Contato com agrotóxico eleva risco de câncer de mama, diz pesquisadora

Em sessão do plenário, a bioquímica Carolina Panis expôs sua pesquisa sobre a relação do uso de agrotóxico com o câncer de mama.

  • Pesquisadora alerta deputados para o aumento do risco de câncer de mama para mulheres em contato com agrotóxicos.
    Foto: Orlando Kissner / Alep

    Na sessão plenária desta segunda-feira (25), a bioquímica e professora da Unioeste, Carolina Panis, falou a convite do presidente da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais da Assembleia Legislativa do Paraná.

    Em sua fala, ela apresentou dados de sua pesquisa que relaciona o uso de agrotóxico com o câncer de mama em mulheres ocupacionalmente expostas e esse tipo de veneno. Foi investigado a agressividade do câncer de mama em mulheres que trabalham na agricultura familiar e que tem contato direto com agrotóxicos, seja por meio da manipulação, da aplicação ou mesmo pelo contato com roupas e equipamentos contaminados. A pesquisa foi realizada no Sudoeste do Paraná, região que mais consome agrotóxico e berço da agricultura familiar no estado.

    Segundo dados apresentados pela pesquisadora, as mulheres da região Sudoeste ocupacionalmente expostas ao agrotóxico tem risco 59% superior de contrair a doenças do que mulheres que vivem nas cidades. Além disso, foi mostrado que o agravante seria um câncer extremamente agressivo.

    O percentual foi apresentado após uma pesquisa realizada por oito anos e que agora começa a apresentar os dados analisados.

    Segundo Carolina Panis, após oito anos de pesquisa, os dados sobre o impacto do uso de agrotóxico na população paranaense são concretos e preocupantes, e não apenas no Sudoeste do Paraná. “O Sudoeste é uma região extremamente agrícola, particularmente da agricultura familiar. Região que sofre exposição severa onde as mulheres fazem parte desse contexto de exposição”, ela explica.

    Entre as consequências desta exposição estão o aumento no número de casos de câncer de mama, a diminuição da faixa etária em que essas mulheres apresentam a doença, a agressividade dos tumores, bem como o aumento da taxa de mortalidade.

    É importante destacar que nesse contexto, a mulher tem um papel muito importante. É ela que prepara o agrotóxico, muitas vezes ajuda na pulverização e é ela que lava a roupa que o marido usa. Então o contato com o veneno é direto.

    Outro dado importantíssimo é que 94% das mulheres responderam não usar nenhum tipo de luva, máscara ou qualquer outro equipamento de proteção para manipular esses produtos.

    A pesquisadora finalizou alertando que a contaminação por agrotóxico se estende aos familiares, pois foi detectado contaminação por pesticida no sangue e urina e também no leite materno, e pediu o apoio dos deputados para que um núcleo de análise seja criado na Unioeste. “Precisamos avançar nesse tópico. Hoje somos vistos no estado como referência. Mas é preciso fazer um monitoramento da população exposta, para que vocês, que fomentam as políticas públicas, possam tomar as medidas devidas. Para avançar a gente precisa criar um núcleo para fazer essas análises. Temos capacidade operacional e técnica e precisamos de estrutura física para virar referência no estado do Paraná”.

    Mérito

    A pesquisa rendeu à professora Carolina o 34º Prêmio de Ciência de Tecnologia do Paraná, considerada a maior honraria que um cientista pode receber no Estado.

    Foto: Alep

    Carolina é professora no curso de Medicina e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde; pós-doutora em Oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer do Rio de Janeiro, mestre e doutora em Patologia, pela Universidade Estadual de Londrina. Atualmente, também é pesquisadora visitante no Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

    Dados divulgados pela Assembleia Legislativa do Paraná.

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