Quando a gente pensa em começar um negócio, a pergunta surge quase que de imediato: “Será que é agora?” Muita gente espera pelo dia em que terá a ideia perfeita, o dinheiro completo, o time dos sonhos. Outros se jogam de qualquer jeito, sem planejamento algum, e acabam se perdendo pelo caminho. A verdade, porém, é que não existe um momento mágico, uma espécie de sinal verde universal apontando que está tudo sob controle. E mesmo que esse instante ideal não exista, isso não significa pular no escuro sem noção de direção.
Philip Kotler, renomado como o “pai do marketing”, já defende que o mercado é dinâmico: as necessidades das pessoas mudam, e as oportunidades surgem de forma fluida, sem avisar horário certo. Se você esperasse pela calmaria definitiva para lançar um produto ou serviço, provavelmente jamais começaria — porque sempre vai haver algum obstáculo, algum fator a mais para analisar. Ao mesmo tempo, Kotler não diz para dar um salto cego. Ele enfatiza a importância de conhecer o público-alvo e entender a demanda. Ou seja, você não precisa da “ocasião perfeita”, mas precisa, sim, de um mínimo de base sólida.
Seth Godin, em “Isto É Marketing”, reforça que, antes de pensar no momento, vale entender que as pessoas não compram apenas um produto, e sim o significado que aquele produto carrega. Se o seu negócio resolve um problema real ou conecta o cliente a algo que ele valoriza, há espaço para a iniciativa. Esperar a conjuntura exata pode significar ficar para trás enquanto alguém mais ousado aparece com uma proposta de valor convincente. Por isso, Godin ressalta: não foque tanto no “quando”, foque no “porquê” do seu negócio e em como ele gera valor para uma comunidade de pessoas.
Mas empreender sem qualquer estudo ou planejamento também é perigoso. Sair fazendo por impulso, sem ao menos estudar o cenário, pode resultar em frustração. E quando a frustração vem, surge a vontade de desistir. Planejamento é uma rede de segurança: não garante que nada vai dar errado, mas ajuda a lidar melhor com os tropeços inevitáveis.
Por outro lado, a velocidade das transformações exige do empreendedor uma dose de coragem e adaptabilidade. Se você esperar a tecnologia se estabilizar, o cenário econômico melhorar ou a concorrência enfraquecer, talvez nunca entre em campo. E, pior, pode deixar escapar o momento propício para surfar em ondas inovadoras. Por isso, o debate sobre “quando empreender” não deve se basear em esperar a perfeição, mas em construir flexibilidade e prontidão para os desafios.
Vale lembrar também que quem vive na esfera do “e se” jamais avança. David Eagleman, autor de “Como o cérebro cria”, fala do potencial criativo que surge quando abraçamos o risco e testamos possibilidades. Empreender envolve essa aposta consciente: você coloca sua ideia no mundo, observa a reação, ajusta o rumo e segue aprendendo. Assim, mesmo que surjam erros, eles não se transformam em fracasso definitivo, mas em parte do processo de desenvolvimento.
Além disso, um ambiente favorável à inovação tem espaço para o erro. Isso indica que até as grandes companhias entenderam que não existe um cenário isento de imprevistos. O que faz diferença é a cultura que se estabelece: aquela em que o fundador e sua equipe estão prontos para se reinventar, confiantes de que o mercado muda e dispostos a mudar junto com ele.
Então, se o momento certo não existe, qual seria o caminho? Talvez a resposta resida num equilíbrio. Um pé na análise, outro na coragem. Você planeja, pesquisa, organiza as finanças e calibra sua ideia para não cair na armadilha de esperar um milagre. Ao mesmo tempo, reconhece que nunca terá garantia de sucesso, porque mercado e inovação são variáveis em constante movimento.
E, no fim, talvez o melhor critério seja avaliar a sua disposição interna: você está preparado para aprender com falhas, corrigir rotas e persistir, mesmo quando surgem contratempos? Se a resposta for sim, pode ser que esse seja o seu momento certo. Não porque tudo está perfeito, mas porque você decidiu construir o caminho a cada passo, em vez de ficar parado à espera de um sinal que provavelmente nunca virá.
Comentários estão fechados.