Tempo estimado de leitura: 6 minutos
Você já percebeu como, às vezes, a empolgação de tirar uma ideia do papel nos cega para certos riscos? Empreender pela primeira vez pode ser uma montanha-russa de expectativas, e é justamente nos momentos iniciais que muitos tropeçam em erros evitáveis. Não se trata apenas de falta de experiência, mas de não enxergar aspectos que, no calor do entusiasmo, acabam ficando em segundo plano. E, quando a realidade chega, a frustração pode ser grande.
Um dos grandes tropeços está na ilusão de que “apaixonar-se pela ideia” basta para garantir sucesso. É ótimo ter aquele brilho nos olhos, mas, como aponta Carol Dweck em seus estudos sobre mentalidade de crescimento, a paixão precisa vir acompanhada por abertura para aprender. Se você não estiver disposto a rever o modelo de negócio, receber críticas e ajustar a rota, a paixão sozinha pode acabar sendo um barco à deriva. Muitos empreendedores de primeira viagem mergulham de cabeça num plano que só faz sentido dentro da própria cabeça, sem ouvir potenciais clientes ou validar se, de fato, há mercado para o que oferecem.
Apressar o lançamento é outro risco sério. Há quem queira estar no mercado rapidamente, seja por ansiedade ou por acreditar que o timing é tudo. Mas, ao atropelar etapas, surgem problemas que poderiam ter sido detectados em testes iniciais, pesquisas de campo ou protótipos mais simples. David Eagleman, no livro “Como o Cérebro Cria”, reforça que inovações sólidas geralmente passam por um processo de tentativa e erro. Se você não reconhece o valor desse período de testes e ajustes, pode colocar em risco toda a viabilidade do negócio.
Também não dá para ignorar as “invisíveis” dificuldades emocionais e psicológicas. É comum subestimar o quanto a jornada de um novo negócio consome energia. Inúmeros fundadores acabam atolados em tarefas administrativas, preocupados com fluxo de caixa e assoberbados pela pressão de dar conta de tudo. O resultado? Stress, dificuldade para dormir e desmotivação. Empreender exige uma postura parecida com a de um maratonista: você precisa ter fôlego a longo prazo. Quem não cuida do próprio equilíbrio logo se vê exausto. E quando a cabeça não está bem, as decisões tendem a ser ruins ou precipitadas.
A falta de organização financeira, por si só, já é devastadora. Separar as contas pessoais das contas da empresa parece óbvio, mas muita gente esquece ou deixa “para depois”. O problema é que “depois” pode ser tarde demais. Ed Catmull, em “Criatividade S/A”, narra como a vontade de inovar deve caminhar junto da atenção aos recursos, para que o sonho não vire um pesadelo de dívidas. Além disso, estimar gastos e receitas é fundamental. Não adianta apostar na sorte, esperando que o faturamento resolva tudo ao final do mês. O empreendedor consciente procura prever oscilações e criar uma reserva de emergência para tempos de crise ou baixa procura.
Outro ponto que costuma passar despercebido é a importância de construir relacionamento e valorizar conexões. Há quem ache que marketing é apenas divulgar nas redes sociais ou pagar um anúncio aqui e ali. Mas o marketing poderoso brota das conexões humanas. Parceiros, fornecedores, clientes e até concorrentes podem ensinar muito, desde que você se abra a essas relações. Klaus Schwab, ao falar sobre a Quarta Revolução Industrial, destaca que o mundo atual se baseia em redes de colaboração para inovar. Se o seu negócio fica isolado, torcendo para que as pessoas cheguem até você sem esforço, dificilmente vai crescer ou mesmo se manter num cenário competitivo.
E vale destacar: errar não precisa ser motivo de vergonha, mas ignorar os erros pode ser fatal. É no reconhecimento das falhas que você descobre onde e como melhorar. Empreender não é seguir uma cartilha, e sim mergulhar num processo constante de aprendizado. Cada “vacilo” tem potencial para se transformar em insight valioso, se você tiver a disposição para analisar o que deu errado e o que pode ser feito de forma diferente. O fracasso, nessa perspectiva, vira um degrau para quem se permite aprender.
Então, por que tantos desistem no meio do caminho? Porque vão acumulando pequenos descuidos que, somados, formam uma barreira intransponível. Falta de planejamento, pressa no lançamento, finanças confusas, isolamento no mercado — tudo isso corrói a base do empreendimento, até que a estrutura não aguente mais. A questão, portanto, não é se você vai cometer erros, mas como vai lidar com eles. Se permitir enxergar esses tropeços como parte de um processo maior de amadurecimento faz toda a diferença entre alguém que fecha as portas sem entender o que aconteceu e aquele que, apesar dos solavancos, se mantém firme e cresce.
É provável que, em algum momento, você se depare com uma dessas ciladas — ou com todas elas. Quando isso acontecer, lembre-se de olhar para dentro: o que está deixando de ser escutado ou analisado? Ajustar a rota não é sinal de fraqueza, mas de inteligência. E, muitas vezes, a resposta para superar esses erros está menos na teoria e mais no exercício prático de voltar um passo, respirar e tentar de novo com mais consciência. Afinal, empreender é aventura, mas não precisa ser um salto no escuro. A cada queda, você tem a chance de levantar com um olhar mais atento, pronto para corrigir o rumo e continuar avançando. E talvez aí resida a grande beleza desse caminho.
Comentários estão fechados.