Cresce número de casos de doenças intestinais inflamatórias no Brasil

Em nove anos, o número de internações por doenças inflamatórias intestinais (DIIs) aumentou 61% no Brasil.

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    Em nove anos, o número de internações por doenças inflamatórias intestinais (DIIs) aumentou 61% no Brasil, de acordo com levantamento inédito realizado pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), com dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS).

    Foram 23.825 internações em 2024, contra 14.782 em 2015. No total, mais de 170 mil pacientes deram entrada em unidades de saúde do país em decorrência dessas enfermidades crônicas. A pesquisa, a maior do tipo já feita no Brasil, também indicou uma alta anual de 15% na prevalência das DIIs, com incidência de até 100 casos por 100 mil habitantes, com maior concentração nas regiões Sudeste e Sul.

    A SBCP explica que as doenças inflamatórias intestinais são caracterizadas por inflamações recorrentes no trato gastrointestinal, que podem atingir diferentes pontos do sistema digestivo, da boca ao ânus. As duas formas mais comuns são a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. 

    Ambas não têm cura definitiva e provocam sintomas como dores abdominais, diarreia frequente, sangramentos, perda de apetite, emagrecimento e fadiga, afetando a rotina de idas ao banheiro dos pacientes. 

    As suas causas ainda são desconhecidas. Segundo informações da Rede D’Or, que mantém centros especializados no diagnóstico e tratamento das DIIs, acredita-se haver uma reação exagerada do próprio sistema imunológico à flora intestinal, que passam a atacar as células do intestino como se fossem estranhas ao corpo. Outra possibilidade é o resultado de alterações na microbiota intestinal.

    De acordo com a SBCP, a identificação das DIIs envolve um processo detalhado, com avaliação clínica, exames laboratoriais, endoscópicos e de imagem. A colonoscopia com biópsia é um dos principais procedimentos utilizados, permitindo visualizar diretamente o intestino e identificar alterações na mucosa. O exame é considerado fundamental para avaliar a extensão e a gravidade da doença.

    A Rede D’or acrescenta que também podem ser solicitados exames de sangue e fezes para verificar anemia ou a existência de parasitas intestinais, assim como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, para identificar possíveis complicações, como fístulas, perfuração do intestino ou megacólon.

    A identificação precoce possibilita melhorar o prognóstico e reduzir a progressão da doença. A coloproctologista Ana Sarah Portilho, diretora de comunicação da SBCP, alerta, em entrevista à imprensa, que o crescimento das internações nos últimos anos foi expressivo não só devido à severidade dos casos, mas também pelo aumento da incidência, ou seja, a quantidade de novos pacientes diagnosticados sem tratamento.

    A médica ressalta a existência de um número maior de casos em capitais e em regiões com maior urbanização e industrialização.

    Ministério da Saúde alerta sobre cuidados com alimentação

    O Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal, celebrado anualmente em 19 de maio, trouxe, este ano, o alerta sobre os principais desafios enfrentados por quem convive com essas doenças: dieta e nutrição.

    O Ministério da Saúde destaca que, para muitas pessoas, a comida representa momentos de prazer, conexão social e cultura. No entanto, para os portadores de doenças inflamatórias intestinais (DIIs), essas experiências podem gerar ansiedade, estresse e isolamento, devido à dificuldade de lidar com alimentos que podem agravar os sintomas e à necessidade de abrir mão de certos prazeres do dia a dia.

    Por afetar diretamente o trato gastrointestinal, as DIIs interferem na digestão e na absorção dos nutrientes, além de prejudicar o trânsito intestinal. Por isso, a alimentação é parte do tratamento. Uma dieta adequada contribui para o alívio dos sintomas, ajuda na cicatrização e restauração da mucosa intestinal, além de prevenir deficiências nutricionais

    Segundo o Ministério, não existe um padrão único de alimentação para todos os pacientes com DIIs. A recomendação é que seja feita uma orientação personalizada por um nutricionista para atender às necessidades de cada pessoa, levando em conta o estágio da doença, os sintomas e os medicamentos utilizados. 

    Estão entre as recomendações gerais, estão: 

    • fazer várias refeições pequenas ao longo do dia;
    • mastigar bem os alimentos;
    • comer em ambientes tranquilos;
    • ler os rótulos dos alimentos para escolhas mais seguras;
    • optar por alimentos de procedência confiável;
    • higienizar adequadamente frutas, verduras e legumes.

    Ainda conforme o Ministério da Saúde, o equilíbrio nutricional deve incluir carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e fibras, sempre adaptados às necessidades individuais.

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