar, contribuir, nós vamos trabalhar”, conta.
O dinheiro era escasso e os associados com mais condições fizeram operações financeiras para garantir o apoio aos pequenos produtores. “iniciamos o trabalho, mais de conscientização, de muita conversa, porque o dinheiro era pouco. Pegávamos aquele que tinha condições de pegar dinheiro no Banco do Brasil. Ele pegava e colocava dinheiro na cooperativa para conseguirmos atender aqueles que não conseguiam no Banco do Brasil, que não gostava de produtor pequeno.”
Eram 500 produtores rurais associados a Credimar. Muitos, tinham conta apenas na cooperativa e, se o negócio precisasse fechar, muitos pequenos produtores teriam grandes problemas para obter financiamentos. Ferreira lembra que a Cocamar apoiou bastante, assim como a central Sicredi no Paraná. Aos poucos, a situação melhorou.
“Começamos um trabalho de recuperação e, de lá para cá, construímos a quarta maior cooperativa de crédito do Brasil e a maior cooperativa do Sistema Sicredi. Fomos a última cooperativa a entrar no Sicredi. Todas entraram em 1995, mas nós só entramos em 1998 depois que resolvemos os problemas internos, recuperamos o nosso patrimônio e fomos autorizados a entrar no sistema Sicredi”, diz.
De lá para cá, foram 20 anos de grandes transformações. Ferreira lembra com orgulho que em 2002, um grupo de Maringá viajou a Alemanha para aprender sobre cooperativismo. No ano de 2018, a visita foi retribuída. “Vieram entender porque fomos a cooperativa de crédito que mais cresceu em 2018 e que estávamos fazendo para crescer sempre.”
Ele destaca que o Sicredi União PR/SP nunca deixou “o jeitão simples de tratar as pessoas, de respeito às pessoas. Temos o propósito de pensar em transformações, mais que transações financeiras. Valorizamos as transformações das pessoas, da comunidade em que a gente atua, geramos desenvolvimento e trabalhamos muito firme neste propósito. O resultado é importante, mas é consequência de tanta gente que vem e trabalha, esse resultado que a gente consegue reverte para todos que participam da cooperativa”, afirma.
Outro fato importante na trajetória da cooperativa de crédito foi em 2003, quando saiu uma resolução do Banco Central que permitiu a livre admissão nas cooperativas. “Tivemos que transformar a nossa. Foi uma negociação com os associados. O pessoal falava, agora vocês vão esquecer do produtor rural, vão começar a atender empresários, comércio e esquecer da agricultura. Dissemos que não, que poderiam ficar tranquilos porque nós nunca vamos deixar de olhar para a agricultura”, relata.
Atualmente, a Sicredi União PR/SP tem 45% dos negócios vinculados à agricultura e 55% a empresários. Mas temos que lembrar que somos o maior repassador de crédito rural do Brasil entre os bancos privados. Só perdemos para o Banco do Brasil. É a prova que não esquecemos os nossos fundadores”, diz orgulhoso.
Nos últimos cinco anos a cooperativa também foi premiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDS), como o maior repassador de recursos para a agricultura familiar. “A gente tem um carinho especial por isso, até porque surgimos dentro da Cocamar também. Nossa origem é do agronegócio.”
Desde o ano passado, o Sicredi União PR/SP expandiu a atividade em várias cidades. Em especial em Maringá, novas agências foram criadas e há mais investimentos pela frente.
“Tínhamos o planejamento há algum tempo. Tínhamos cinco agências na cidade e vamos para para dez. Abrimos três, vamos abrir mais uma e tem mais uma que estamos correndo atrás para abrir logo. Dez agências em Maringá é a meta nossa. Maringá é uma cidade grande. Tem bairros maiores que algumas cidades que temos agência. A abertura de agência é também para aumentarmos o número de associados, mas estamos levando as agências para ficar mais próximo, para o associado ter mais qualidade de atendimento, facilidade de locomoção”, explica.
Uma nova sede para marcar história
O olhar nos olhos e o sorriso de Wellington Ferreira durante a entrevista ganham mais brilho quando o presidente da cooperativa fala sobre a construção da sede. Atualmente, os diretores trabalham em um espaço alugado. Mas não são apenas as acomodações dos gestores que vão melhorar. Todos os associados e a cidade também ganham com a construção.
“A nova sede vai ser um presente para a cidade. Um presente para nossos associados. A sede nova tem todo um sentimento, muito importante. Levamos 33 anos para fazer a nossa sede, então ela tem que materializar tudo o que construímos nestes 33 anos. Toda a nossa paixão por pessoas, todo esse envolvimento, bom relacionamento que nós temos, tem que estar tudo lá”, afirma.
O prédio em construção no Novo Centro vai ter muitas atividades. “Vamos ter auditório multiuso, teatro, cinema. Vamos disponibilizar para as universidades, entidades que precisarem, vamos ter sala de educação financeira permanente, sala para startup, um café bem gostoso, um centro de negócio. Não uma agência, mas um centro de negócio onde queremos que a pessoa vá para conversar, ter relacionamento, consultoria sobre o momento econômico nosso, negócios da própria cidade, preços valores, vamos deixar gente para atender. Se for para fazer transação, faz pelo celular, as pessoas vão lá para fazer negócios. Vamos criar um ambiente deste, vamos ter vestiário, bicicletário, vamos incentivar as pessoas a trabalharem de bicicleta. O acesso pelas escadas vai ser fácil, quem quiser ir pela escada, para cuidar da saúde também”, diz.
A sustentabilidade está presente desde a construção. “O prédio vai gerar a própria energia, aproveitar água da chuva. Na construção já trabalhamos isso. Não deixamos caminhão sair com pneu sujo na rua, é medido o quanto de água gastamos no cimento. A forma da ventilação, conforto para as pessoas, creches para os pais e mães que trabalharem no prédio. Vamos ter espaço de relacionamento, espaço gourmet, para levar os associados para conhecer a cooperativa. Além de materializar o que nós somos, o propósito da cooperativa, que é ter o envolvimento com as pessoas. Tem que ser uma ponte também, tem que nos levar para o futuro. Até agora estou muito feliz porque estamos conseguindo fazer isso”, afirma.
As perspectivas para o futuro
No que diz respeito ao Brasil, o presidente se mostra confiante, mas é preciso ter paciência e retomar a confiança. “Não dá para dizer que amanhã o Brasil vai ser o melhor país do mundo, não existe isso, Temos que construir o melhor país do mundo. O país vai mudar em dez, quinze anos. Alguém tem que começar, se não vai faltar sempre 15 anos. O que falta no nosso País hoje, sem sobra de dúvidas é confiança. Não é confiança na equipe econômica, que tem agido certo, temos inflação baixa e juros baixos. A falta de confiança é por causa da parte política que é uma confusão que ninguém entende. Precisamos olhar para o congresso e confiar, olhar para os juízes e confiar. É preciso reconquistar a confiança do brasileiro nas instituições”.
Para Maringá, Wellington Ferreira se empenha agora, junto a outras entidades como a Cocamar, Unimed, Sicoob, ACIM, e outras, para que Maringá seja a Capital do Associativismo. “Até por todas entidades que tem ajudado muito na construção de uma cidade tão boa”.
Ao comentar sobre as expectativas para um futuro melhor, Wellington Ferreira afirmou que passou a enxergar o mundo de outra forma.
“Há muitos anos atrás eu pensava em deixar um mundo melhor para os meus filhos. E eu vi que estou errado. Nós precisamos largar é gente melhor para este mundo, porque o País em si não faz nada. Quem vai transformar o País são as pessoas, então temos que educar as pessoas, preparar as pessoas, para ter um mundo diferente”, diz.
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