Seis de cada 10 médicas brasileiras já foram vítimas de assédio no trabalho

O estudo também descobriu que 74% das médicas testemunharam ou souberam de casos de assédio envolvendo colegas.

  • Uma pesquisa conduzida pela Associação Médica Brasileira (AMB) e a Associação Paulista de Medicina (APM) revelou que 62,6% das médicas brasileiras já foram vítimas de assédio sexual e/ou moral no ambiente de trabalho.

    O estudo, que entrevistou 1.443 médicas de diversas regiões do país, também descobriu que 74% testemunharam ou souberam de casos de assédio envolvendo colegas.

    O levantamento, realizado online entre 25 de outubro e 16 de novembro, possui uma margem de erro de três pontos percentuais. A maioria das entrevistadas (95%) possui título de especialista, com 69% delas casadas ou em união estável e 63% mães.

    Além do assédio, a pesquisa aponta que 70% das médicas já enfrentaram preconceito, principalmente durante sua formação e início da carreira. Cerca de metade das profissionais relatou ter sido vítima de agressões verbais e físicas, com 72,3% testemunhando violência contra colegas.

    Um dado preocupante é que 55,4% das médicas não reportaram os incidentes de assédio ou abusos, e apenas 11% das que denunciaram observaram alguma ação concreta como resultado. Apenas 10% das vítimas de violência procuraram auxílio em órgãos policiais ou judiciais, e destas, somente 5% tiveram seus casos efetivamente resolvidos.

    Para combater essas questões, a AMB e a APM estão tomando iniciativas significativas. Um canal de denúncias foi estabelecido, proporcionando às médicas um meio de registrar queixas e receber suporte jurídico. Além disso, está sendo formada uma comissão nacional de médicas focada em segurança, igualdade de gênero e melhoria das condições de trabalho.

    A pesquisa também abordou a questão da igualdade de gênero na profissão. Apesar de 82,5% das médicas afirmarem que recebem a mesma remuneração que os colegas homens em suas unidades de trabalho, muitas relatam ser preteridas para cargos de liderança, evidenciando uma disparidade no reconhecimento profissional.

    O estudo ainda revelou que apenas uma minoria dos locais de trabalho oferece creche para os filhos das médicas, um reflexo das múltiplas dificuldades enfrentadas por elas, incluindo excesso de trabalho, desrespeito e misoginia.

    A situação atual, conforme retratada pela pesquisa, destaca a necessidade urgente de mudanças estruturais e culturais na medicina brasileira.

    Imagem: Freepik / Foto criada por @stockking

    Comentários estão fechados.