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Vivemos um paradoxo corporativo, cruel e urgente. Em um mundo que fala tanto sobre diversidade e inclusão, uma das formas mais sutis de exclusão segue naturalizada: o etarismo. Sim, essa palavra estranha e incômoda que revela um comportamento ainda mais disfuncional, a ideia de que idade, em especial a avançada, representa limitação, obsolescência e ineficiência dentro das empresas.
E eu te pergunto: como foi que permitimos isso?
O mercado corporativo, sedento por inovação, velocidade e disrupção, acabou comprando uma narrativa perigosa: a de que o novo é sempre melhor. Jovens são tidos como “nativos digitais”, “conectados”, “ágeis”, “cheios de ideias”. E sim, muitas vezes são mesmo. Mas e o profissional de 50, 60 anos que já viu esse ciclo rodar dezenas de vezes? Que já enfrentou crises econômicas, rupturas de mercado, fusões traumáticas, demissões em massa e mesmo assim permaneceu, adaptando-se, entregando, gerando valor?
Esses profissionais não são “do passado”. São pontes com o futuro. São a memória viva das empresas, repositórios de inteligência prática, emocional e estratégica. O que está em jogo não é a idade cronológica é a forma como escolhemos olhar para ela.
Mas o etarismo não se revela apenas nos processos de desligamento ou na ausência de contratação. Ele está nas entrelinhas de uma reunião em que alguém diz: “Isso é coisa da sua época.” Está na escolha de quem vai liderar um projeto de inovação, quase sempre inclinada aos mais jovens. Está na hesitação em promover alguém com “muito tempo de casa”, como se experiência fosse sinônimo de acomodação. Está nas piadas, nos silêncios, nas vagas disfarçadamente vetadas para quem passou dos 40.
Já vi profissionais incríveis, com currículos robustos, projetos bem-sucedidos e inteligência emocional admirável, serem preteridos por um único critério: “estão fora do perfil.” E sabe o que significa esse “perfil”? Uma foto mental que exclui rugas, cabelos brancos, pausas na fala para buscar referências, ou até mesmo um currículo impresso.
Se quisermos empresas verdadeiramente inteligentes, não podemos permitir que os processos de seleção e promoção se tornem caricaturas do Instagram. Precisamos de times intergeracionais. Precisamos da rebeldia dos jovens e da serenidade dos experientes. Da energia impetuosa e da sabedoria paciente. O futuro do trabalho não está na juventude ou na velhice, está na integração.
E mais: combater o etarismo é também uma decisão estratégica. Empresas que investem em diversidade de idade têm menor rotatividade, maior engajamento e resiliência em momentos de crise. Afinal, quem já enfrentou o pior, não teme recomeçar.
O que eu proponho aqui não é um romantismo da experiência, é um chamado à lucidez. Que tipo de cultura estamos construindo? Uma que descarta quem não performa como uma máquina ou uma que entende que seres humanos evoluem, amadurecem e transformam?
É hora de romper com esse preconceito invisível e cruel. A idade não define competência. O tempo não tira valor, ele dá profundidade.
Precisamos deixar de tratar o profissional sênior como alguém que precisa “se atualizar” e começar a enxergá-lo como alguém que pode nos ensinar. E isso, eu te garanto, é o que de mais inovador podemos fazer.

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