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A artista plástica e pesquisadora Sandra Marchi desenvolveu um sistema tátil que permite a identificação de cores por pessoas com deficiência visual. O projeto, chamado See Color, é fruto de uma pesquisa de doutorado realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e busca oferecer uma nova forma de acesso à linguagem das cores a partir do tato.
O sistema utiliza códigos em relevo baseados na posição dos ponteiros de um relógio. A cor vermelha, por exemplo, é representada pela posição das 12 horas. A lógica facilita a memorização e possibilita a diferenciação de tonalidades, como claro, escuro ou metálico. A proposta surgiu durante a participação de Sandra em um projeto nacional de Tecnologias Assistivas, que reúne diversas instituições de ensino superior.
O método foi criado como alternativa ao Braille, cuja aplicação em objetos do cotidiano é limitada e cujo aprendizado pode ser mais difícil para quem perdeu a visão na vida adulta. Segundo o IBGE, mais de 6,5 milhões de brasileiros têm algum grau de deficiência visual, sendo cerca de 500 mil cegos e aproximadamente seis milhões com baixa visão.
Com a criação do See Color, também foram desenvolvidos kits pedagógicos voltados à educação inclusiva. Os materiais permitem o ensino do sistema para crianças, jovens e adultos, além de professores e instituições especializadas. O conteúdo inclui um painel tátil com organização de cores, símbolos em relevo e QR Code para materiais complementares.

O sistema já é utilizado em oficinas realizadas em diversas regiões do país. Na cidade de Borba, no Amazonas, a estudante Dilma Lopes, que perdeu a visão aos 13 anos, conseguiu identificar cores pela primeira vez com o See Color. Em Erechim (RS), o músico Tiago Bicz, cego total, passou a usar o método em atividades diárias. Segundo ele, o sistema “traz autonomia e independência”.
Na área da educação, os testes com o kit pedagógico mostraram boa aceitação entre estudantes. Em algumas turmas, alunos sem deficiência vendaram os olhos para experimentar a leitura tátil, o que reforçou o caráter inclusivo da proposta.
Apesar da repercussão positiva, o projeto ainda enfrenta dificuldades para ser ampliado em larga escala. Sandra Marchi pretende criar um instituto para consolidar a iniciativa e buscar parcerias para expandir o acesso ao método.
Reconhecido no Brasil e no exterior, o See Color recebeu em 2024 o IUAD Award – Bronze, da International Association of Universal Design (IAUD), no Japão. Entre os prêmios nacionais estão o Prêmio Viva Inclusão, Prêmio Empreendedora Curitibana, Prêmio Curta Ciência e Prêmio Sérgio Mamberti, do Ministério da Cultura.
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Oficina do See Color na Associação dos Deficientes Visuais de Erechim – Adeve (Foto/Arquivo pessoal)