Caçadores de CNPJ do Magalu miram trazer pequenas empresas para marketplace

Já faz algum tempo que as lojas do Magazine Luiza deixaram de ser apenas um lugar de venda de eletrodomésticos, e agora elas caçam CNPJs.

  • Já faz algum tempo que as lojas do Magazine Luiza deixaram de ser apenas um lugar de venda de eletrodomésticos. A novidade, de alguns trimestres para cá, é que elas viraram também verdadeiras caçadoras de CNPJs.

    “Cada CNPJ que eu vejo, enxergo R$ 100”, contou animada, ao Estadão/Broadcast, a gestora da loja do bairro do Farol, em Maceió (AL), Cássia da Silva Santos.

    Ela se refere à comissão que recebe quando um novo comerciante cadastra sua loja no shopping virtual da companhia e posta seus produtos. Em um mês, ela já chegou a angariar 24 novos lojistas. O trabalho dela, claro, não acaba no momento do cadastro, quando ela recebe a comissão. A profissional deixa seu contato com o comerciante local para tirar dúvidas e está presente na loja, onde muitas vezes o dono do pequeno negócio vai para deixar seus produtos para serem entregues pela logística do Magalu.

    Não foi por acaso que Cassia chegou a esse nível de recrutamento Ela tem na ponta da língua a taxa que a concorrência cobra de vendedores pequenos e sabe responder às perguntas dos lojistas mais desconfiados. Ela conta que o mais comum é o comerciante achar que tem de pagar algo ou fazer algum investimento em dinheiro para começar a vender em um marketplace. Ao entender que só será cobrada uma taxa do que ele vender, a conversa fica mais fácil. Aliás, a estratégia dela foi optar justamente pelos lojistas mais desconfiados.

    “Vários dias eu ia para o ponto de ônibus e dizia: ‘Eu vou pegar o primeiro ônibus que passar e ir para onde ele me levar’”, conta. Para bater a meta da loja, de cadastrar três comércios por mês para vender pela plataforma do Magazine Luiza, ela pode sair durante a parte de menor fluxo de clientes do dia para fazer essa prospecção. A sua estratégia foi buscar empreendedores de bairros mais afastados, totalmente analógicos, e visitá-los com frequência, até deixar tudo muito bem explicado

    O incentivo para que as lojas ganhem comerciantes para a plataforma digital do Magazine Luiza faz parte de um esforço da empresa para crescer seu marketplace, uma forma da companhia ganhar porcentagem sobre a venda de terceiros, sem ter de investir em estoques próprios. As taxas são cobradas em troca da infraestrutura digital oferecida e o fluxo de clientes que o aplicativo da empresa tem, que é difícil de ser atingido de forma solitária pelos empreendedores. Para pequenos lojistas, a empresa cobra 8,8% dos valores vendidos, já com a antecipação de recebíveis, que faz com que os comerciantes recebem à vista as vendas que o cliente parcela.

    A empresa começou em Maceió uma sequência de eventos chamada Caravana Parceiro Magalu, que vai rodar estados brasileiros em busca de lojistas. No estado, a empresa estima 37 mil varejos formais, dos quais 25 mil são potenciais vendedores de sua plataforma. O evento tinha 1,3 mil inscritos e contou com cerca de 1 mil participantes.

    Via redes sociais

    Mas não é só via caçadores físicos que o Magazine Luiza tem buscado avançar sobre pequenos comércios já formalizados. Roberval Fonseca, por exemplo, estava na última quinta-feira na loja em que Cássia trabalha para entender melhor o anúncio do YouTube que lhe aparecia repetidas vezes. Ele revende cocadas de porta em porta e estava fazendo um curso para aprender a vender de forma digital, quando começou a receber os anúncios para se tornar um “parceiro Magalu”. Depois de entender direito a proposta, ele decidiu tentar e se cadastrar na plataforma.

    No caso de Jamerson Cruz, que tem uma loja de suplementos, valeu a pena ceder às investidas de um vendedor do Magazine Luiza que entrou em contato com ele via Instagram. “Ele me mandava foto para eu saber que ele era de uma loja do Magazine Luiza mesmo”, conta. O vendedor era de Porto Alegre (RS) e conseguiu ganhar o cadastro de Jamerson, que agora usa a logística do Magazine Luiza e deixa os produtos vendidos na loja do bairro do Farol, em Maceió (AL), que de lá são entregues até em outros estados. Em um ano e meio, suas vendas online cresceram 30%, mas ele diz que passou a se dedicar mais nos últimos meses. Hoje, as vendas digitais representam 10% do seu negócio, mas ele quer chegar em 50% do faturamento vindo do online.

    Formalidade

    A primeira parada da Caravana Magalu, em Alagoas, tinha comerciantes interessados em passar a vender digitalmente e expandir os negócios. No entanto, Zilma dos Santos, de 63 anos, ex-cabeleireira, e Núbia Ferreira Alves, de 57, ex-manicure, clientes da rede, ficaram sabendo do evento, mas não das exigências para vender algo pela empresa. Elas se animaram e pensaram que era algo relacionado à venda por meio de catálogos de porta em porta.

    “Pensamos que era para vender móveis”, disseram. Chegando no local, souberam que para vender na plataforma tinham de abrir uma empresa e ter um CNPJ. Como não tinham esse interesse, ficaram só pelo evento mesmo.

    De fato, diferente de outras plataformas, para vender no Magazine Luiza é preciso ter uma empresa formal aberta e um Cnae que permita a atuação no marketplace da companhia.

    Estadão Conteúdo por Talita Nascimento

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