Chepe Putzu, o pastor da Guatemala por trás do Legendários, movimento que atrai famosos e políticos no Brasil

Líder do movimento Legendários, ele prega a “restauração do homem caçador” e se tornou referência entre influenciadores religiosos e conservadores.

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    Um movimento criado na Guatemala e liderado por um pastor formado em marketing tem ganhado força no Brasil, atraindo celebridades, políticos e influenciadores. O nome por trás da iniciativa é Chepe Putzu, autor do livro A Rota do Caçador e idealizador do projeto Legendários — um retiro cristão voltado exclusivamente para homens, com promessas de transformação espiritual e fortalecimento de valores tradicionais de masculinidade. A reportagem original sobre o tema foi publicada pela revista GQ Brasil.

    O objetivo declarado do retiro é “trazer de volta o herói caçador para cada família”. Na prática, isso se traduz em experiências imersivas de espiritualidade, exercícios ao ar livre, leituras bíblicas, reflexões sobre o papel masculino na sociedade e — segundo os organizadores — o resgate da figura do homem como líder da família. O programa já tem 52 mil membros espalhados por 17 países, incluindo Brasil, Estados Unidos, México e, mais recentemente, Portugal.

    De problemas com álcool à vida de pastor

    Chepe Putzu tem uma trajetória de transformação pessoal que reforça o apelo de sua mensagem. Em entrevistas, como a concedida ao podcast Forte, apresentado por Karina Bacchi, o guatemalteco afirmou ter enfrentado problemas com “mulheres e álcool” antes de se converter à fé cristã. Hoje, ele mora em Miami com a esposa Alejandra Beckley De Putzu — também pastora — e três filhos adolescentes.

    Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Marketing, Putzu lidera há mais de 20 anos a Igreja Casa de Deus, na Guatemala. Em seu livro, publicado originalmente em espanhol em 2021 e lançado no Brasil em fevereiro deste ano, ele compartilha vivências pessoais, ideias sobre masculinidade e espiritualidade e defende que o homem deve retomar um papel ativo e protetor dentro da família.

    No Instagram, o pastor reúne mais de 200 mil seguidores. Entre os perfis que o seguem, estão Thiago Nigro, Maira Cardi, Karina Bacchi, Cesar Menotti e Kaká Diniz. Ele também segue nomes como o ex-presidente Jair Bolsonaro e o jogador Neymar Jr.

    O retiro Legendários e sua chegada ao Brasil

    Criado em 2015, o Legendários chegou ao Brasil em 2017. Para participar, é preciso desembolsar cerca de R$ 1.500 — valor que pode ser parcelado — e cumprir uma série de requisitos. Entre os “itens obrigatórios” estão lanterna, luvas de trekking, saco de dormir, Bíblia impermeável e documentos originais. Aparelhos eletrônicos são proibidos durante o retiro, que costuma acontecer em áreas rurais e montanhosas. Cada participante recebe um boné com identificação numérica.

    Há também versões do retiro voltadas para solteiros ou mesmo para barbeiros — sempre com foco na “reconstrução da identidade masculina” a partir da fé cristã. A proposta é que, ao final da experiência, os homens retornem para casa mais preparados para exercer seus papéis como maridos, pais e líderes.

    Segundo a revista GQ Brasil, o projeto tem ganhado projeção justamente por dialogar com um público que se vê representado em discursos de fé, liderança e valores tradicionais. Ao mesmo tempo, atrai críticas por reforçar estereótipos de gênero e promover uma ideia de masculinidade hierárquica e excludente.

    Um fenômeno em ascensão

    A adesão de figuras públicas ao movimento — de empresários a influenciadores religiosos — impulsionou a visibilidade do Legendários no Brasil. A proposta, embora simples, toca em questões profundas: propósito, identidade, espiritualidade e família. E é nesse ponto que o discurso de Chepe Putzu tem encontrado eco, especialmente em tempos marcados por polarização, crise de valores e busca por pertencimento.

    Se o pastor guatemalteco conseguirá sustentar o crescimento desse fenômeno, ainda é cedo para dizer. Mas seu nome já figura entre os mais influentes do universo cristão conservador latino-americano — com um modelo que mistura marketing, fé e imersão emocional.

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