Morador de Maringá, diretor João Kowalski produz filme inspirado na música “Boate Azul”

A Boate Azul existiu: clássico da música sertaneja raiz foi composto em Apucarana

  • Em 3 de junho de 1963, o Papa João XXIII morreu em Roma, no Palácio Apostólico. Na mesma data, um show sertanejo estava marcado para ser realizado em uma boate em Apucarana, 64 km distante de Maringá. Quando soube da morte do papa, o proprietário da boate fechou as portas do local, deixando os integrantes da vida noturna sem rumo.

    Parece roteiro de um longa metragem e vai realmente se tornar um filme. Essa é a história da composição de um dos maiores sucessos da música sertaneja raiz, o ‘hino’ “Boate Azul”, do compositor Benedito Seviero, que faleceu em 2016.

    A origem da música, contada pelo compositor em um programa de televisão, inspirou João Gabriel Kowalski, 30 anos, a produzir um filme.

    Nascido em Apucarana, João Kowalski mora atualmente em Maringá. Ele estudou Direção de Cinema pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) entre 2012 e 2013 e trabalhou em diversas produtoras. Em “Boate Azul: O Filme”, ele assina a direção e a produção. 

    O roteiro do longa foi desenvolvido por Kowalski em parceria com Gustavo Gerard, que trabalhou como roteirista do núcleo de humor da Rede Globo entre 2018 e 2019 e do Fanta Talk Show, da Warner. O longa se passa nos dias atuais e não conta a história da origem da música, embora apresente tramas de personagens inspiradas na canção e no contexto em que foi escrita. 

    “O que acontecia, quando eu ia escrever uma história, é que não achava nada próximo de onde eu tinha vindo, de onde tinha nascido. Tem um grande diretor que gosto muito, que chama Werner Herzog. Ele fala que para você começar a contar uma boa história tem que contar a história da sua vila. Comecei a pesquisar alguma coisa sobre a história da minha cidade e me deparei com a entrevista de Benedito Seviero”, conta João Kowalski.  

    Escrita em 1963, no ano da morte do papa, durante uma visita do compositor Benedito Seviero a Apucarana, a música foi censurada pelo Regime Militar e teve a comercialização proibida em 1964. A canção só veio a ser liberada em 1980, nos anos finais da ditadura.

    “Boate Azul” acumula mais de 100 gravações e regravações de grandes nomes como Reginaldo Rossi, Milionário e José Rico, Bruno e Marrone, Joaquim e Manuel e tantos outros.

    Inspirado na música, “Boate Azul: O Filme” vai ter três personagens principais: o dono da boate, a dama da noite e o doente de amor. Os três têm as vidas transformadas a partir de uma despedida de solteiro que aconteceria na pior data possível, o dia da morte do papa.

    Uma dramédia, o filme aborda a dualidade do ser humano, a vida que a pessoa tem e aquela que finge ter. “Todo mundo tem seus segredos e uma maneira de lidar com a sociedade. O personagem Benedito é dono de uma boate e ao mesmo tempo é um católico fervoroso. Acho que isso tem a ver com o lado humano das pessoas. Todo mundo é falho, ninguém é 100% bonzinho ou mal”, afirma Kowalski. 

    O filme não começou a ser gravado e ainda não tem previsão de estreia. Para dar início às gravações, Kowalski busca patrocínios e a parceria com uma produtora. Ele chegou a conversar com algumas produtoras, mas a pandemia do novo coronavírus e problemas relacionados à Ancine e ao setor do audiovisual no Brasil dificultam o início de novos projetos e parcerias. 

    A ideia de Kowalski é gravar cenas externas na região de Apucarana e Maringá e as internas em estúdios de São Paulo ou Rio de Janeiro. No entanto, ele afirma que dependendo das parcerias e do apoio financeiro, a produção pode ser totalmente concentrada na região norte e noroeste do Paraná, onde se passa a história do filme.  

    Para o elenco, o diretor conta que tem o desejo de chamar grandes nomes do audiovisual. “Para o elenco principal, a probabilidade maior é que não sejam pessoas daqui, mas gente do Rio e São Paulo que trabalham com cinema. Não descarto a possibilidade de que outros personagem possam ser interpretados por pessoas da região.”

    João Kowalski diz que o desejo é que o filme seja exibido nos cinemas e se torne o novo “Dois Filhos de Francisco” dessa década. O longa “Dois Filhos de Francisco”, da Globo Filmes, conta a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano. O filme foi sucesso de bilheteria no Brasil em 2005.

    Kowalski começa gravação de novo filme em outubro

    Enquanto aguarda parcerias para rodar “Boate Azul: O Filme”, João Kowalski se prepara para a gravação do suspense “Fora de Cena”. Kowalski assina o roteiro do filme com Gustavo Gerard e Marcelo Menezes. O longa é produzido pelas produtoras WTFilm, Raposa Filme e João Kowalski.  

    No elenco estão confirmados atores como Douglas Silva, conhecido por interpretar o personagem Dadinho no filme “Cidade de Deus”, além de Hugo Bonemer, Marcelo Menezes, Gabriela Spacciari e Lu Anastácio. Segundo Kowalski, as produtoras aguardam a confirmação de uma grande atriz que atua em novelas da Rede Globo.   

    A previsão é que as gravações de “Fora de Cena” comecem em outubro, seguindo as medidas de prevenção ao coronavírus. A ideia é finalizar a produção em janeiro do próximo ano e iniciar as negociações com plataformas de streaming e inscrever o longa em um grande festival de cinema. 

    Inspirado em obras como “Coringa”, “Clube da Luta” e “Cisne Negro”, o filme “Fora de Cena” aborda a história de um ator frustrado com a profissão e que entra no próprio abismo psicológico.  

    João Kowalski trabalha com audiovisual há mais de 10 anos. Ele foi diretor dos curtas “Water Into Wine”, “Noah Hammer”, “O Mágico”, “Morre Diabo”, finalista do My Rode Reel Film Festival, considerado o maior festival de curtas online do Mundo, e “O Cão Foi Quem Butô Pra Nóis Bebê”. 

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