O Manifesto Lento

O setor de tecnologia mudou e cresceu muito, as empresas de base tecnológica passaram a ser protagonistas no mundo dos negócios.

  • Em 2001, 17 profissionais de TI se juntaram e escreveram um manifesto, o manifesto ágil. Seu propósito foi incentivar métodos ágeis no desenvolvimento de softwares em detrimento à protocolos burocráticos e demorados que dominavam os procedimentos tradicionais da época. Foram criados 12 princípios com base na interação entre indivíduos, redução da documentação excessiva, maior colaboração com os clientes e resposta ágil para as mudanças. Do meu ponto de vista, uma iniciativa excelente para melhoria de processo.

    De lá para cá o setor de tecnologia mudou e cresceu muito, as empresas de base tecnológica passaram a ser protagonistas no mundo dos negócios. Na época as multinacionais referências no mercado eram empresas do varejo supermercadista, fast food, bancos, combustível e indústria farmacêutica. Com o passar do tempo tivemos a valorização de diversas empresas de tecnologia, tanto hardwares quanto softwares. Muitas dessas empresas utilizaram os métodos ágeis em algum momento no meio do caminho, tornando-os boas práticas não só nas empresas de tecnologia, mas também em empresas de todos os setores, tamanhos e regiões.

    O problema começa a surgir quando esses métodos ágeis começam a ser posicionados como oposição aos métodos chamados ‘tradicionais’. De uns anos para cá não se fala em outra coisa no mundo dos negócios a não ser startup, scrum, okr, kanban, lean, design thinking e por aí vai. Hoje há uma excessiva necessidade de se cobrar agilidade. Quando falamos de jovens entrando no mercado de trabalho então, essa agilidade acaba se tornando ansiedade. Estamos vivendo um momento de grande formação de profissionais que dominam os métodos ágeis e conseguem resolver problemas rápidos, dar respostas rápidas e aumentam sua produtividade em número de projetos, metas, resultados etc.

    Minha hipótese é que se isso se mantiver, daqui alguns anos teremos apenas profissionais que sabem executar esse tipo de trabalho, com resultados a um palmo de nossas frentes, sem habilidade nenhuma de montar um planejamento de longo prazo, desenvolver um plano de crescimento sustentável ou criar uma vantagem competitiva que coloque sua empresa em lugar de destaque por um tempo mais duradouro. A lógica será inversa e aqueles profissionais que dominarem esses métodos ‘tradicionais’ terão destaque no mercado de trabalho, uma vez que poucos saberão fazer um planejamento estratégico robusto ou construir um plano de negócios consistente.

    Minha crítica não é sobre os métodos ágeis em si, eles são de fato muito eficazes para resolver problemas empresariais do dia a dia, criar soluções inovadoras e dar agilidade nos processos organizacionais. Mas, eles devem ser complementares aos métodos ‘tradicionais’, não opostos. São metodologias que devem ser utilizadas para diferentes objetivos. O uso exclusivo de métodos ágeis pode cegar as empresas e seus profissionais, como consequência, a gestão das empresas ficará (mais) especialista em apagar incêndios e pouco eficaz em construir cenários de longo prazo.

    Prof. Vitor Koki da Costa Nogami

    Departamento de Administração – DAD

    Universidade Estadual de Maringá – UEM

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