Fake news nas redes sociais tiram estudo de contexto para atacar vacina da Pfizer

  • O Maringá Post publica mais um desmentido de notícias falsas que circulam na internet. Ultimamente, a maior parte das fake news tentam desacreditar as vacinas contra a covid-19, como essa criada para atacar vacina da Pfizer. A checagem foi feita pela Comprova, que produz matérias para O Estadão Verifica.

    Tem sido muito compartilhado no Instagram nas últimas semanas  um print do que seria o story de um médico respondendo o que acha sobre a vacinação em crianças e adolescentes. Na resposta, diz poder falar sobre os dados da Pfizer e afirma que “no último semestre foram relatadas 14 mortes de jovens entre 12 e 17 anos relacionadas a essa vacina (sic)”. E diz existir um estudo nos Estados Unidos mostrando que, para cada caso de evento adverso notificado, existem 30 não notificados. Por fim, diz que apenas um jovem na mesma faixa etária morreu de covid-19 no mesmo período e termina com a sugestão: “faça as contas”.

    A comprovação de que trata-se de uma notícia falsa, montada para desacreditar as vacinas que estão sendo aplicadas para a prevenção do coronavírus em todo o mundo, foi feita por jornalistas da coalizão Comprova, que faz checagem de notícias para o jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, na editoria “Estadão Verifica”.

    A postagem, que segue as principais características das fake news, citando cientistas, institutos e estudos e terminando sempre afirmando que há subnotificação e que o número – se o assunto exigir números – é enorme.

    fake Pfizer
    Foto: Alejandra de Lucca/Ministério da Saúde do Chile

    A fake news  deste caso engana ao citar relatos de suspeitas de eventos adversos da vacina Pfizer-BioNTech (também chamada de Comirnaty) em crianças e adolescentes nos Estados Unidos para sugerir que a imunização é insegura. O conteúdo tira de contexto dados expostos em uma pesquisa do Centro de Controle e Prevenção de Doenças Infecciosas americano (CDC) ao omitir que os relatos de mortes citados no estudo não foram confirmados como consequência da vacinação.

    O estudo monitorou o registro de suspeitas de eventos adversos da vacina entre jovens de 12 a 17 anos, durante dezembro de 2020 a julho de 2021. Os autores destacam no documento que as notificações registradas no Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas americano (VAERS) não implicam necessariamente que a vacina tenha relação causal com os episódios.

    Segundo o relatório, investigações sobre a causa da morte de oito dos 14 casos reportados não indicaram um padrão sugestivo que associe as mortes com a vacina. As outras seis ocorrências ainda são apuradas por especialistas. O boato também cita supostos dados de subnotificação de eventos adversos para atribuir um tom alarmista sobre a segurança da vacinação.

    O site do VAERS destaca que a subnotificação é de fato uma limitação do sistema, em especial para ocorrências leves. Entretanto, isso não prova que a vacina da Pfizer causou mortes em adolescentes ou é insegura. Com base no estudo do CDC citado no boato, o Comitê Consultivo e Práticas de Imunização (ACIP) americano avaliou os riscos e benefícios da vacina e decidiu manter a recomendação para que crianças e adolescentes recebam o imunizante.

    Para descredibilizar as vacinas contra a covid-19 e principalmente atacar a vacina da Pfizer, a postagem afirma ter ocorrido apenas uma morte por covid na faixa etária entre 12 e 17 anos no último semestre. A plataforma do CDC que compila os dados provisórios relacionados à contaminação e mortes pela doença, contudo, não apresenta filtros específicos para esse recorte de idade. Possui, entretanto, a possibilidade de pesquisa de números referentes a crianças e adolescentes com idades entre zero e 17 anos, que somaram 151 óbitos apenas entre janeiro e julho de 2021.

    O responsável pelo post foi procurado, assim como o médico marcado no print e apontado como o autor das afirmações, mas nenhum respondeu até a publicação.

    Autoria da postagem

    A postagem aqui verificada foi feita pelo perfil @vacinacv19_relatos, que afirma compilar notícias relacionadas às vacinas contra a covid-19. A conta já teve conteúdo removido por “informações falsas e prejudiciais” relacionadas à doença, segundo justificou a plataforma.

    A publicação é um print no qual não constam as informações referentes ao perfil de origem. Na legenda, o usuário @vacinacv19_relatos afirma se tratar de um story da conta @marceu.lima, pertencente ao médico Marceu do Nascimento Lima, registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro desde janeiro de 2008.

    O profissional tem como especialidades a clínica médica e a cardiologia e mantém no perfil do Instagram um link para plataforma na qual agenda teleconsultas. Ele possui várias postagens nas quais defende a não vacinação de pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

    A equipe do Estadão Verifica procurou a ambos, mas não responderam.

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