Flora Barros Verillo tem apenas 12 anos, mas como vereadora mirim de Maringá provocava comentários do tipo: “Ela faz mais do que muitos marmanjos da Câmara”.
Eventuais exageros à parte, o fato é que mesmo “sem mandato”, este ano a menina aparentemente delicada e frágil arrecadou mais de 100 títulos para a Feira de Livros da Câmara de Maringá (Felicam).
Não foi a primeira vez que Flora arregaçou as mangas e saiu batendo nas portas das casas da vizinhança e percorreu incontáveis salas de aula pedindo livros para a Felicam. Já fez essa maratona três vezes.
Ela não sabe ao certo quantos livros já levou para serem trocados por outros na Felicam ou incluído no acervo da pequena biblioteca da Câmara com obras de escritos maringaenses.
Diz que vai contando os livros por caixas e não por títulos: “Ano passado, que mobilizei a escola inteira, foram umas quatro caixas. Esse ano, que mobilizei só o Fundamental II foram três caixas, mas foram bastante livros”.
Ato de consciência social e política
Juntar livros também não é um simples ato de caridade da pequena. Flora acredita que a única solução para o Brasil sair da crise é a educação, por isso resolveu montar a campanha.
“Muitas pessoas têm livros que não utilizavam e muita gente quer ler. Nas livrarias custam muito caro. Então peguei os livros que as pessoas não querem mais ou já leram e doei para que mais gente possa ler e, assim, ajudar no processo de aprendizado”, justifica.
Flora foi vereadora mirim durante todo o ano passado e conta que a experiência lhe permitiu conhecer vários problemas da cidade, “com o olhar de uma criança e não de um vereador normal”.
Um dos projetos que apresentou foi sobre acessibilidade. A ideia, conta, era criar lixeiras exclusivas para garrafas pets. As garrafas, depois, seriam transformadas em tecido para confecção de uniformes para a rede pública de ensino.
Este ano, observa, não há nenhuma mulher na Câmara Municipal, o que a deixa triste. “Me senti responsável, porque fazemos parte de um grupo feminino na política”, afirma.
A experiência deixou Flora mais atenta à política nacional e ao que afeta o Brasil. Diz que gostaria de se candidatar a um cargo público no futuro, mas observa que a rotina a deixou “muito cansada, mas com a sensação de que fiz alguma coisa boa”.
A consciência da pré-adolescente impressiona. Diz que a corrupção tem que acabar e explica que começou a “coletar livros para mudar o futuro. Talvez não consiga mudar o mundo, o Brasil ou Maringá, mas estou tentando fazer a minha parte, que é doar livros para ajudar”.
Agradecimentos e o gosto por leitura
Como boa política, não esquece de enumerar quem a apoiou nas campanhas para juntar os livros, começando pela coordenação da escola onde cursa o 8º ano do Ensino Fundamental, a Magnus Domini, na Zona 2.
E quanto aos livros que ela gosta de ler? Bem, o preferido do momento e a saga “Star Wars, para imaginar o que não foi mostrado nos filmes”, mas o romance “Os Miseráveis”, do francês Victor Hugo, é o livro que Flora mais gostou.
Mesmo quando o papo é literatura, Flora dá um jeito de fazer alguma observação política: “Os nossos governantes não estão preocupados em incentivar a cultura e a leitura, para evitar que os cidadãos sejam mais críticos e questionadores. Isso não é positivo para os nossos políticos”.
Flora, que é filha única e nasceu em Maringá, pensa em fazer jornalismo “por causa do amor que tem em escrever histórias” e não descarta a possibilidade de produzir um livro.
Na escola, a matéria que ela mais se identifica é história, porque segundo a estudante ajuda a compreender o passado e fazer um futuro melhor. “Algumas vezes vejo os erros que muita gente fez, comparo com o presente e tento não repetir”, diz ela.
Quando o papo é música, de forma enfática diz que o gênero que mais gosta é rock e sua banda preferida é a britânica The Beatles.
Ela é diferente, diz quem a conhece
Amanda Belão Cordioli, 13, é amiga da Flora desde pequena, quando moravam no mesmo prédio, e conta que a amiga é uma aluna dedicada e que sempre ajuda os outros colegas a a entenderem a matéria.
A professora de português, Aline Marques, 31, vê Flora como uma aluna diferente. “É uma aluna que destoa dos demais, pela senso crítico, e me surpreendeu muito quando descobri que ela era vereadora mirim.”
A professora observa que os alunos, o que seria próprio da idade, são muito imediatistas e poucos deles pensam em atuar socialmente e ajudar a cidade.
Aline destaca que o senso crítico da Flora vem do hábito da leitura, que ajuda também a pensar no próximo: “Você sempre que escreve, escreve pensando em alguém. Você não escreve para si”, salienta a professora.
Para saber mais sobre a Feira de Livros da Câmara Municipal ou fazer doação de títulos, acesse a página do Facebook da Escola Legislativa ou visite a Felicam na entrada da Câmara. O horário de funcionamento é das 12h às 18h.
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