Com o objetivo de auxiliar cegos em atividades do cotidiano, o aplicativo “Be My Eyes” pretende unir voluntários que “emprestam” sua visão aos que não enxergam, por meio de chamadas de vídeo. E está conquistando espaço nos smartphones de deficientes visuais e voluntários.
O aplicativo permite descrever uma imagem, ler uma receita, verificar a data de validade de um produto e realizar outras coisas simples que são verdadeiros desafios para um deficiente visual fazer sozinho.
O estudante de engenharia de software, Luiz Antônio Mendonça, tem 28 anos e é cego de nascença. Maringaense, ele tem o aplicativo baixado no celular desde 2014 e contou que já o utilizou algumas vezes.
Uma delas foi para perguntar a um voluntário qual era a cor da bermuda e da camiseta que tinha comprado recentemente. Mendonça ia para um evento especial e não sabia se as peças estavam combinando. “Sem o aplicativo, eu não teria confiança para usar a roupa nova. Estava ansioso, queria saber se ficaria boa”, disse.
Em outra oportunidade, Mendonça utilizou o aplicativo para saber quantas luzes do modem da internet estavam ligadas, pois estava solicitando reparo por telefone com a operadora e sem essa informação teriam que enviar um técnico até a casa dele.
O estudante revelou que o próximo desafio é utilizar o aplicativo para formatar um computador. “Vou fazer um teste na semana que vem. Quero tentar ligar para que visualizem a tela do computador e eu consiga formatar. Nunca pedi serviços demorados como este, vamos ver o que dá”, disse.
Ele explicou que o leitor de tela do computador não funciona na inicialização do sistema, por meio da qual é feita a formatação.
O vereador de Ourizona, Jean Carlos Rosada, também é cego e faz parte do Be My Eyes. Ele contou que teve conhecimento do aplicativo por meio de um grupo no WhatsApp.
“Ainda nunca precisei usar, mas tenho o aplicativo instalado no meu celular para o caso de um dia precisar. A ideia é muito válida e sem dúvidas ajuda as pessoas que não conseguem enxergar”, disse.
A pedido do Maringá Post, Rosada fez um teste no aplicativo. Ele pediu para um voluntário quais eram as cores de duas camisetas, que iria vestir. O vereador disse que a chamada foi bem sucedida e completou: “Agora até minha mãe quer se inscrever para ajudar os deficientes”.
De acordo com Mendonça, o tempo médio para que a ligação seja atendida é de 30 a 60 segundos.
Número de voluntários passa de 800 mil
Os voluntários que estiverem conectados no Wi-Fi ou na rede de dados móveis podem receber a ligação a qualquer momento.
O aplicativo liga para a primeira pessoa disponível e, caso demore para atender, automaticamente a chamada é transferida. O Be My Eyes possuía mais de 840 mil voluntários no mundo, até o fechamento dessa matéria.
A estudante de Direito, Beatriz Zago Ambrosio, é voluntária e relatou que descobriu o aplicativo por meio de uma publicação em um grupo fechado no Facebook. Em três dias de uso, recebeu uma chamada.
Beatriz, que também é de Maringá, disse que a deficiente visual pediu para ela ler uma receita médica para saber qual remédio precisava comprar. A voluntária pediu que a cega ajustasse o celular um pouco para a esquerda e leu o que estava escrito.
“O aplicativo é uma maneira de ajudar pessoas que realmente necessitam. Com um pequeno gesto, como ler uma bula, falar a cor de uma blusa e tornar a vida dos deficientes visuais mais fácil”, disse.
Por outro lado, a também estudante maringaense, Heloiza Pereira Costa, disse que faz parte do Be My Eyes como voluntária há um mês, mas ainda não conseguiu atender a nenhuma chamada.
“Infelizmente ou não, não consegui atender ninguém ainda, mas fico feliz em saber que estou à disposição para ajudar muitas pessoas”, disse.
Para participar, o deficiente visual deve baixar o aplicativo na Apple Store ou Play Store, cadastrar-se pelo e-mail ou pela conta no Facebook e escolher o idioma. Em seguida, aparecerá um botão que ocupa quase todo o espaço da tela para iniciar uma chamada de vídeo.
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