Catuaí Maringá, um dos shoppings da BRMalls, executa judicialmente em uma tacada só 64 pequenos e médios lojistas e ex-lojistas

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Uma espécie de bomba com grande potencial de devastação financeira foi detonada pelo Consórcio Empreendedor do Catuaí Shopping Center Maringá, da holding multinacional BRMalls. No centro do alvo estão 64 pequenos e médios lojistas e ex-lojistas que, diante da crise que abateu o país e derrubou as vendas, não honraram seus compromissos.

As dívidas, boa parte com três dígitos, em abril e maio deste ano passaram à fase de execução de Título Extrajudicial. Estima-se que chegue a algo em torno de R$ 10 milhões e a cobrança, como um rastilho de pólvora, rapidamente gerou desespero entre os lojistas acionados. Também trouxe à tona problemas de relacionamento com a administração.

Os empresários reconhecem o direito do Consórcio recorrer à execução judicial, mas criticam a forma agressiva de agir. O Catuaí Maringá é um dos 39 shoppings da líder nacional do segmento, a BRMalls, que no primeiro trimestre aumentou 36% seu lucro líquido ante igual período de 2017, atingindo R$ 156 milhões.

Enquanto investidores da multinacional brindam a conquista relatada no primeiro balanço anual, por aqui famílias são feridas. “Foi muito trabalho, aos domingos, feriados e noites, por nada. Tentei vender, mas na crise não apareceu interessado. Larguei tudo lá, não tinha mais como aguentar aquilo”, diz o ex-lojista que entrou em depressão e em crise familiar.

“As coisas não eram assim antes da BRMalls comprar 70% do Catuaí Maringá. Agora, tudo tem que passar por Curitiba”, afirma um ex-funcionário do shopping, com longa experiência de batalhas na área. Acrescenta, pedindo para não ser identificado, que “a agilidade na tomada de decisões é fundamental para os lojistas e o empreendimento”.

As notificações de execução foram entregues no final de abril e início de maio com prazo de 15 dias para possíveis embargos e tentativas de acordo e três dias úteis, após a anexação do Aviso de Correspondência ao processo, para quitação. “Nunca pensei que fosse passar por isso”, diz um ex-lojista, que perdeu “as economias de 20 anos de trabalho no exterior”.

Número de processos supera o de lojas

Um indicativo de que a explosão do conflito era só uma questão de tempo pode ser conferido em levantamento junto às sete Varas Cíveis de Maringá. Nelas, tramitam 156 ações por inadimplência e outras pendências movidas pelo Consórcio do Catuaí contra lojistas e ex-lojistas. Isso apenas de ações ajuizadas de janeiro de 2105 a abril de 2018.

Foram impetradas 30 ações em 2015; 58 em 2016; 53 em 2017 e 15 este ano. Para se ter uma dimensão mais precisa desses números, em apenas três anos e quatro meses eles superam o total de lojas existentes no Catuaí Maringá. Lá, são 135 lojas satélites, como são chamados os estabelecimentos no padrão dos que estão sendo processados.

Além das satélites, o Catuaí tem mais oito conveniências, quatro âncoras e duas mega-lojas. Coincidência ou não, nenhuma das âncoras, grandes lojas e franquias fortes enfrenta embates judiciais com o Consórcio Empreendedor. “As pequenas, de forma indireta, ajudam a pagar o condomínio das grandes”, diz um lojista que está sendo executado.

Bem antes de 2015, porém, uma profissional em Administração vendeu um apartamento no centro de Maringá e investiu R$ 150 mil na estruturação da loja. Nos três anos e meio seguintes, foram mais R$ 200 mil em despesas. Mesmo assim, se endividou e saiu do shopping, amargando prejuízos de R$ 100 mil. Agora, está sendo cobrada em R$ 150 mil.

Entre as dificuldades de sobrevivência no Catuaí, os lojistas que falaram ao Maringá Post na condição de anonimato por temer retaliações, apontam as “cláusulas leoninas dos contratos, falta de autonomia e distanciamento da gestão local, pouco investimento publicitário e baixo volume de vendas, que se agrava muito em tempos de crise”.

Além da Cessão do Direito de Uso (CDU), que trocando em miúdos trata-se do aluguel, tem a taxa de condomínio e uma porcentagem sobre as vendas, que varia conforme o segmento. São 13 aluguéis por ano e o tempo mínimo de contrato é de cinco anos. “Se com dois anos o lojista quiser sair, terá que pagar os três anos restantes”, explica um lojista.

Os problemas de custos elevados, entre outros, sem considerar a relação pouco amigável, levaram lojas como Genko, Bergenson e Word Tênis a bater em retirada do Catuaí. A de material esportivo, por exemplo, tinha dois pontos de venda lá e um no Maringá Park. Ficou apenas com o último, devido aos atritos com a direção.

Catuaí diz que sucesso dos lojistas é prioridade

Diante dos questionamentos enviados pela reportagem para a direção estadual do Catuaí Maringá, em Curitiba, na manhã de sexta-feira (8/6), a assessoria de imprensa solicitou um prazo para encaminhar a manifestação do shopping. De comum acordo, estabeleceu-se até o início da noite desta terça-feira (12/6), quando foi encaminhado o seguinte e-mail:

“O shopping ​afirma​ que o sucesso dos lojistas é​​ prioridade, pois o bom desempenho do shopping depende diretamente do êxito das lojas e da boa experiência dos consumidores. ​Reforça, ainda, que toda a relação mantida com os lojistas é baseada na parceria e regrada em contratos e na legislação aplicável. ​E reafirma​, por fim, que ​segue​ à disposição para atendê-los (lojistas) e esclarecer quaisquer dúvidas”.

Alguns lojistas e ex-lojistas disseram que, num esforço próprio aos tempos de guerra, quitaram ou quitarão as dívidas. Outros afirmaram que, simplesmente, não têm condições financeiras para isso. No entanto, são unânimes em dizer que o bombardeio de ações de cobrança em massa contra parceiros é inédito no mercado maringaense e que deixará cicatrizes.


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