Na contramão da onda verde e amarela

A Copa do Mundo está chegando e a seleção brasileira segue como uma das favoritas da competição. Mas será mesmo que todo brasileiro gosta de futebol?

  • Por Amanda Bebiano. Especial para o Maringá Post.

    Virou tradição e a gente sabe. A cada quatro anos, com certeza vamos ouvir algum bordão sobre o amor do brasileiro pelo futebol e o quanto o nosso país parece respirar o esporte. Não à toa o futebol brasileiro é conhecido e apreciado no mundo todo. Se ainda há controvérsias sobre a origem do esporte, por aqui nós temos uma única certeza: ele caiu no gosto popular e, junto com o Carnaval, se naturalizou brasileiro.

    Mas será mesmo que todo brasileiro gosta de futebol? De acordo com os jovens Gustavo Felipe da Silva, Vinícius Belasco Rafaeli e Giovane Silva, essa paixão não é compartilhada por toda a nação, pois eles são exceção. Os três possuem algo em comum: o desinteresse pelo futebol. Até mesmo pela competição que tem o poder de parar o país e mexer com os corações futebolísticos. Sim, eles não estão nem aí para a Copa do Mundo.

    São-paulino nas horas vagas

    Gustavo Felipe da Silva tem 28 anos, trabalha como instrutor de informática e era são-paulino. Era pois o interesse pelo clube paulista tinha uma origem: o primo era apaixonado pelo tricolor. “Eu dizia isso para me enturmar com os meus amigos de infância e por causa de um primo com quem eu cresci junto. Mas, na verdade, eu nunca tinha nem assistido a um jogo de futebol. Somos da igreja Congregação Cristã do Brasil, então nem televisão temos em casa”, relembra.

    Como quase toda criança brasileira criada em cidade do interior, Gustavo conta que cresceu jogando uma pelada com os colegas, pelas ruas de Pitangueiras, cidade localizada a 11 km de Astorga, no norte do Paraná. “No fundo, eu tinha um pouco de preguiça de jogar bola. Nunca chamou a minha atenção. Eu jogava um pouquinho, só para socializar com eles mesmo. Mas quando eu podia escolher, preferia ir em brinquedos ou jogar outra coisa. Qualquer coisa, menos futebol”, brinca.

    Sobre a Copa do Mundo, o evento mais importante do futebol, Gustavo afirma que a parte que mais gosta é, claro, as folgas nos dias dos jogos da Seleção Brasileira. “Mas não pense que eu odeio futebol não, tá? Eu só não curto muito. Eu sei que o futebol representa muito na nossa cultura, principalmente durante a Copa, onde tem a representação de um imaginário de unidade nacional ao se sentir representada internacionalmente. Sem falar que se torna um evento esportivo e recreativo que movimenta muito a economia”, pondera.

    90 minutos de perda de tempo

    Se não gostar de futebol já é motivo para espanto, imagina achar uma perda de tempo? O desenvolvedor de sistemas Vinícius Belasco Rafaeli afirma não saber o motivo de o esporte ser a paixão nacional. “Nunca entendi a paixão das pessoas em reunir a família inteira para assistir uma partida. Quando eu era mais novo, achava uma completa perda de tempo ficar parado na frente da tv, assistindo os jogadores correrem atrás da bola. Até hoje não entendo isso”, diz.

    Mas nem só de tempo útil é feita a vida das pessoas. Às vezes, um pouquinho de tempo perdido é necessário. Por isso o jovem não tem vergonha de assumir que, apesar de não entender nada, aproveita o fato de o esporte gerar confraternizações em família. “Eu sei que as pessoas gostam e se unem na hora das partidas. O turismo também é fomentado, mas o melhor é a comemoração na hora da vitória. Eu não acompanho, mas adoro ir comer o torresminho que a minha família faz em dias de jogo da seleção”, brinca.

    Há cinco anos, o jovem conta que o futebol invadiu sua vida. O motivo? A esposa é apaixonada pelo esporte, principalmente pelo Flamengo. “Para ela é tradição acompanhar os jogos. No começo eu fiquei assustado, porque ela veste a camisa do time, vai para a frente da televisão e acompanha desde o aquecimento até aqueles programas em que os comentaristas ficam analisando o jogo. Ela grita, xinga os jogadores, reclama do técnico, assiste várias vezes um mesmo lance para ter certeza de que não teve falta, impedimento. Eu não entendo, mas deixo ela assistindo e vou fazer as minhas coisas. Só pergunto o resultado depois pra me preparar, porque se o Flamengo perder ela fica brava a semana toda”, ri.

    Obrigado, Google

    Enquanto a maioria dos brasileiros não desgruda os olhos da tela e acompanha a partida até o árbitro apontar para o meio do campo, Giovane da Silva aproveita para comer. “O único benefício que vejo com a Copa do Mundo é sair para ver o jogo. Tem essa união entre amigos e familiares para comemorar e, dependendo do dia, rola até um churrasquinho. Mas eu não vou acompanhar os jogos, não. Depois vejo no Google qual foi o resultado”, diz.

    Não é nada fácil ser indiferente ao futebol, principalmente quando se vive no país da Seleção Canarinho. Mas será que esse desinteresse é motivo para sofrer descriminação? Para Giovane, a palavra correta seria desconforto. “Quando falo que não gosto de futebol, geralmente as pessoas reagem como se fosse algo estranho, mas no fim acabam entendendo. Me sinto constrangido mesmo quando começam a falar sobre escalação dos jogadores, posição dos times nas tabelas de campeonatos e eu não entendo nada sobre isso”, explica.

    E vamos “Catar” o hexa

    Tudo bem. Você pode até não gostar de futebol, mas é impossível passar ileso da onda verde e amarela que arrebata o país quando chega a Copa do Mundo. “Acredito que o Brasil ganhará, afinal não tem como fugir disso. Faz parte torcer pelo Brasil nessa época, é inevitável”, diz Giovane da Silva.

    Já o Vinícius Belasco Refaeli, parece ter sido contaminado pelo amor ao futebol da esposa. Ele está mais do que empolgado e confiante que o hexa virá. “Eu espero que o Brasil ganhe, sim. Já passou da hora de a gente acrescentar mais uma estrela na nossa camisa, né? Mas a minha esposa ficou bem desanimada com a escalação do Tite, então eu fiquei em dúvida. Só que mesmo assim continuo torcendo”, brinca.

    E não foi só a esposa do Vinícius que viu com maus olhos a escolha do técnico. Minutos após a divulgação dos 26 jogadores convocados para a Copa, as redes sociais foram invadidas por memes, em sua maioria criticando a ausência de personalidades do futebol brasileiro, como Rodinei e Gabigol, ambos do Flamengo, e a escolha de Tite pelo lateral Daniel Alves, de 39 anos.

    Fazendo uma campanha ruim pelo Pumas, do México, ele acumula apenas 12 jogos e muitas críticas dos torcedores. Em coletiva de imprensa após a divulgação, o técnico da seleção brasileira foi questionado sobre o motivo da convocação. “O critério do Daniel Alves é o critério de todos. Ele premia qualidade técnica individual, premia seu aspecto físico e traz seu aspecto mental. Tal qual os outros. Alguns com mais de uma qualidade, outros com mais de outra”, explicou.

    A abertura da Copa do Mundo 2022 será no próximo domingo, dia 20 de novembro, às 13h (horário de Brasília). Neste ano, a competição acontecerá no Catar, país do Oriente Médio. Logo após a cerimônia, tem início a primeira partida da competição. Catar e Equador se enfrentam no estádio Al Bayt.

    Esta edição da Copa do Mundo está repleta de fatos inéditos. Esta será a primeira vez que a competição acontecerá no final do ano. A mudança se deu por conta do calor escaldante que o país registra nos meses de junho e julho, período em que aconteceu a última edição. Além disso, o Catar é o primeiro país do Oriente Médio a receber a competição.

    A seleção brasileira está no grupo G, junto com Sérvia, Suíça e Camarões. O primeiro jogo está marcado para o dia 24, contra a Sérvia, às 16h, no horário de Brasília. Já no dia 28 de novembro, às 13h, o Brasil enfrenta a Suíça. O último compromisso da fase inicial será contra a seleção de Camarões, no dia 2 de dezembro, às 16h.

    Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay

    Projeto Acadêmico com alunos de Jornalismo da Faculdade Maringá

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