Ao longo de 25 anos, o câncer de mama matou 323,2 mil brasileiras, segundo indicativos do Ministério da Saúde. A doença foi registrada na certidão de óbito de 18,2 mil brasileiras em 2021, uma média de 50 mulheres por dia, ou duas a cada hora, segundo indicativos do Ministério da Saúde. Diante desses números, surgem movimentos internacionais de conscientização, como o Outubro Rosa, que visam contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.
O câncer é a segunda causa mais frequente de morte no país, de acordo com um levantamento recente do Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. A cada ano, cerca de 232 mil indivíduos morrem para a doença e 450 mil novos casos são diagnosticados, excluindo episódios de câncer não melanoma.
Segundo uma estimativa do Inca, o Brasil pode registrar um aumento de 66% no número de novos casos e 81% no número de mortes por câncer de mama até 2040, com o crescimento e o envelhecimento populacional. Desde 2017, o órgão alerta que o sobrepeso e obesidade são fatores de risco para diversos tipos de cânceres. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 13 em cada 100 casos de câncer no Brasil são atribuídos ao sobrepeso e obesidade.
A obesidade consiste no excesso de gordura corporal, em quantidade que cause prejuízos à saúde, sendo considerada uma doença crônica pela OMS. Para a agência, uma pessoa chega à obesidade quando seu IMC (Índice de Massa Corporal) é maior ou igual a 30 kg/m², enquanto a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m².
No Brasil, a taxa de indivíduos obesos foi de 22,35% no último ano, enquanto, em 2020, o índice era de 21,55%, conforme o estudo “Vigitel 2021”, realizado pelo Ministério da Saúde e publicado pela Agência Brasil. As pesquisas foram realizadas a partir de questionários telefônicos, com moradores de capitais de todos os estados brasileiros.
A Dra. Ana Caroline Fontinele, cirurgiã do In stituto de Medicina Sallet, explica que a obesidade é um fator de risco modificável para vários tipos de câncer, como, por exemplo, o câncer de mama.
“Não há uma explicação absoluta, mas estudos científicos demonstram que a elevada quantidade de tecido gorduroso no corpo contribui para o aumento dos níveis de estrogênio no organismo (hormônio feminino)”, afirma. “Altos níveis desse hormônio provocam a multiplicação descontrolada de células da mama, aumentando em muito as chances de desenvolvimento da doença”, complementa.
Campanha deve incentivar o combate ao sobrepeso
Para Dra. Ana Caroline Fontinele, vale investir em práticas e hábitos saudáveis que podem evitar a obesidade e o excesso de peso, como uma dieta equilibrada. “Sabemos que nem sempre é simples adotar uma rotina que envolva a prática de exercícios físicos regulares e escolha de alimentos ricos em nutrientes”.
Ela destaca que a obesidade é uma doença multifatorial que acomete indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades. “No Brasil, 60% da população está acima do peso e este número, infelizmente, cresce a cada ano. Neste cenário, campanhas de conscientização sobre os riscos de doenças associadas à obesidade são cada vez mais necessárias”, diz.
Segundo a médica, a obesidade é um fator de risco modificável de ocorrência do câncer de mama, mas as mudanças de hábitos, visando o controle de peso, contribuem para a diminuição dos riscos da doença. “As campanhas nem sempre abordam os fatores de risco com a devida importância. Melhor que identificar uma doença precocemente, é evitá-la”
Na visão da Dra. Fontinele, para além das informações sobre o câncer de mama em si, o Outubro Rosa também deveria informar a população sobre os fatores de risco de origem comportamental: “A campanha poderia incluir informações sobre a importância da prática de atividades físicas, deixar de fumar e beber, alimentar-se melhor e buscar tratamentos eficientes para a perda de peso, como as cirurgias bariátrica e metabólica”.
Estigma social e fatores de risco
Na análise da cirurgiã do Instituto de Medicina Salelt, o Outubro Rosa, que visa conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção do câncer de mama por meio de ações culturais, educacionais e artísticas, contribui de forma significativa para o diagnóstico precoce, aumentando as chances de cura da doença.
“A campanha proporciona um maior acesso aos serviços de diagnóstico, como orientações à população sobre o autoexame e alerta para a importância do acompanhamento médico anual, principalmente para as mulheres com mais de 40 anos, conforme orientação da sociedade de ginecologia e mastologia”, afirma a médica. O movimento também incentiva o combate aos principais fatores de risco associados a maus hábitos, como tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, obesidade e sedentarismo, acrescenta.
“Nos últimos anos, as campanhas trouxeram a discussão sobre o combate ao estigma social causado pela doença. Consequentemente, estas ações têm a função de contribuir para a redução da mortalidade, pois o câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no Brasil”, conclui.
Foto: Reprodução
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