“A tristeza, a compreensão e a desigualdade de nível mental do meu meio familiar, agiram sobre mim de modo curioso: deram-me anseios de inteligência”. Esse é o início da obra Recordações do Escrivão Isaías Caminha (leia aqui o livro já em domínio público), publicado pela primeira vez no ano de 1909 por Lima Barreto (1881-1922), que tem como uma das temáticas os resquícios da escravidão longe de serem superados 21 anos após a Abolição, assinada pela Princesa Isabel.
Analistas da obra veem que o livro de estreia do célebre escritor e jornalista, que morreu com apenas 41 anos de idade, há 100 anos (dia 1º de novembro), trazem referências autobiográficas e recheado dos ideais do artista negro, do pré-modernismo brasileiro, e um dos grandes autores da literatura brasileira.
Uma coincidência é que o autor nasceu, no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881 (sete anos antes da Abolição). As temáticas trazidas por Afonso Henrique de Lima Barreto são comumente elencadas nas discussões sobre o racismo no Brasil.
Ao conhecer mais do trabalho de Lima Barreto, é possível identificar uma das principais vozes na literatura a criticar a desigualdade social brasileira ao discutir inserção na sociedade republicana do começo do século 20.
“Aqueles enormes carros dourados, puxados por quatro cavalos com cocheiros montados e um criado à traseira. A lei de 13 de maio vinha de longe. Era convicção da nação e justiça da escravidão. Não precisava de jornalistas nem evangelizadores para mostrar-lhe a injustiça”.
Lima Barreto sofreu uma série de reprovações na escola. Com as dificuldades financeiras da família, abandonou os estudos. “Dolorosa vida minha”. Ele perdeu a mãe quando tinha apenas sete anos de idade. A tragédia o abalou profundamente. O pai era tipógrafo e ambulante. Por isso, o rapaz precisou parar de estudar para trabalhar e ajudar no sustento dos irmãos mais novos. Foi trabalhar como servidor público, mas sua maior paixão eram as palavras. As colaborações em jornal (A Lanterna) começaram em 1902. Também atuou no jornal humorístico Tagarela.
Lima Barreto, principal escritor do pré-modernismo brasileiro, autor do clássico Triste fim de Policarpo Quaresma, sua obra mais conhecida, situa-se como a voz mais crítica da literatura produzida no Brasil no início do século XX.
O escritor, que se candidatou três vezes a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, recebeu dela, segundo Francisco de Assis Barbosa, apenas uma menção honrosa em 1921. Barreto morreu em 01 de novembro de 1922, vítima de um ataque cardíaco.
Obras de destaque:
Recordações do escrivão Isaías Caminha
Triste fim de Policarpo Quaresma
Numa e ninfa
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá
Os bruzundangas
Clara dos Anjos
Diário Íntimo
Cemitério dos Vivos
Com informações da Agência Brasil / Foto: Marcello Casal-AB
Comentários estão fechados.