As faixas e coroas são a melhor resposta para aqueles que, um dia, fizeram chacotas sobre a menina humilde que estudava na escola pública de Rio Branco do Sul. Em relato feito em primeira pessoa, Deise Carolina Taborda Ribas, 21 anos, eleita Miss Paraná 2018, revela os casos de bullying sofridos na escola e a força de vontade para vencer.
No sábado (26/5), a jovem vai representar o Paraná no Miss Brasil 2018. Será o próximo desafio de Deise, que desbancou 29 candidatas na passarela do Teatro Calil Haddad, em Maringá, na noite do dia 22 de março.
O texto assinado por Deise Caroline foi postado na página oficial no facebook do concurso Miss Paraná. Ela conta que na infância foi vítima de agressões físicas na escola e não recebeu à época o apoio desejado da direção do colégio.
Na adolescência com mais autoconfiança, subiu em uma passarela pela primeira vez e ganhou. Mas diante de algumas derrotas em concursos municipais, acabou novamente agredida, desta vez, psicologicamente. Foi vítima de bullying virtual, em montagens com a própria foto e o apelido de Miss Palito.
“Eu não aguentava mais os apelidos, as brincadeiras, não aguentava mais ouvir as pessoas me dizendo que eu jamais ia ser modelo, que eu não era bonita pra ser miss, que eu era magra demais, alta demais, e não aguentava mais tudo que eu estava vivendo naquele momento e eu queria apenas desistir de tudo”, desabafou Deise.
Ela não desistiu, nos anos seguintes vieram outros concursos, outras coroas e faixas, trabalhos como modelo na China, prêmios internacionais, o título de Miss Paraná e o passaporte para o Miss Brasil 2018. Leia mais detalhes sobre a história de Deise Caroline Taborda Ribas no relato abaixo, escrito por ela.
A representante do Paraná no Miss Brasil 2018
Veja abaixo o vídeo oficial de Deise Carolina Taborda Ribas gravado para o Miss Brasil 2018.
https://www.facebook.com/212379245455042/videos/2399930273366584/
“Me chamo Deise Caroline Taborda Ribas, tenho 21 anos, sou de Rio Branco do Sul. Estudei toda minha vida em escola pública, venho de uma família muito humilde, tanto meu pai quanto minha mãe são do interior e ambos não puderam concluir seus estudos.
Minha mãe é diarista e meu pai é pedreiro! Meu pai durante muitos anos precisou trabalhar em outras cidades no estado do PR e SC e por conta disso até meus 9 anos eu via meu pai apenas uma vez a cada 40 dias.
Aos 8 anos eu sofri muito com o que hoje chamamos de bullying, durante praticamente o ano todo eu sofri agressões físicas, eram três meninas que me perseguiam e me batiam!
Eu não me lembro de um dia em que não sofri um trauma por parte delas – durante a segunda série, elas me davam tapas, socos, chutes, puxavam meu cabelo, sem nenhum tipo de provocação da minha parte!
Durante alguns dias eu passei a não sair para o intervalo, então eu ficava escondida embaixo da mesa da professora, assim eu garantia que não ia sofrer agressão ao menos não no intervalo.
Um dia a pedagoga me viu em meu “esconderijo” e me proibiu de ficar na sala, ainda o restante da sala me colocavam apelidos, pois desde essa época eu já usava óculos e era super magrinha.
Também me trancaram no banheiro por algumas vezes, puxaram minha calça na frente de outros colegas, ou seja, criaram um grande trauma na minha vida durante essa época!
O pior de tudo era que minha mãe por diversas vezes foi a escola, ligou e a coordenação infelizmente nunca fez nada, isso me fez querer parar de ir pra aula então eu vivia inventando uma dor de cabeça ou qualquer motivo para não ir.
No ano seguinte meu pai parou de viajar, quando alguém fazia alguma coisa contra mim ele mesmo ia até o colégio e conversava com meus colegas, a partir daí as agressões pararam, mas os apelidos continuaram até o último ano do ensino médio.
Eu cresci tendo que conviver com isso, sempre sendo alvo de brincadeiras sem graça, apelidos, etc!
Quando eu tinha 11 anos, um belo dia eu assisti ao concurso Miss Brasil cuja vencedora era a Natália Guimarães, meu Deus que incrível tudo isso, foi meu pensamento!
Eu que desde meus 5 anos já dizia que queria ser modelo a partir desse dia decidi que também queria ser Miss! Comecei a acompanhar os concursos, na época lembro que não haviam tantas informações como há hoje, mas mesmo assim eu estava sempre ligada!
No ano de 2011, quando iria completar 15 anos, pedi ao meu pai que me desse um Book fotográfico de presente, já que ele não tinha condições para me presentear com uma festa de debutante.
Meu pai juntou um dinheirinho e me deu o meu tão sonhado book, pra mim foi um máximo, pois vi meu sonho de ser modelo começando a se tornar real, mal sabia eu que ainda tinha muita coisa pra acontecer.
Fiz o book, entrei para uma agência de modelos, porém como não tinha condições não pude continuar na agência, meus pais não podiam bancar minhas idas até Curitiba e nem os cursos que eu precisava fazer. Fiquei super triste, mas decidi que não ia desistir.
Uma ocasião fiquei sabendo que haveria um concurso no meu colégio, GAROTA MARIA DA LUZ (Maria da Luz é o nome do colégio), nesse momento eu pensei “Ali está a minha chance de ser Miss já que modelo não deu certo”.
Lá fui eu concorrer com mais 54 meninas super lindas. Imagina as brincadeiras que surgiram depois que eu disse que iria participar, foram risadas da sala inteira.
Mesmo usando óculos, aparelho nos dentes, e sendo pouco vaidosa, eu fui, e não é que no dia do concurso me arrumei e me senti bonita, as pessoas me olhavam se surpreendendo.
No final eu venci o concurso, na hora do anúncio vi o pai chegando e foi incrível, pois ele tinha medo que eu me frustasse se eu não ganhasse.
Depois de algumas derrotas em outros concursos municipais, surgiu o apelido de Miss Palito, inventados pelas meninas do colégio em que eu estudava. As mesmas fizeram montagens com minha foto via Facebook, e eu experimentei o cyber bullying.
Todas essas situações me trouxeram a fase mais difícil da minha vida, a depressão. O sofrimento era tanto que pensei até em suicídio.
Eu não aguentava mais os apelidos, as brincadeiras, não aguentava mais ouvir as pessoas me dizendo que eu jamais ia ser modelo, que eu não era bonita pra ser miss, que eu era magra demais, alta demais, e não aguentava mais tudo que eu estava vivendo naquele momento e eu queria apenas desistir de tudo.
Anjos surgiram para me tirarem da minha fase mais sombria e me trouxeram pra luz de novo. Aprendi a lição: qualquer coisa ruim que falassem eu iria usar como meu combustível, que para aqueles que me disseram que eu não ia conseguir eu ia provar que eles estavam errados.
Assim eu fiz, então um ano depois dessa fase super ruim eu tive a oportunidade de representar meu município no Miss Teenager Paraná, para meninas de 14 a 18 anos. Foi onde tudo mudou.
Eu passei a confiar mais em mim mesma e acreditar cada vez mais nos meus sonhos, nesse concurso fiquei entre as 8 finalistas e com isso fui convidada a representar o estado de São Paulo no Miss Teenager Brasil, foi incrível eu jamais imaginei que iria tão longe!
Depois disso me formei no ensino médio e aí eu decidi que não iria entrar pra faculdade naquele ano, achei melhor aguardar pra realizar meu maior sonho: o de ser modelo.
Enquanto isso como eu já trabalhava numa empresa aqui na minha cidade juntei um dinheirinho e iniciei o meu tão sonhado curso de inglês.
Um dia vi um anúncio de uma agência que estava em buscava novos perfis e lá fui eu, sonhadora, me inscrever pra tal seleção.
Passei na seleção e acabei entrando pra uma agência. Certa vez uma modelo Internacional veio até a agência pra uma reunião com os modelos que tinham perfil pra viajar e eu estava lá.
Tiramos uma foto juntas e a foto foi parar no Facebook e nisso o responsável por carreiras internacionais me viu e me fez a proposta de viajar para modelar, não pensei duas vezes, já aceitei e comecei a me preparar.
Na minha cabeça eu ia levar um ano ou dois no mínimo pra viajar, porque tinha sido assim com as outras meninas! Que nada, dali seis meses eu já estava na China.
Tudo aconteceu tão rápido que só fui me dar conta três dias depois de ter chego na China! O choque chegou, “Meu Deus eu tô na China”. E aí o choro veio, mas me lembrei de tudo que tinha passado pra chegar até ali e decidi que iria aproveitar ao máximo.
De três meses programados acabei ficando sete meses, voltei ao Brasil, decidi ficar mais um tempo na China e no final de tudo acabei ficando por lá por três anos e meio.
Vivi muita coisa, aprendi muita coisa, tive oportunidade de aprender muito sobre a cultura chinesa, aprendi o idioma mais falado do mundo que é o mandarim – além de falar consigo ler e escrever um pouco.
Aperfeiçoei meu inglês, tive oportunidade de praticar o espanhol, sem falar que trabalhar fazendo o que sempre sonhei foi incrível! Mas mesmo vivendo tudo isso sempre continuei acompanhando os concursos e sempre tive o desejo de voltar a concorrer.
No ano passado a convite de BMW eventos empresa que organizadora do Miss Paraná BE EMOTION tive a honra de representar o Brasil na Tailândia no Miss Teen Internacional e pude sair de lá com cinco títulos: 2º lugar no Miss Teen Internacional, melhor traje típico, melhor foto, Miss Teen Model of the year e Miss Fotogenia!
Foi a primeira vez em dez anos que o Brasil teve uma representante nesse concurso e também a primeira vez que uma candidata recebeu tantos prêmios.
Depois disso voltei ao Brasil e os meus coordenadores municipais despertaram em mim novamente o sonho de participar do Miss Paraná.
Como desde os 15 anos o meu objetivo era um dia chegar ao Miss Paraná e quem sabe um dia ao Miss Brasil eu decidi que iria entrar pra ganhar e me preparei da melhor forma possível. Preparei meu corpo, estudei e graças a Deus deu certo.
Hoje estou vivendo um sonho e pretendo fazer história. Eu que já tenho projetos sociais que desenvolvi muito antes de voltar ao mundo miss quero aproveitar o título de Miss Paraná para dar mais força aos meus projetos.
Quero poder mostrar com a minha história de vida que tudo é possível, só precisamos acreditar nos nossos e também quero mostrar a força que nós mulheres temos”.
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