Garoto de 13 anos “trabalha” como repórter policial nas redes sociais. Victor Hugo tem patrocinador e diz que sonhava em ser padre, por amor ao microfone

  • Ele tem apenas 13 anos e frequentemente é visto em cenas de crime com um microfone na mão, conectado ao celular, e narrando a notícia que veicula, ao vivo ou editada, em sua página no Facebook e no seu canal no Youtube. Trata-se de Victor Hugo Correa, estudante do 8º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Jardim Universitário, em Sarandi.

    Define-se como repórter mirim, que no início sonhava em ser padre, até descobrir que não era a batina que o fascinava, e sim o amor pelo microfone. Mirou-se nos exemplos de repórteres de TV e redes sociais e desde os 11 anos passou a, esporadicamente, fazer as postagens, inicialmente sobre buracos de rua, até se identificar com o mundo policial.

    Filho único de um motorista de ônibus da TCCC e uma coletora de sangue em laboratório de análises clínicas, que apoiam a iniciativa do garoto e o levam, com o carro da família, até os locais dos crimes. Victor Hugo tem até um patrocinador, a papelaria Montreal, loja na qual usa de cenário para suas lives. “Hoje vou lá”, disse nesta terça-feira (21/8).

    O repórter mirim disse que não tem medo de acompanhar os trabalhos dos policiais e socorristas do Siate em acidentes de trânsito e homicídios, mas recorda que quase não conseguiu contar a história sobre o atropelamento de uma criancinha de 3 anos, no bairro onde mora, o Alvemar II. “Vichi, não vai dar”, chegou a dizer pra si mesmo.

    “Mas depois, quando o pessoal do socorro chegou, fiquei mais calmo e fiz. No fim da tarde fiquei sabendo que o menininho não tinha resistindo aos ferimentos. Foi muito triste”, contou ele, que, nos locais das ocorrências costuma ficar distante dos corpos e feridos, “atrás da faixa amarela, mas converso com os repórteres profissionais depois”.

    Victor Hugo também conta com a ajuda de um amigo, Douglas Vegas, de 20 anos, que usa seu notebook para editar as matérias, inclusive com trilha sonora. “As vezes faço as lives sozinho”, disse o menino que um dia sonha aparecer em rede nacional de televisão. Por enquanto, vez ou outra é reconhecido, “mas não chegam a pedir para tirar foto comigo”.

    A página no Facebook e o canal no Youtube ainda são pouco vistos, “mas na semana passada ocorreram vários crimes em Sarandi e bombou”, disse. Talvez por isso Victor Hugo tenha ganhado uma certa notoriedade entre jornalistas de Maringá que, em um primeiro momento, reagiram preocupados com a pouca idade e a segurança do garoto.

    A narrativa de Victor Hugo nas lives e matérias editadas, já com cacoetes de veteranos carrapichos de polícia, como se dizia antigamente, se resume à obviedade das ocorrências. Nem poderia ser diferente. Diante de perguntas primárias como qual a diferença entre crime doloso e culposo e o que é latrocínio, foi preciso nas respostas.

    Ao ser indagado se tinha conhecimento que, eventualmente, seus pais poderiam ser responsabilizado por suas postagens nas redes, Victor Hugo respondeu que sim e que tem o apoio deles. Também foi alertado que mentir a idade para abrir uma página pode provocar a exclusão. “Só menti um pouquinho no ano, o resta tá certo”. Coisas da net.

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