Quem passa pela Estrada 200, na zona rural de Maringá, não deixa de notar uma imponente construção, que lembra um castelo medieval.
Ali será o novo Mosteiro dos Arautos do Evangelho, uma comunidade católica fundada em 1967, em São Paulo, voltada à formação e propagação da evangelização por leigos.
A obra, iniciada no ano passado, foi projetada pelo arquiteto paulistano Daniel Aguiar e Souza e se inspira na arquitetura gótica francesa, sendo a sua principal característica a verticalidade.
Os detalhes dos vitrais, ogivas, arcos, capitéis e molduras, que se assemelham a rendas petrificadas, foram pensados para lhe conferir leveza e beleza, diz o Padre Mário Sérgio Sperche.
No seu interior, haverá uma capela, onde serão realizadas missas diárias. Também é formado por quartos, biblioteca, salas, refeitório, cozinha e quartos. No centro do prédio, há uma espécie de jardim, ladeado por varandas.
A localização é estratégica. De um lado, é possível avistar boa parte de Maringá, com seus edifícios. E, de outro, a paisagem é rural. O silêncio é fundamental para a meditação e oração.
Procurados para conceder entrevista sobre a obra, que gera curiosidade por quem passa por ela, os Arautos do Evangelho sugeriram que as perguntas fossem enviadas por e-mail, o que foi feito.
As respostas foram dadas pelo Padre Mário Sérgio Sperche e seguem na íntegra.
Leia a entrevista do Padre Mário Sérgio
Maringá Post – Quando essa obra foi iniciada e o que levou à escolha pelo estilo gótico francês?
Padre Mário Sérgio Sperche – O início da construção da obra ocorreu no início de 2017, mas já faz alguns anos que os Arautos têm o sonho de edificar uma Comunidade na cidade de Maringá, segundo o estilo próprio das Igrejas e Mosteiros Católicos.
Sim, um sonho de exprimir, através de um edifício, aquilo que é próprio ao carisma e ao modo de ser dos Arautos do Evangelho e que está contido no seu interior: a prática da virtude e dos conselhos evangélicos, a vida de recolhimento, o desejo de servir a Deus em todas as suas atividades, o anseio de que Jesus e Maria reinem no coração de todos os homens.
Ora, o carisma dos Arautos do Evangelho consiste em procurar agir com perfeição em busca da pulcritude em todos os atos da vida diária, tanto nos interiores – na oração e no recolhimento – como nas atividades exteriores, com o objetivo de melhor refletir a perfeição de Deus.
“Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5, 48), são as sublimes palavras do Divino Mestre que nos convidam à essa prática da perfeição em todas as ocasiões da existência: desde os momentos de meditação no recolhido ambiente de adoração ao Santíssimo Sacramento e nos estudos, quanto nas grandes atividades de evangelização na messe do Senhor.
Por conseguinte, temos bem presente que o ser humano não é única e exclusivamente espiritual, mas vive em um mundo material compreendido através da sensibilidade e da percepção dos sentidos.
Por isso, é fundamental que esta busca pela perfeição do Criador esteja presente de maneira visível na arquitetura dos edifícios e das construções, ou seja, de maneira palpável, bela e duradoura.
É o que com razão lembra São João Paulo II em sua “Carta aos Artistas”, o oportuno ensinamento do Concílio Vaticano II: “O mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero.
A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens, é este fruto precioso que resiste ao passar do tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração”.
Com efeito, compreende-se que a arquitetura gótica francesa, por ser durante séculos o estilo próprio destinado à construção de Igrejas e templos religiosos, é uma das que melhor nos apresenta essa beleza – tão necessária em nossos dias – em todo o seu conjunto.
Primeiramente através de sua principal característica: a verticalidade, tanto das ogivas, quanto das janelas e dos arcos, demonstrando assim, o anelo pelas coisas do alto e pela Santidade.
A vida de cerimonial, recolhimento e oração são representados pela luz multicolorida dos vitrais que, ao filtrar a luz solar, confere ao ambiente a impressão de ter sido moldado em pedras preciosas.
Enfim, em todos os seus detalhes, como nos capitéis e nas molduras que se assemelham a rendas petrificadas, a fim de conferir leveza a todo o ambiente, tudo deve contribuir para que o homem no seu todo, se eleve até as realidades celestes e contemple os esplendores do Criador.
MP – Qual o tamanho do castelo e como é dividido? Quais os números de aposentos, quartos e capelas?
Pe. M.S.S – O Mosteiro é composto por uma Capela principal, onde ocorrerão as cerimônias de adoração ao Santíssimo Sacramento e serão celebradas as Santas Missas – que por certo temos como o ambiente mais importante do edifício.
Um pequeno auditório destinado às aulas de Catequese, encontros de formação doutrinária e palestras. Para a vida de estudos, uma biblioteca também compõe o Mosteiro, contendo livros de Teologia e Filosofia, obras literárias, históricas e acadêmicas, além de alguns outros cômodos como salas, refeitório, cozinha e quartos, destinados à vida diária de oração e recolhimento, estudo e evangelização.
MP – Será destinado a quais atividades? E qual o tamanho da área onde está sendo construído?
Pe. M.S.S – As atividades desenvolvidas possuem principalmente o objetivo de fazer o bem às almas, através do convite à Santidade e à prática da virtude, que é o que a Santa Mãe Igreja constantemente nos propõe em seus magistrais ensinamentos.
Serão celebradas Missas diárias, atendimentos e confissões, além dos cursos de formação catequética, palestras estudos de Mariologia e da Teologia Católica.
O Mosteiro também será a sede do Projeto Futuro e Vida, uma iniciativa sociocultural promovida pelos Arautos do Evangelho direcionada ao público estudantil.
Os alunos frequentam a comunidade nos finais de semana, realizando aulas de música, esportes e atividades dinâmicas e interativas, a fim de estimular nos jovens a ética, a disciplina e a cidadania, dando uma especial ênfase à construção do caráter e da cultura.
Como nos indica o Fundador dos Arautos do Evangelho, Mons. João Clá Dias, o Projeto Futuro e Vida tem como objetivo “ocupar os jovens com atividades elevadas da arte e da cultura, do pensamento e das ideias sadias. Queremos a salvação da juventude!”
MP – Li que o arquiteto paulistano Daniel Aguiar e Souza aprendeu a concepção de arquitetura gótica com os Arautos. Como isso se deu? Quanto tempo levou para ele assimilar os conceitos?
Pe. M.S.S – É preciso compreender que esta não é a primeira obra dos Arautos a ser edificada. Já existem Basílicas, Comunidades e Seminários espalhados pelo Brasil e pelo mundo que já seguem uma linha artística própria aos Conventos e templos religiosos da Igreja Católica, adaptados ao carisma dos Arautos, com a moderna tecnologia.
Claro que conhecimentos técnicos de arquitetura e engenharia são necessários e indispensáveis para o empreendimento de qualquer construção, como os tem o Sr. Daniel Aguiar e Souza.
Além dessa formação, também tem habilidade e bom gosto para conceber uma obra neste estilo arquitetônico, sempre com o propósito de seguir a linha artística própria desenvolvida pelos Arautos do Evangelho.
MP – Quais as principais dificuldades, se é que houveram, enfrentadas para a edificação?
Pe. M.S.S – Muitos foram os empecilhos e atrapalhações que fizeram com que o sonho de edificar este Mosteiro demorasse alguns anos para ser realizado. Muito sacrifício, esforço e dedicação foram necessários desde a criação e planejamento do projeto, até à concreta execução e finalização da obra.
Com certeza o principal desafio foi o de obter os meios para que fosse possível realizar este sonho, e o de encontrar almas admirativas e generosas que participassem deste ideal e desta evangelização.
Para tal, foi necessário, além dos esforços humanos, contarmos, sobretudo, com o divino. Horas de Adoração ao Santíssimo Sacramento, Missas, recitação do rosário diário, bem como da “Novena a Nossa Senhora do Bom Remédio” que até hoje os Arautos rezam em conjunto nos momentos de oração, pedindo a Deus esses meios.
MP – A mão de obra utilizada na construção, devido ao seu estilo artístico, deve ser
especializada?
Pe. M.S.S – Muitos e diversos são os trabalhos que envolvem a construção de uma obra: a preparação e aprovação do projeto, a edificação dos fundamentos, o levantamento das paredes e das colunas, o acabamento geral, como o assentamento de portas e pisos, e outros, tudo como em qualquer construção.
Para tais afazeres é preciso muito empenho e dedicação, mas são conhecimentos e trabalhos como de qualquer obra. Bem, o grande diferencial que envolve a construção de um Seminário ou de uma Igreja são os arcos, o Altar e a parte artística das pinturas, pois são os componentes que mais requerem tempo e paciência até a sua plena conclusão.
Esta sim deve ser feita por artistas que saibam harmonizar as cores, as formas, e as pinturas, de maneira a refletir com beleza e arte as perfeições de Deus e tornar aprazível o ambiente.
MP – Quais materiais diferenciados estão sendo utilizados na construção?
Pe. M.S.S – Vitrais, arcos, molduras, capitéis e adornos coloridos, que em geral compõem o estilo das Igrejas e dos Mosteiros, são os elementos mais preponderantes.
MP – Seria possível revelar o montante dos investimentos?
Pe. M.S.S – Não são números, mas sim nomes, milhares de nomes que deveriam constar aqui em forma de agradecimento, pois nada disso seria possível sem a generosidade dessas pessoas.
O nosso desejo é de que, em cada tijolinho estivesse escrito em letras douradas os nomes daqueles que contribuíram para que esta obra de evangelização se tornasse realidade.
Temos Fé que diante de Deus ninguém é esquecido, e com certeza esta generosidade será recompensada com aquilo que temos de mais precioso: as intenções das Santas Missas que, como renovação incruenta do sacrifício de Jesus no Calvário, possui um valor infinito de méritos, além das orações que diariamente serão recitadas neste Mosteiro.
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