Foto: Laércio/Acervo pessoal
O Paraná é um dos maiores produtores nacionais de feijão, grão que tem presença obrigatória no prato dos brasileiros. No Estado, a produção é principalmente de agricultores familiares e, por isso, o Governo do Estado tem investido no melhoramento genético para aumentar a rentabilidade e a produtividade das lavouras.
O IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar- Emater) mantém um dos principais programas de melhoramento genético do País, e mudou a realidade agrícola do Estado, gerando conhecimentos, produtos e tecnologias. Como resultados, além de ganho na produtividade, propicia a prática de uma agricultura mais sustentável, a redução da utilização de agrotóxicos e, consequentemente, a produção de alimentos mais baratos e seguros para a sociedade paranaense.
A iniciativa começou a ser estruturada ainda na fundação do antigo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), em 1972, com o objetivo de desenvolver cultivares para o mercado interno e externo, com bons atributos. São plantas que passaram por processos de melhoramento para que sejam inseridas características que não possuíam.
GENÉTICA – Desde que foi iniciado, o programa de melhoramento genético já colocou à disposição dos agricultores de todo o Brasil, e de alguns países da América do Sul e Europa, 223 cultivares. Destas, 41 são de feijão, e 11 estão atualmente com sementes disponíveis no mercado e cultivadas em todas as regiões produtoras no país. São elas: o IPR Tangará, IPR Campos Gerais, IPR Quero-quero, IPR Bem-te-vi e IPR Sabiá, todos do grupo comercial carioca. Há também no grupo comercial preto o IPR Uirapuru, IPR Tuiuiú, IPR Nhambu e IPR Urutau e, do grupo especial, o IPR Garça (branco).
Na safra 2022, 63% dos campos de multiplicação de sementes de feijão preto e 14% de carioca no Brasil eram cultivares IPR. “Observamos uma preferência do agricultor pelas cultivares desenvolvidas pelo IDR-PR, porque são variedades que promovem rentabilidade, contribuem para uma produção sustentável e têm resistência às principais doenças que ocorrem no Estado”, disse Vânia Moda Cirino, especialista em melhoramento genético de feijão e atualmente diretora de Pesquisa do Instituto.
SOCIAL – “A cultura do feijão é uma das prioridades do instituto, porque tem grande relevância econômica e social para o Estado. É predominantemente produzida por pequenos produtores, constituindo a principal fonte de renda desses agricultores familiares”, explicou a diretora.
O desenvolvimento de uma nova cultivar é um trabalho de longo prazo. Desde o planejamento dos cruzamentos, que visam à combinação dos genes para obter as características pretendidas para a planta até o lançamento das sementes para multiplicação, são 10 a 12 anos de estudos. O melhoramento genético agrega diversas características à planta, como ciclos de cultivo mais curtos, tolerância a diferentes condições de clima e de solo, arquitetura de planta que facilita a colheita mecânica e até mesmo a qualidade culinária do grão.
MAIOR PRODUTIVIDADE — Laercio Della Vecchia, produtor rural em Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, plantou por muito tempo variedades de feijão como o rajado, além do esteio e preto puro, mas, depois optou pelo carioca, com o plantio do IPR Sabiá. “Ele tem se mostrado muito bom em campo. Já no primeiro ano, produziu 70 sacas por hectare e nosso custo foi de apenas R$ 4 mil por hectare. Neste ano, o valor da saca girou em torno de R$ 350 a R$ 400 reais”, disse o produtor.
Após o processo de melhoramento genético, os grãos passam a ter alto potencial de rendimento e adaptação ao solo, garantindo mais estabilidade de produção. As plantas crescem com porte ereto, o que as torna mais apropriadas para a colheita mecânica e também desenvolvem resistência maior às principais doenças.
“Quando você tem uma genética que te dá tolerância, não tem necessidade de fazer tantas aplicações de fungicidas. Nós produzimos um alimento mais saudável, nutritivo, que vai fazer toda a diferença para o consumidor final. Estou conseguindo tirar os meus feijões sem o uso de inseticida. Em produtividade é o melhor que eu conheço hoje”, ressaltou Laercio.
Para ele, a escolha pela variedade ofertada pelo IDR-PR trouxe uma série de benefícios. “Uma boa safra começa com sementes de qualidade. Tivemos redução de custo e aumento de produção. É um feijão muito fácil de conduzir em termos de doenças radiculares e aéreas, principalmente antracnose, e é muito fácil de ser colhido, já que tem pouca perda mecânica”, avaliou.
IMPACTO – De acordo com Vânia, todas essas particularidades impactam positivamente o setor, já que os grãos passam a ter características adequadas ao segmento comercial, com um tamanho maior e boa aparência, mais tolerantes ao escurecimento. “São excelentes para a comercialização por conta da coloração, forma do grão, e qualidade culinária. Não adianta ser uma variedade boa de campo e ruim de panela”, enfatizou.
Com isso, a população que consome o feijão passa a ter um alimento de melhor qualidade, com cozimento rápido e caldo consistente, de sabor agradável e com elevado porcentual de grãos inteiros após o preparo. “Os seres humanos são reflexos do que comem. Solo rico, alimento rico. Estamos entregando um alimento com mais ferro, cálcio, mais rico em minerais. Além do produtor colher bem, o consumidor ganha um alimento muito mais nutritivo”, destacou o produtor.
DESTAQUES — Uma das maiores conquistas do programa foi o desenvolvimento de cinco cultivares com resistência ao mosaico dourado, doença das mais prejudiciais a lavouras de feijão no Brasil, um constante desafio à pesquisa nacional. São quatro do tipo carioca — IPR Celeiro (2016), IPR Eldorado (lançada em 2006), IAPAR 72 (1994) e IAPAR 57 (1992) — e, ainda, IAPAR 65, do grupo preto, de 1993.
Na categoria de grãos do tipo carioca, a vitória mais recente do IDR-Paraná é a cultivar IPR Águia, que se destaca pela resistência ao escurecimento dos grãos. Em condições adequadas de armazenamento, grãos de IPR Águia levam cerca de nove meses para começar a escurecer, um atributo importante para os agricultores.
“Os consumidores não compram um feijão com pigmento escurecido porque o associam a um feijão velho que não cozinha. Além disso, os agricultores não dão pouso para feijão carioca, eles colhem e imediatamente comercializam para não perder valor. Essa cultivar possibilita que armazene o grão por um determinado período”, ressaltou Vânia.
GOURMET – O grupo de melhoramento genético de feijão do IDR-Paraná também busca avanços na categoria de feijões especiais (grãos do tipo gourmet). O IDR-Paraná vai lançar este ano a cultivar IPR-Cardeal, de grãos vermelhos, desenvolvida para o segmento de exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas. Informações sobre todas as cultivares do grão estão disponíveis AQUI.
Vania compartilha uma curiosidade: o fato de todas as cultivares de feijão produzidas pelo Iapar ganharem o nome de pássaros. “Os pássaros são nossos companheiros na lavoura quando estamos trabalhando. Nós associamos o nome da ave com alguma característica que se ressalta na cultivar”, disse.
COMO É FEITO – A obtenção de uma linhagem a ser cultivada passa primeiro pela avaliação e seleção dos genitores que carregam as características agronômicas, comerciais e culinárias desejáveis para o cultivo. Isso inclui resistência a determinadas doenças, o potencial de rendimento, adaptação ao clima e até a cor, tempo de cozimento e quantidade de nutrientes no grão.
Pelo método de melhoramento convencional usado pelo Iapar, os genes são cruzados e recombinados para obter um único genótipo com as características esperadas para aquela cultivar. O produto resultante desses cruzamentos, que passa por oito gerações da planta sendo colhida e replantada, é avaliado até atingir a estabilidade genética do material.
Após esse processo, que leva de três a quatro anos, o material selecionado é testado em diferentes ambientes do Estado, sendo plantado nas estações experimentais do Iapar e em áreas de produtores parceiros para avaliar sua adaptação a diferentes climas e solos.
O programa também conta com um protocolo para manejo integrado de pragas (MIP-Feijão), tecnologia para fixação biológica de nitrogênio e métodos para o manejo sustentável das principais doenças. Vânia explicou que esse procedimento foi aplicado em todas as áreas acompanhada pelo IDR-PR.
“Em boa parte das minhas áreas não houve necessidade de aplicar inseticida. O MIP diagnostica os bichos inimigos e a gente só interfere quando eles estiverem em maior proporção ou causando danos. Quando tem necessidade, aplica, quando não tem, não aplica”, detalhou a diretora de Pesquisa do IDR.
Segundo Vânia, todo esse processo é essencial e muito satisfatório, já que beneficia tanto o produtor como o consumidor. “É muito bom poder trabalhar com uma cultura em que você beneficia o produtor, principalmente o pequeno, trazendo uma tecnologia que gera renda para ele, e contribuir também com a sociedade, gerando um alimento de excelente qualidade nutricional. Estamos sempre em busca de boas características agrícolas, culinárias e nutricionais. Queremos um feijão com mais proteína, mais ferro, mais zinco, um alimento que possa realmente nutrir a população”, projetou a diretora de pesquisa.
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