Investidores denunciam maringaense de sobrenome conhecido por aplicar golpe da pirâmide bitcoin

  • Imagine investir R$ 100 mil e, um ano depois, sacar R$ 366 mil totalmente livres de impostos. Ou, depois de dois anos, ter um capital de R$ 1,22 milhão. Um negócio dos deuses das finanças sem dúvida, que criaria milionários como um casal de hamster faz filhotes – se não fosse uma arapuca.

    São esses rendimentos que promete nas redes sociais um trio, que tem entre eles o maringaense André Luiz Pucca Bernardi, neto de um conhecido narrador esportivo e que costuma desfilar pela cidade com reluzentes carros importados. Não são poucos os incautos que, depois de algum tempo acompanhando a conta engordar, ficaram a ver navios.

    As empresas de fachada utilizadas pelos rapazes, que se dizem – e que para pessoas do meio são mesmo – especialistas em marketing multinível digital, mudam de nome de tempos em tempos, conforme aumenta o número de investidores que se sentem lesados por elas – e que não são poucos.

    A primeira empresa encontrada no Facebook e no Youtube dos três foi a Futhure Global, que operava no mercado de marketing de rede e também como escola de formação de futuros operadores. Depois André Pucca e os sócios abriram a i7 Group, que agora encerrou as atividades.

    Em pelo menos um dos vídeos no Youtube, a D9 Clube de Empreendedores, que quebrou e deixou milhares de pessoas sem suas economias, um investidor da i7 Group diz que André Pucca fazia parte da direção da empresa, suspeita de promover pirâmide por meio das redes sociais, o que é ilegal no Brasil.

    Essas empresas só existiram nas páginas do Facebook e no canal de vídeos. Nunca tiveram um CNPJ ou um domínio na internet e propagam, para encher os olhos dos que acreditam em dinheiro fácil, movimentar cifras astronômicas.

    Um dos vídeos, postado dia 22 de agosto, mostra que em uma única conta a i7 Group saltou de US$ 2,3 milhões para US$ 3,31 milhões em 24 horas.

    https://www.youtube.com/watch?v=lZLn-Pmmw2E

    Processos judiciais e denúncias contra essas empresas – e outras, que se utilizam dos mesmos meios – tramitam em inúmeras cidades brasileiras e no exterior. E agora também chegaram na Promotoria Especial de Defesa do Consumidor de Maringá.

    Um dos procedimentos envolvendo a i7 Group tramita no Ministério Público Federal do Espirito Santo, mas “está sob sigilo”, segundo a assessoria de imprensa do órgão, que confirmou a investigação.

    As aplicações que as empresas de Pucca e dos sócios Douglas Abreu e Alexandre Farias dizem fazer com os reais, dólares, euros e libras das pessoas que aderem aos negócios são em bitcoin, outras moedas criptografadas e em trade desportivo – apostas em jogos de futebol basicamente. Nesta quarta-feira (25), a cotação de 1 bitcoin é de US$ 5.458,41 ou R$ 18.266,67.

    O modo de operação na era de redes sociais é complexo, recheado de detalhes técnicos, mas no frigir dos ovos, como diria os mais antigos, é o velho e conhecido sistema de pirâmide: quem está no topo ganha e quem está embaixo perde. O que difere o marketing de rede sério e a pirâmide financeira é, basicamente, a falta de lastro.

    Mas nem mesmo quem está no topo sempre ganha. No final da história, muitas vezes acaba perdendo também, especialmente quando o montante de recursos na sua conta se torna elevado e decide sacar tudo para sair do jogo. Aí vê que todo aquele dinheiro exposto no extrato era apenas número nas nuvens.

    Negócio de Pucca começou a cair a partir de uma ilha

    Têm inúmeros exemplos em Maringá, mas para não expor as vítimas, algumas delas bem conhecidas nos meios sociais, pinçamos o caso de um empresário de Florianópolis, dono de restaurantes na ilha catarinense, que chegou a ter US$ 20 milhões na conta e se tornou um garoto propaganda da i7 Group.

    Juliano Costa era, como se diz no meio, um líder de grupo. Um dos seus vídeos que circulam na internet foi feito quando, em 7 de agosto passado, recebeu a visita de André Pucca.

    Dias antes, em 3 de junho, ele havia postado outro, dizendo que tinha exposto dúvidas sobre o negócio aos donos da i7 e que as respostas obtidas lhe convenceram da seriedade e segurança das operações da empresa.

    Rasgou elogios para “a melhor empresa de marketing multinível digital do mundo”. No entanto, pouco tempo depois, precisamente no dia 29 de setembro de 2017, os elogios se transformaram em contundentes adjetivos ao caráter do “novo amigo”.

    Entre outros bordões pejorativos, Costa chama Pucca de “picareta” e convoca todos os associados que participam do seu grupo na i7 para “contratar o melhor advogado do Brasil” e processar os sócios da empresa, que lhe enganaram “com conversas mentirosas”, conforme mostra o vídeo.

    https://www.youtube.com/watch?v=HiwGguSzREg

    Consta que uma das táticas desses tipos de arrecadadores de recursos alheios é, quando a ratoeira é desarmada, registrar boletins de ocorrências policiais dizendo-se vítimas de hacker, que invadiu o sistema do seu rentável negócio e raspou a conta.

    Investidores alimentam esperança de ressarcimento

    Após a postagem desta reportagem, um investidor na i7 Group de Maringá, que pediu para não ser identificado, entrou em contato com o Maringá Post e disse que ele e seu grupo têm esperanças de receber o capital investido, sem os rendimentos. Ele disse que tem cerca de R$ 108 mil a receber – comprou 15 cotas de R$ 6.672,00 nos últimos 90 dias.

    O investidor, que se disse um estudioso de marketing multinível e que deu os primeiros passos na Futhure Global – também funcionava como escola para a formação de futuros operadores – informou que “André Pucca fez um acordo com o Ministério Público Federal no Espirito Santo (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) e se comprometeu a ressarcir o capital investido dos cerca de 50 mil afiliados”.

    Segundo o maringaense que entrou em contato com a reportagem, os investidores têm que encaminhar os documentos provando os valores aplicados ao MPF até o dia 20 de novembro. “A partir daí o André se comprometeu a pagar todo mundo. Eu conheço ele, fiz o curso na Futhure e ele sempre honrou seus compromissos”, afirmou.

    Ainda de acordo com o investidor, “o André está sendo acusado de evasão de divisas, porque os investimentos eram feitos no exterior e não recolhia impostos, e não por estelionato, como sugere a reportagem”. Ele disse que não tem mais contato com o presidente da i7 e não explicou os motivos de não ter esperanças de receber os rendimentos das aplicações.

    Nota enviada pela defesa da i7 Group  nesta quinta-feira

    Às 14h29 desta quinta-feira, 26 de outubro de 2017, o Maringá Post recebeu, simultaneamente, um e-mail e um WhatsApp do advogado da i7 Group, Sérgio Carlos de Souza, que resite em Vitória (ES).

    Procurado pela reportagem por telefone, logo após os contatos eletrônicos, Souza disse que nem ele nem os sócios da i7 Group poderiam conceder entrevista devido à condição de sigilo imposta pelo MPF da 4ª Região.

    Segue a íntegra da nota:

    “i7 Group, por seu advogado abaixo nominado, vem se manifestar sobre a ‘reportagem’ publicada pelos senhores no dia de hoje (foi publicada no dia 25), requerendo a resposta seja veiculada com o mesmo destaque da reportagem original e na íntegra, destacando que esta será sua única manifestação sobre o assunto.

    A i7 Group afirma que há várias inverdades na reportagem. Devido a um mercado desprovido de legislação específica e que acabou gerando questionamentos, a empresa tomou a decisão voluntária de encerrar suas operações no Brasil, e para tanto procurou o Ministério Público Federal. Os negócios da empresa estão sendo reestruturados e o dinheiro dos investidores já sendo devolvido, de forma consensual.

    Atenciosamente,

    Sérgio Carlos de Souza”.

    A reportagem não localizou André Pucca em Maringá, tampouco obteve retorno dos recados deixados nos telefones celulares divulgados nas redes sociais como sendo da i7 Group. Caso ele deseje se manifestar, Maringá Post está à disposição.

    • Primeira atualização feita às 15h34 desta quarta-feira, 25 de outubro de 2017.
    • Segunda atualização feita às 14h17 desta quinta-feira, 26 de outubro de 2017.

    Colaboraram o jornalista e blogueiro Angelo Rigon e o repórter Adevanir Rezende.

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