Foto: Acervo Pessoal
Vitor Gabriel Cagol, de 17 anos, e Irene Cecília Cagol, de 51 anos, são mãe e filho que acabam de realizar um sonho em comum: ingressar no curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Foz do Iguaçu. Eles foram aprovados no vestibular da instituição pública e vão começar as aulas em julho deste ano.“Foi uma surpresa muito grande, a gente não esperava. […] Eu fiquei surpreso quando vi o meu nome na lista, eu não esperava. […] Depois eu fui ver se o nome da minha mãe estava lá, ela tinha um pouco de medo de não ter passado, porque ela ficou muito tempo sem estudar, mas foi uma surpresa enorme, um orgulho que eu senti”, diz Gabriel.
A trajetória dos dois estudantes foi marcada por muitas lutas. Vitor foi diagnosticado com epilepsia, uma doença neurológica que afeta as funções cognitivas, provoca crises convulsivas e espasmos, quando tinha menos de dois anos de idade. Apesar de tomar remédios, ele conta que às vezes tem crises fortes que exigem o cuidado de quem conhece os sintomas – e é aí que entra a mãe, que sempre se dedicou ao filho desde que ele era criança.“No geral, as minhas crises são mais na questão motora, às vezes enrola a minha língua, trava a minha fala, a minha coordenação motora também não é muito boa, isso que mais me atrapalha, porque eu sou mais lento, principalmente para escrever”, conta Vitor.
A mãe não só cuidou do filho, como também se inspirou nele para voltar aos estudos depois de mais de 20 anos de ter concluído o ensino médio. Ela acompanhou Vitor nos três meses intensos de cursinho pré-vestibular gratuito oferecido pela Unioeste. E, meses depois, veio a realização do sonho.Irene diz que, no início, escolheu a Engenharia Elétrica por ser a área que o filho queria. Mas, depois, confessa que passou a gostar também da área, por causa da convivência com o universo da robótica e outros assuntos relacionados.
“Ele gosta muito de robótica e a área que mais vai fazer ele se aproximar desse gosto dele, para desenvolver os projetos que ele tem, que ele já faz. […] Vivendo isso com ele, ele me ensinando tudo, eu aprendi a gostar também”, diz a mãe.
Vitor foi classificado em ampla concorrência no 10º lugar. Irene ficou em segundo lugar nas vagas destinadas a Pessoas com Deficiência (PCDs), por ter fibromialgia, uma síndrome que causa dores intensas pelo corpo, além de fadiga, indisposição e sono não reparador.
Esse foi mais um desafio que eles venceram. O nome da mãe na lista dos aprovados do vestibular deixou Vitor muito orgulhoso, principalmente pelas dificuldades que eles enfrentam – sempre juntos.
“Alguns nem querem prestar o vestibular, alguns por terem medo de não passar e outros por nem terem interesse. E ela enfrentou isso junto comigo, em meio às dificuldades, sofreu, sentiu na pele dela o que é o vestibular. Teve essa coragem de enfrentar e passou no mesmo curso. […] A alegria foi imensa, no momento a gente só queria comemorar eu e ela, então foi muito gratificante ter esse resultado”, lembra o filho.Irene contou que não foi fácil chegar ao resultado, mas que entrar na faculdade com o filho também a deixou muito orgulhosa. E a caloura reforça que nunca é tarde para estudar.
“E não ter vergonha, porque no nosso caso eu não tenho, não senti vergonha de estar com ele e ele me recebeu muito bem, também não tem vergonha de estar comigo. Somos mãe e filho, mas também acima de tudo muito amigos”, disse Irene.
Fonte: G1PR
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