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Com a mudança do clima, especialmente durante a transição do outono para o inverno, aumentam os casos de doenças respiratórias como rinite, sinusite, asma, bronquite e pneumonia. A maior circulação de vírus como o do resfriado, o vírus sincicial respiratório e o da gripe nesta época influencia diretamente o crescimento dos casos.
A alteração nos padrões climáticos, especialmente as temperaturas frias e a baixa umidade do ar, aumenta a chance de inflamação nas vias aéreas. Reações alérgicas também se intensificam, podendo desencadear crises em indivíduos com asma ou outras doenças respiratórias crônicas.
Dados da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) confirmam que, desde o início do ano, foram registrados 10.635 casos e 523 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizada no Paraná. Desses, 991 casos e 85 óbitos foram por Influenza — entre as vítimas, apenas nove haviam sido vacinadas contra a gripe. O recorte epidemiológico de 2024 e 2025, referente à semana 18, revela um aumento de 43,17% nos casos hospitalizados (de 3.164 para 4.530) por SRAG no estado. Dos 399 municípios, 55,6% (222) apresentaram casos de SRAG hospitalizada por vírus respiratórios, e 6,3% (25) já registraram óbitos.
O médico pneumologista Sergio Grava, especialista em endoscopia respiratória e diretor científico da Associação Paranaense de Pneumologia e Tisiologia, falou sobre o aumento, a prevenção e o tratamento das doenças respiratórias mais comuns nos meses frios.
Como as flutuações de temperatura influenciam o sistema respiratório?
Dr. Sergio afirma que a variação térmica pode sim afetar o sistema respiratório. Ele explica que o organismo se adapta bem a temperaturas entre 25ºC e 30ºC, comuns no verão. Porém, quedas bruscas para 8ºC ou até 4ºC — como ocorreu recentemente em Maringá — causam alterações na mucosa das vias aéreas (nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios e pulmões), diminuindo a defesa natural e abrindo espaço para a entrada de vírus e bactérias. Isso pode causar resfriados, gripes, sinusites, laringites e infecções bacterianas que, se não tratadas, podem evoluir para quadros mais graves.
Como diferenciar um resfriado comum de bronquite ou pneumonia?
A gripe e o resfriado diferem em intensidade. O resfriado é mais leve, com espirros, coriza e dor de garganta branda. Já a gripe vem com os mesmos sintomas, mas mais intensos, incluindo febre alta e dores no corpo — é o tipo de doença que derruba o paciente. Se os sintomas persistirem, e surgirem tosse, cansaço e febre alta, é necessário procurar atendimento médico. Pode ser um sinal de infecção nos brônquios ou de pneumonia, que costumam evoluir rapidamente e podem ser graves.
Quais medidas preventivas são recomendadas durante a transição outono-inverno?
Dr. Grava destaca a vacinação contra a gripe como principal medida preventiva, especialmente para idosos e crianças — grupos mais vulneráveis. Segundo ele, mesmo vacinado, o paciente pode ser infectado, mas com sintomas mais leves e sem necessidade de internação. A vacina da rede pública tem a mesma eficácia das versões oferecidas em clínicas particulares.
Ele também recomenda a vacina contra pneumonia, disponível no SUS para adultos com comorbidades e incluída no calendário infantil. Além da vacinação, outras medidas preventivas incluem:
- Ter boa educação ao tossir ou espirrar, cobrindo a boca e o nariz.
- Evitar aglomerações.
- Ter uma alimentação saudável.
- Manter níveis adequados de vitamina D e consumir vitamina C (frutas cítricas).
- Dormir bem.
- Praticar atividades físicas e beber bastante água.
- Evitar o tabagismo.
- Manter os ambientes bem ventilados.
- Controlar doenças pré-existentes, como diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca, asma e alergias.
Qual a diferença entre DPOC e asma em causas e tratamentos?
A asma é uma inflamação crônica das vias aéreas inferiores, geralmente com início na infância, associada a processos alérgicos. Pode ser controlada com medicação contínua e evitando gatilhos alérgicos. Em caso de crise, sintomas como falta de ar, chiado no peito e dor ao respirar exigem atenção médica imediata.
Para pacientes asmáticos, é importante:
- Manter a casa e o trabalho livres de poeira, mofo e ácaros.
- Usar capas antialérgicas em colchões e travesseiros.
- Evitar varrer a casa; prefira pano úmido.
- Limpar filtros de ar condicionado.
- Manter comorbidades sob controle.
Já a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada pela obstrução irreversível das vias aéreas, causada principalmente pelo tabagismo. A DPOC resulta da combinação de bronquite crônica com enfisema pulmonar, sendo uma doença grave e incapacitante, mais comum em adultos fumantes e ex-fumantes. O tratamento envolve o abandono do cigarro e o uso de medicamentos contínuos.
Avanços em terapias respiratórias
A medicina respiratória tem avançado com terapias inovadoras, como medicações inalatórias e o uso de imunobiológicos baseados em anticorpos monoclonais (mAbs) para asma e DPOC. Dr. Grava também destaca a importância da fisioterapia respiratória como suporte ao tratamento.
Mudanças climáticas e saúde respiratória
As mudanças climáticas — com temperaturas extremas, poluição e alterações sazonais — impõem novos desafios à saúde pública, especialmente no campo das doenças respiratórias. O vínculo entre fatores ambientais e agravamento de doenças respiratórias é amplamente reconhecido pela ciência, com estudos que comprovam os efeitos da poluição e da temperatura sobre o sistema respiratório.
Frente a esse cenário, é fundamental:
- Empoderar os pacientes com educação em saúde.
- Personalizar planos terapêuticos levando em conta fatores ambientais.
- Integrar sistemas de saúde com dados meteorológicos e ambientais para ações preventivas.
- Promover políticas públicas que incentivem matrizes energéticas limpas, planejamento urbano sustentável e preservação de áreas verdes.
No Paraná, a Resolução nº 1.014/2025, publicada em 6 de maio pela Sesa, reforça medidas de prevenção às SRAGs, como Influenza e Covid-19, diante do aumento das internações e mortes.
Próximo evento
O Dr. Sergio Grava estará na organização da Jornada Paranaense de Pneumologia, marcada para 28 de junho, em Maringá. O evento contará com a presença de especialistas renomados, como o Dr. José Roberto Jardim (UNIFESP), referência em DPOC, e a Dra. Leda Rabelo (UFPR), coordenadora do Ambulatório de Asma Grave do Hospital de Clínicas da UFPR.
O curso é voltado a médicos, fisioterapeutas, estudantes e profissionais da saúde interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre doenças respiratórias.
Para concluir, Dr. Grava reforça que a vacinação contra gripe e pneumonia, aliada a uma rotina saudável, é a forma mais eficaz de evitar as complicações respiratórias durante as estações mais frias.

Por Elaine Marques, estagiária de Jornalismo, sob supervisão do editor-chefe Ronaldo Nezo
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