Foto: Carol Coelho/CBAt
Quando Alison dos Santos, o Piu, saiu da casa da mãe em São Joaquim da Barra, no interior de São Paulo, em 2017, para intensificar seus treinos, não esperava ir tão longe no atletismo. Estava em sua mente, sim, ser um atleta de ponta. Mas o velocista medalhista olímpico nos Jogos de Tóquio e campeão mundial dos 400 metros com barreiras neste ano não imaginou que conseguiria resultados expressivos tão cedo, aos 22 anos. Agora que ostenta medalhas e títulos, o plano é correr por mais tempo e mais rápido.
“O céu é o limite. Foguete não tem ré. Vou continuar sonhando. Sempre quero fazer história e aproveitar tudo o que posso”, diz o brasileiro, ouro no Mundial de Atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos, no mês passado. “Agora, eu fui campeão mundial e mostrei que posso sonhar. Não vou me limitar. Posso acreditar que sempre vou correr melhor e ser mais rápido”, reforça o garoto de 2 metros de altura e sorriso fácil no rosto, pronto para brincar e ser ele mesmo em qualquer situação.
O atleta reafirmou o desejo de correr abaixo dos 46 segundos, explicou como a sua estratégia de dar 12 passadas lhe ajuda na prova, comentou sobre a jornada perfeita neste ano, no qual está invicto, e revelou o planejamento para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
Dono da melhor marca dos 400m com barreiras em 2022, ao fazer 46s29 em Eugene, superando os 46s80 anotados por ele mesmo na etapa de Estocolmo da Diamond League e medalhista de Bronze em Tóquio, Piu sonhava que alcançaria “coisas incríveis” com o tempo, mas não delineava uma evolução tão meteórica.
“Se você me perguntasse em 2017 que em 2022 eu viveria o que vivi, acho que não falaria que isso poderia acontecer. Se me falasse que seria medalhista olímpico em Tóquio, diria: ‘acho que não. Em 2024, vou brigar, mas 2021 é muito cedo’. Eu sempre sonhei alto, mas não sabia que seria tão alto assim”, admite.
EVOLUÇÃO EM CICLO ALONGADO
O brasileiro protagonizou uma evolução de quase 10 segundos em um ciclo olímpico um pouco mais alongado. Foi quem mais evoluiu entre todos que disputaram a prova. Saiu de 55s32 em 2016 para perto dos 46s29 seis anos depois. Mas até onde ele pode chegar? Seu desejo é quebrar o recorde mundial que pertence ao norueguês Karsten Warholm (45s94), e, nos seus planos, isso está perto de acontecer, já que entende que correr abaixo de 46s será algo natural.
“Sei que esse recorde mundial não vai permanecer por muito tempo Pensando nisso, a gente pode sonhar alto, tenho a noção de que posso correr abaixo de 46 segundos”, afirma, repetindo que é capaz de melhorar ainda mais seu tempo. “O Warholm abriu as portas e mostrou que isso era possível. Então, se ele conseguiu, por que eu não? Tenho tempo e estou trabalhando para isso”.
Esse evidente progresso no desempenho é resultado de seu aperfeiçoamento físico e, sobretudo, da adaptação do seu jeito de correr naturalmente às necessidades de uma prova que exige técnica e perfeição. A sua altura – 2 metros (1,12m só de pernas), muito acima da média dos corredores, permite que o paulista seja um dos poucos no mundo a percorrer o espaço entre as barreiras com 12 passadas enquanto os outros fazem com 13. Isso garante energia para disparar na reta final, quando os outros já sentem o peso da disputa. A mudança no jeito de correr que começou a ser treinada no fim do ano passado já traz resultados.
“Correr com 12 passadas para mim é uma sensação de liberdade, é como estar correndo sem barreiras porque é um momento que consigo ser rápido no intervalo e consigo crescer naquele intervalo sem me atrapalhar com aquele espaço”, detalha. Depende muito de altura, de flexibilidade, de força, tem muita coisa envolvida nisso”, prossegue Piu, para o qual as 13 passadas não cabem no espaço entre as barreiras.
O CARA A SER BATIDO
Aos 22 anos, o brasileiro já está na história do atletismo nacional e mundial. Não quer dizer, porém, que vai estagnar. Em 2022, está invicto depois de ganhar as etapas da Diamond League de Doha, Eugene, Oslo e Estocolmo. Com isso, tornou-se o cara a ser batido dos 400m com barreiras, o que não vê como uma pressão Ao contrário, é um incentivo, algo que lhe dá confiança para adicionar mais troféus e medalhas à sua galeria.
“Eu entro na pista e penso: ‘independentemente de como os caras correrem, tenho de chegar na frente'”, reflete. “Eu quero manter essa intensidade. Estou competindo bastante. Quanto mais você compete, mais chance tem de perder o resultado, mas não tenho medo disso. Dou o meu melhor sempre para buscar o resultado”.
PARIS-2024
Piu já pensa nos Jogos de Paris. Se conseguiu o bronze em Tóquio, em sua primeira participação numa Olimpíada em uma das provas mais impressionantes da história do atletismo na era moderna, é lógico projetar que brigará pelo ouro na França, daqui a dois anos. O planejamento até lá, segundo ele, “está no limite”.
“Sempre no limite, trabalhando com muita intensidade, mas com consciência”, ressalta. “Sou um atleta jovem. Se eu me machucar é ruim. Confio muito nas pessoas que trabalham comigo. Meu treinador, fisioterapeuta, nutricionista. Eles conhecem meu corpo e fazem o melhor comigo”, emenda o atleta, cuja equipe tem mais de dez membros.
Certo é que até lá ele continuará “xavecando” o momento, como gosta de dizer. Isso significa que quem o acompanhar continuará vendo um cara relaxado, sorridente e descontraído segundos antes das provas. É porque a ideia é sofrer nos treinamentos para se divertir nas competições. “Eu fico nervoso nos treinos. Fico tenso. Quando faço algo novo ou um treino muito forte. Fico ansioso e tenso para saber se vou conseguir e resistir aquilo. Na competição, é festa. É só xavecar o momento e se divertir porque já fiz o trabalho duro”, diz.
*Com informações Estadão Conteúdo.
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